O livro “Brincar na pré-escola”, traz as observações da autora sobre a brincadeira infantil, tendo como campo de pesquisa uma escola da rede pública da cidade de São Paulo. A obra é composta por seis capítulos nos quais Gisela descreve o processo pelo qual elaborou sua dissertação de mestrado apresentada à PUC de São Paulo no ano de 1990.
A obra
citada tem como objetivo compreender a origem e a natureza da brincadeira
infantil e como esta ocorre nas pré-escolas.
A autora
explicita suas inquietações quanto ao espaço que a escola reserva ao brincar,
de que forma o professor intervem na brincadeira infantil e como as crianças
brincam. Concebe a brincadeira como um fator histórico cultural e, a partir do
pensamento de Vygotsky, aprofunda sua análise sócio-histórica da brincadeira,
entendida como atividade social da criança, cuja natureza e origem são
elementos fundamentais para a construção de sua personalidade e compreensão da
realidade na qual está inserida.
Aspectos históricos do brincar,
bem como uma concepção de brincadeira como fuga ou recreação atrelada à imagem
da infância desprovida de um comportamento infantil espontâneo que pudesse
significar algum valor em si, são temas abordados no 2º capítulo pela autora.
No decorrer do mesmo, Gisela aponta as contribuições do pensamento de Fröebel,
Montessori e Decroly para a superação da concepção tradicionalista de ensino,
inaugurando um período histórico onde, segundo ela, as crianças passaram a ser
respeitadas e compreendidas enquanto seres ativos.
Ainda neste
capítulo, Wajskop utiliza o termo “didatizar a brincadeira” para explicar que,
em algumas prática docentes, a brincadeira é utilizada de forma
descontextualizada dos processos cognitivos e históricos experienciados pelas
crianças, tornando-se materiais didáticos como fins em si mesmos.
Para
definir a brincadeira, a autora cita Brougère, “a brincadeira é uma mutação de
sentidos da realidade: nela, as coisas transformam-se em outras. É um espaço à
margem da vida cotidiana que obedece as regras criadas pelas circunstâncias.
Nela, os objetos podem apresentar-se com significado diferente daquele que
possuem normalmente”. (1989 a:35 apud Wajskop, p. 29, 2005).
Para
Wajskop, a garantia do espaço da brincadeira na pré-escola é a garantia de uma
possibilidade de educação da criança em uma perspectiva criadora, voluntária e
consciente. Ao brincarem, as crianças vão construindo a consciência da
realidade, ao mesmo tempo em que já vivem uma possibilidade de modificá-la.
(p.33). A brincadeira é uma situação privilegiada de aprendizagem infantil onde
o desenvolvimento pode alcançar níveis mais complexos, exatamente pela
possibilidade de interação entre os pares em uma situação imaginária e pela
negociação de regras de convivência e de conteúdos temáticos.
A autora
descreve minuciosamente o estudo de uma classe de pré-escola que funciona no
interior de uma escola estadual de 1º e 2º graus, bem como as atividades
desenvolvidas pelas crianças e o material de análise por ela obtido.
Para
atingir o objetivo de compreender o espaço que a instituição educacional tem
reservado à brincadeira infantil Wajskop optou por uma pesquisa qualitativa,
que garantisse um contato direto e prolongado com o cotidiano dos alunos, pais,
professores e funcionários.
No 4º
capítulo, a autora cita um momento único de subjetividade, no qual, muitas
vezes, conceitos pré-estabelecidos impedem uma análise racional e objetiva dos
dados.
“Neste
percurso, surpeendi-me fazendo análises preconceituosas e apressadas e nesses
momentos procurei rever-me; descobri o lado humano e contraditório da
professora, compreendendo e respeitando suas dificuldades. Ao mesmo tempo,
refiz hipóteses, reelaborei a teoria, relativizando os pressupostos iniciais”.
(WAJSKOP, 2005. p.44)
As observações
da autora trazem à tona questões como a prática individual e solitária dos
professores, que segundo ela “evidencia um círculo vicioso criado na estrutura
e organização escolar na qual a escola não fornece condições de trabalho que
garantam a socialização de informações e que os profissionais não se sentem com
força suficiente para quebrar esse esquema”. (p.50)
A partir da
análise das ações docentes, Wajskop aponta que os docentes entendem a
brincadeira como uma característica biológica infantil e que se desenvolvem
naturalmente, porém, suas ações dizem o contrário. Segundo a autora, fica
evidente que, apesar de acreditar, como ilusão pedagógica, na importância da
brincadeira para o desenvolvimento de seus alunos, a professora não interferia
pedagogicamente diante deles. (p.58)
A autora
observa o controle do professor na maioria das situações tidas como “de
aprendizagens”, cita desde à distribuição de atividades até a interferência e
ruptura na fala das crianças, estabelecendo, também, um controle e organização
do tempo como elemento estruturante da situação escolar.
