Profª Nylse Cunha
Presidente da Associação Brasileira de Brinquedotecas
A maneira como as crianças tratam os brinquedos está relacionada com a forma
como os receberam.
A criança sente quando está recebendo um brinquedo por razões subjetivas do
adulto, que, muitas vezes, compra o brinquedo que gostaria de ter tido, que lhe
dá status, que vai comprar o afeto ou servir como recurso para livrar-se da
criança por um bom espaço de tempo.
A forma de introduzir o brinquedo à criança é importante. Em certas situações,
pode apenas ser colocado no ambiente que a criança vai explorar; outras vezes
precisa ser apresentado a ela, e mostradas as possibilidades de exploração que
oferece. De qualquer maneira, é indispensável que a criança seja atraída por
ele.
Olhos para ver
O
adulto transmite à criança uma certa forma de "ver" as coisas. Quando
apresentamos várias coisas ao mesmo tempo, ou então, por tempo insuficiente ou
excessivo, estamos desestimulando o estabelecimento de uma atitude de
observação.
Se quisermos que a criança aprenda a observar, se quisermos que ela realmente
veja o que olha, teremos que escolher o momento certo para apresentar-lhe o
objeto, motivá-la e dar-lhe tempo suficiente para que sua percepção penetre o objeto;
teremos também que respeitar o seu desinteresse. Insistir quando a criança já
está cansada é propiciar o aparecimento de certas reações negativas.
Aprender a ver é o primeiro passo para o processo de descoberta.
É o adulto quem pode proporcionar oportunidades para a criança ver coisas
interessantes, mas é indispensável que respeitemos o momento de descoberta da
criança para que ela possa desenvolver sua capacidade de concentração.
Assim como a criatividade da pessoa que interage com a criança poderá torná-la
criativa, a paciência e a serenidade do adulto influenciarão também o
desenvolvimento da capacidade de observar e de concentrar a atenção.
"Brinca com
a gente..."
Brincar junto reforça os laços afetivos. É uma maneira de manifestar nosso amor
à criança.
Todas as crianças gostam de brincar com os pais, com a professora, com os avós
ou irmãos mais velhos.
A participação do adulto no jogo da criança eleva o nível de interesse, pelo
enriquecimento que proporciona; pode também contribuir para o esclarecimento de
dúvidas referentes às regras do jogo.
A criança sente-se ao mesmo tempo prestigiada e desafiada quando o parceiro da
brincadeira é um adulto. Este, por sua vez, pode levar a criança a fazer
descobertas e a viver experiências que tornam o brinquedo mais estimulante e
mais rico em aprendizado.
Através da observação do desempenho das crianças com seus brinquedos podemos
avaliar o nível de seu desenvolvimento motor e cognitivo. Dentro da atmosfera
lúdica, manifestam suas potencialidades e, ao observá-las, poderemos enriquecer
sua aprendizagem, fornecendo, através dos brinquedos, elementos nutrientes para
seu desenvolvimento.
Devemos aproveitar esses momentos utilizando palavras adequadas, escutar as
próprias palavras para verificar se estamos falando claramente e procurar
responder por observações, pergunta e ações. Não colocar informações novas em
excesso para que a criança possa aprender o que ouve; adaptar as frases ao
nível da compreensão da criança, mas sem infantilizá-las.
O adulto que interage pode despertar a atenção e a compreensão da criança,
enriquecendo seu brincar. Mas é imprescindível que antes de mais nada se
observe como ela está brincando para respeitá-la, respeitando sua iniciativa,
suas preferências, seu ritmo de ação e suas regras de jogo.
Não se deve interromper a concentração de uma criança que brinca, seria um
sacrilégio. O momento em que ela está completamente absorvida pelo brinquedo é
um momento mágico e precioso, em que esta sendo exercitada uma capacidade da
maior importância, da qual depende sua eficiência quando adulto, que é a
capacidade de observar e manter a atenção concentrada.
A criança deve explorar livremente o brinquedo, mesmo que a exploração não seja
a que esperávamos. É preciso cuidado para que a intervenção do adulto não
interrompa a linha de pensamento da criança e não atrapalha a simbolização que
estava fazendo.
Para preservar a ludicidade, o adulto deve limitar-se a sugerir, a estimular, a
explicar, sem impor determinada forma de agir. Que a criança aprende a utilizar
o jogo descobrindo e compreendendo, e não por simples imitação.
Por ser importante que as atividades envolvam operações do pensamento, que
solicitem a imaginação,a criatividade, e que possibilitem a descoberta, é
necessária participação eventual do adulto. A criança precisa de alguém que
escute e que a motive a falar, pensar e a inventar. Precisa tanto de atividades
grupais que a levem a sociabilizar-se quanto de atividades individualizadas que
possibilitem o atendimento às suas necessidades pessoais.
E quando a atividade tiver que ser interrompida, deve dar-se um tempo para a
transição e mudança de atividade. Não podemos violentar a criança invadindo
bruscamente o seu mundo.
"Brinque....mas
depois você tem que arrumar tudo."
Esta
frase antipática certamente tem uma justificativa, porém existem formas bem
mais eficazes de fazer com que a criança adquira hábitos de ordem.
A arrumação dos brinquedos, colocada nestes termos, assume caráter punitivo,
que irá provocar má vontade na hora de guardá-los.
O hábito de guardar os brinquedos com cuidado pode ser desenvolvido através da
participação da criança na arrumação feita pelo adulto. Quando os pais ou a
professora têm o hábito de, constantemente e naturalmente, guardar as peças com
carinho depois de utilizá-las, automaticamente a criança adquire e aprende que
zelar pela ordem e conservação do brinquedo é normal, e pode haver satisfação
em guardar como houve no brincar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário