sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Brincar; um direito das crianças.



( Publicado originalmente como DICAS nº 22 em 1994 )


As brinquedotecas facilitam o acesso das crianças ao direito de brincar e se desenvolver, sem exigir investimentos elevados.


Nos últimos anos, têm-se assistido a mudanças nos padrões do que é oferecido às crianças em relação ao ato de brincar. Na vida escolar e no cotidiano das crianças há cada vez menos tempo para a brincadeira.


Os brinquedos industrializados e a televisão ficaram mais importantes que as brincadeiras baseadas na criatividade e nas interações sociais. O empobrecimento das famílias leva muitas crianças a trabalhar mais cedo ou impede a aquisição de brinquedos. As mudanças no uso e na ocupação do solo urbano, a expansão da violência e as alterações nas relações sociais reduziram o espaço físico disponível para as crianças, especialmente nas cidades de maior porte.


A brincadeira não é um mero passatempo, ela ajuda no desenvolvimento das crianças, promovendo processos de socialização e descoberta do mundo.


É possível superar os problemas existentes e oferecer melhores condições de desenvolvimento às crianças, ampliando e valorizando o espaço e as oportunidades de brincadeira. O governo municipal, por estar próximo do cotidiano da comunidade, tem condições de participar deste esforço de forma decisiva. O principal instrumento é a brinquedoteca.

A BRINQUEDOTECA


A brinquedoteca é mais que um simples depósito de brinquedos. Seu
objetivo é estimular a criança a brincar, oferecendo-lhe um acervo de
brinquedos e brincadeiras de diversos tipos, através de pessoal
treinado para este atendimento.


Há duas formas básicas de organizar a brinquedoteca para possibilitar
o acesso das crianças aos brinquedos: através de empréstimo, para
brincar em casa (brinquedoteca circulante) ou então oferecendo
instalações onde as crianças vão brincar.


A brinquedoteca, além de promover o acesso a brinquedos e a
brincadeiras, pode ter também como objetivo o auxílio no tratamento
de crianças hospitalizadas, quando instalada em um hospital, por
exemplo.


Locais onde os adultos normalmente levam as crianças, como igrejas e
shopping centers, também podem ter brinquedotecas: as crianças ficam
brincando enquanto seus pais realizam outras atividades.


O tipo de brinquedo, as atividades, as instalações, o atendimento e
os serviços prestados pela brinquedoteca variam de uma situação para
outra. As necessidades e características do público a ser atendido
devem ser observadas com cuidado no processo de planejamento da
implantação da brinquedoteca (ou rede de brinquedotecas) pois
determinarão a configuração do espaço, o acervo, o treinamento do
pessoal e as atividades realizadas. Uma brinquedoteca para crianças
portadoras de deficiência mental, por exemplo, será diferente de uma
brinquedoteca instalada em um centro comunitário ou em uma pré-escola.

O espaço ocupado pela brinquedoteca pode ser simples ou sofisticado.
O importante é que, através das instalações, móveis, decoração e
disposição dos brinquedos, as crianças sintam vontade de brincar e de
se expressar, individualmente ou em grupos. Ou seja, deve estimular a
criatividade e as práticas sociais.


IMPLANTANDO

O primeiro passo para a implantação de uma brinquedoteca é definir
quais serão seus objetivos e o público a ser atingido. Em função
disso será possível definir as atividades a serem realizadas, o local
de instalação, suas normas de funcionamento, o acervo a ser
adquirido, o perfil dos profissionais e o treinamento que receberão.


É imprescindível realizar uma pesquisa sobre as condições de vida e
os hábitos de brincar das crianças com as quais se pretende trabalhar
para nortear o planejamento da implantação e a definição das
atividades.


Aprofundando-se as pesquisas, pode-se fazer um levantamento das
tradições culturais locais, relacionadas à atividade de brincar.


A prefeitura não precisa, necessariamente, operar todas as
brinquedotecas que pretenda instalar no município. É possível
instalar brinquedotecas em entidades que normalmente realizam algum
tipo de atendimento à população infantil (creches, escolas, postos de
saúde e hospitais).


Através de um Programa de Brinquedotecas, a prefeitura pode orientar
a instalação, adquirir brinquedos, ceder funcionários ou treinar os
trabalhadores das entidades. Além destas atividades de suporte, ela
deve se organizar para fornecer orientação e supervisão da operação
da brinquedoteca, depois de instalada. Indo além, mesmo as
brinquedotecas de caráter totalmente privado podem receber orientação
e supervisão dos órgãos municipais de educação ou das equipes das
brinquedotecas municipais.


Não se deve dispensar a presença de profissionais especializados para
a operação da brinquedoteca. A prefeitura pode contratar funcionários
para sua operação ou treinar pessoal já disponível, como professores
e agentes de educação infantil.


RECURSOS

A implantação de uma brinquedoteca é possível com pequenos
investimentos que variam em função do tamanho do seu acervo e das
instalações. Além do espaço para as brincadeiras, deve haver espaço
para sanitários, depósitos e administração. O espaço para as crianças
pode ser composto de várias salas ou de um único salão, dividido em
vários ambientes ou "cantos" para atividades diferentes, através de
tapetes, tipos de piso, divisórias ou pela disposição da mobília e
dos brinquedos.


A montagem da brinquedoteca pode ser realizada com apoio de entidades
filantrópicas e de empresas. Este apoio pode se estender não só à
doação de brinquedos e equipamentos, mas também ao empréstimo de
instalações e orientação na implantação do projeto e no treinamento
de funcionários.


Uma vez instalada, a brinquedoteca não apresenta custos elevados de
operação. O principal item normalmente é o custo de pessoal. É
preciso reserva de recursos para material de escritório, limpeza,
energia elétrica, água e também para assepsia e reforma de brinquedos.


EXPERIÊNCIAS

As primeiras experiências de brinquedoteca ocorreram em Los Angeles-
EUA, em 1934, com empréstimo de brinquedos a crianças que não podiam
comprá-los.

Na Suécia, em 1963, iniciou-se uma experiência voltada às crianças
excepcionais, com empréstimo de brinquedos e orientação às famílias.
A partir daí, a experiência difundiu-se pelo mundo e se ampliou,
incorporando também a criação de espaços para brincar em hospitais,
centros comunitários, escolas e associações.

No Brasil, a primeira brinquedoteca foi montada pela APAE, em 1973,
voltada a crianças portadoras de deficiência mental. Após esta
experiência pioneira, as brinquedotecas multiplicaram-se no país.
Grande parte delas foi implantada e é operada por entidades da
sociedade civil e por escolas. Algumas prefeituras mantém
brinquedotecas em creches, escolas ou em instalações específicas,
como as de Araçatuba-SP (160 mil hab.) e Ourinhos-SP (77 mil hab.).
Em Uberaba-MG (212 mil hab.) e Brasília-DF (1.601 mil hab.), há
brinquedotecas mantidas por fundações culturais (#veja DICAS nº 18).


A Fundação ABRINQ pelos Direitos da Criança - telefone (011) 881-4219
- vem desenvolvendo o projeto O Direito de Brincar: A Brinquedoteca.
Em 1993 e 1994, apoiou 40 brinquedotecas, com cursos e seminários
especializados, além de oferecer assessoria e uma biblioteca
especializada no tema. A fundação cadastra brinquedotecas -
gratuitamente - para, através de um convênio com lojistas, obter 20%
de desconto na compra de brinquedos.


RESULTADOS

A brinquedoteca contribui para o processo de socialização das
crianças, oferecendo-lhes oportunidades de realizar atividades
coletivas livremente. A interação entre crianças e adultos, abre-lhes
oportunidades de conhecer novos aspectos do mundo.


A brinquedoteca pode, também, ter efeitos positivos para o processo
de aprendizado, através de jogos, brinquedos e brincadeiras que
estimulem o desenvolvimento de habilidades básicas e aquisição de
novos conhecimentos.


Não descartando a importância da orientação e do estabelecimento de
diretrizes pedagógicas para a operação da brinquedoteca, vale lembrar
que mesmo a oportunidade de brincar livremente já traz efeitos
positivos para o desenvolvimento das crianças.


As brinquedotecas terapêuticas têm apresentado bons resultados no
tratamento de crianças portadoras de distúrbios de comportamento e
deficiências mentais ou físicas. O uso da brinquedoteca tem
registrado resultados positivos também para tratamento e recuperação
de crianças internadas em hospitais.


A brinquedoteca é também um espaço de formação de educadores, pois
oferece condições de interação e observação das crianças. Estudantes
de pedagogia ou magistério, devidamente acompanhados e orientados,
podem ser aproveitados como mão-de-obra para algumas das atividades.


Num país como o Brasil, a brinquedoteca é importante também por
permitir que as crianças mais pobres tenham acesso a brinquedos e a
espaços para brincar.


O uso em comum dos brinquedos ajuda a desestimular o sentimento de
posse e de consumo. Neste sentido, contribui para a formação dos
cidadãos em bases democráticas e de respeito aos valores sociais e
coletivos.

Através da criação de um Conselho de Gestão, formado por
funcionários, pais e pelas próprias crianças, pode tornar-se um ponto
de referência de ação com a comunidade.


Quando utiliza brinquedos e brincadeiras tradicionais, a
brinquedoteca resgata e preserva o patrimônio e a identidade cultural
da sociedade.



Texto enviado por Anatália Matos em 04/08/2004 ao grupo Paixão de Educar.

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