Wajskop
tece críticas à forma como o silêncio, a organização infantil na utilização do
material e o cumprimento dos prazos colocados pela professora, transformam o
conteúdo das atividades e omitem, à percepção docente, dúvidas e pesquisas
ocorridas durante as interações dos alunos.
Quanto à
brincadeira infantil, neste capítulo a autora chama a atenção para o fato da
brincadeira dos meninos ser mais corpora e das meninas, mais verbal chamando a
atenção para a atitude da professora mediante essas brincadeiras, elogiando e
incentivando as brincadeiras das meninas que, segundo Gisela revelavam um
autocontrole esperado socialmente, e reprimindo a dos meninos.
A autora
tece críticas à concepção compensatória de ensino e aprendizagem que prioriza,
no cotidiano escolar, atividades dirigidas e gráficas como conteúdos do
trabalho docente. Segundo Wajskop, a
concepção inatista e biológica da brincadeira cria uma dicotomia entre brincar
e trabalho, sendo que este último aparece como treino de habilidades para o
futuro, em uma dimensão de eficácia e produtividade.
Em suas
observações, ela cita a forma como a professora orienta a atividade proposta,
valendo-se da ludicidade para alienar e iludir a realidade, falseando-a como
instrumento didático. Para a autora o problema que se coloca com relação a esse
tipo de encaminhamento pedagógico e de utilização da brincadeira infantil é o
grau de aprendizagem real que resulta para as crianças. Dessa forma, as necessidades
reais de aquisição de conhecimentos pelas crianças não definem os conteúdos dos
exercícios, estes últimos é que agem como bloqueio a uma possível busca de
conhecimento pelas crianças. (p. 84/85)
As
constatações da autora mediante as atividades foi que a escola, através da ação
docente, não garante tempo nem espaço para que se criem situações imaginárias
para o desenvolvimento do pensamento abstrato. Para ela, a prática pedagógica
rotinizada, ritualizada, repetitiva e cerceadora da criação infantil demonstra
as necessidades de compreensão, controle e elaboração de conhecimentos sociais
por parte das crianças que utilizam a brincadeira como forma de ação na
realidade. (p. 92 e 95)
Para a
autora, na escola, a riqueza da imaginação infantil sofre o obstáculo dos
limites da professora e da situação na qual está inserida. (p.102)
A obra traz
o confronto das hipóteses com as quais a autora iniciou sua pesquisa e a
realidade com que se deparou. A idéia de brincadeira com a qual a autora
iniciou sua pesquisa apresenta características de
aleatoriedade e indeterminação com as quais, segundo ela, a instituição não
sabe trabalhar. Para Wajskop, o caráter de indeterminação põe em risco o papel
do professor, que controla os passos e as respostas das crianças diante das
tarefas propostas.
Quanto ao
espaço a autora faz observações de sua amplitude e das possibilidades de
estímulo que ele oferece, porém, tece críticas ao uso restrito desse espaço
impossibilitando as atividades lúdicas. Para ela, a carência da escola e as
limitações do professor em compartilhar com seus alunos sua curiosidade e
desejos transformaram a didática e as propostas pedagógicas em elementos de
restrição e bloqueio para o desenvolvimento infantil. (p.111)
De acordo
com Wajskop, a brincadeira deve ocupar um espaço central na educação infantil,
sendo o professor figura fundamental para que isso aconteça, partilhando das
brincadeiras das crianças, pois através das ações do professor, a criança
poderá aceder às culturas e modos de vida adultos de forma criativa, social e
partilhada. Estará, ainda, transmitindo valores e uma imagem da cultura como
produção e não apenas consumo.
No entanto,
não há de se culpar o professor por suas atitudes, pois para Wajskop, tanto
professores quanto crianças encontram-se emaranhados na teia didática
construída. Ela, vítima das circunstâncias, sinalizando socorro para sair da
solidão; os alunos resistindo como podem às estruturas cotidianas.
Muito boa a resenha. Qual é o ano do livro?
ResponderExcluirAmigo o ano de publicação é 2002 . Obrigada pelo comentário e seja feliz.
ExcluirOi ,qual foi a publicação da 6 adição ? Agradecida
ResponderExcluirO ano foi de 2007.
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