sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Medo do escuro



Era uma vez uma estrela que tinha medo do escuro.
— Imagine! — dizia a mãe, uma estrela grande e brilhante.
— Imagine! — exclamava o pai, um estrelão.
— Imagine! — repetia o Sol, o chefe das estrelas.
Mas o caso é que aquela estrelinha tinha medo do escuro. Ela ficava o tempo todo dentro das nuvens, com a luz acesa e vendo televisão.
Quando o Sol ia dormir, ele apagava a luz e abria a porta da noite, por onde as estrelas deviam entrar.
— Vamos — dizia a mãe da estrelinha.
— Vamos — repetiam as outras estrelas.
— Vamos! — ordenava o estrelão, com sua voz grossa.
Mas ela não ia, ficava de luz acesa, às vezes chupando o dedo, com muito medo do escuro.
Então, chamaram a Lua.
A Lua era assim muito jeitosa para falar com as estrelinhas, sabia contar histórias, sabia falar macio, com uma voz que parecia música.
E ela foi falar com a estrela que tinha medo do escuro.
— Vamos — chamou a Lua.
E chamou de um jeito tão doce que a estrelinha olhou pra lua. Mas não se mexeu.
— Olha — disse a lua. — Você é uma estrela. E as estrelas devem brilhar.
— Mas eu tenho medo do escuro! — disse a estrelinha.
— Mas o escuro é que foge de você! — disse a Lua.
— Como assim? — perguntou a estrelinha.
— Quer ver? — disse a lua.
E tomou a estrelinha pela mão e saiu do meio das nuvens e entrou pela porta da noite.
A estrelinha ia andando e, como não podia deixar de brilhar, o escuro ia ficando cada vez mais longe.
Quanto mais ela andava, para mais longe o escuro ia.
— Eu não disse? — falou a lua. — O escuro foge de você.
A estrelinha sorriu e não teve mais medo.


Antônio Carlos Pacheco 

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