Costuma-se
pensar na brincadeira e no jogo como atividades humanas relacionadas â infância.
O brincar tem sido definido por vários autores como o trabalho da criança. Na realidade,
o jogo e a brincadeira não se restringem somente à infância, embora predominem
neste período.
O ser
humano caracteriza-se como espécie animal não apenas capaz de executar atividades
meramente repetidas através dos tempos, mas de transformá-las continuamente
pelo próprio processo de repetição. A atividade humana é historicamente constituída,
modificando o indivíduo que, por sua vez, a modifica pelos resultados das próprias
ações. Deste modo, não há um protótipo de atividade que ocorra em determinada fase
da vida do ser humano, mas sim formas de atividade que mantêm relação íntima
com os fatores que compõem o meio no qual ela é gerada e que ocorrem com
freqüências variadas, segundo o período de desenvolvimento do homem.
O
termo "brincar" serve para designar o conjunto de atividades que se
assemelham entre si por seu caráter lúdico. Geralmente os termos mais
utilizados para se referir a esta forma de atividade são "jogo" ou
"brincadeira". As definições para jogo e brincadeira variam de uma
área do conhecimento a outra e mesmo entre teóricos de uma mesma área. Na
Psicologia,
por exemplo, o termo "jogo" é o mais utilizado, referindo-se a várias
modalidades de ação que a criança realiza ao brincar, as quais, embora tenham
em comum a ludicidade, apresentam tais especificidades, de modo que não se pode
falar genericamente de jogo infantil.
Brincar
é uma atividade universal, encontrada nos vários grupos humanos, em diferentes períodos
históricos e estágios de desenvolvimento econômico. Evidentemente, as várias modalidades
lúdicas não existem em todas as épocas e também não permanecem imutáveis
através dos tempos. Como toda atividade humana, o brincar se constitui na interação
de vários fatores que marcam determinado momento histórico sendo transformado
pela própria ação dos indivíduos e por suas produções cultural e tecnológica.
Os jogos e as brincadeiras são, assim, transformados continuamente.
É
importante destacar que o brincar, enquanto atividade, tem nitidamente dois
sentidos: um antropológico e outro psicológico.
A
brincadeira e o jogo são processos que envolvem o indivíduo e sua cultura, adquirindo
especificidades de acordo com cada grupo. Eles têm um significado cultural
muito marcante, pois é através do brincar que a criança vai conhecer, aprender
e se constituir como um ser pertencente ao grupo, ou seja, o jogo e a
brincadeira são meios para a construção de sua identidade cultural.
Enquanto
ações humanas, o jogo e a brincadeira são também situações de construção de significado,
de indagação e transformação do próprio significado. Longe de promover unicamente
uma conquista cognitiva, estas atividades envolvem emoções, afetividade, estabelecimento
e ruptura de laços e compreensão da dinâmica interna que perpassa a ligação
entre as pessoas.
Um
jogo ou brincadeira do qual participem mais de uma pessoa sempre implica
trocas, partilhas, confrontos e negociações. A afetividade envolvida nesta ação
pode adquirir nuanças variadas, traduzindo-se na alternância de momentos
harmônicos e desarmônicos.
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