Lauro Monteiro
Editor
1. O que é
bullying?
É uma
situação que ocorre sobretudo, mas não apenas, nas escolas, caracterizada por
atos agressivos, repetitivos e deliberados de alguns alunos contra um ou mais
colegas.
2. Quando o
senhor começou a se inteirar do tema bullying?
No ano 2000.
Em 2001 e 2002 visitei instituições especializadas em Londres, em Paris e em
Bordeaux. Trouxe muito material e muitas informações. Em 2002 e início de 2003,
com o apoio da Petrobras e do IBOPE, conseguimos introduzir o assunto bullying
em várias escolas do Rio. Uma extensa pesquisa foi feita e um livro publicado.
Desde então temos divulgado o tema em escolas e na mídia.
3. Bullying
é uma palavra da língua inglesa. Não é possível traduzir?
A palavra
bullying é muito forte e concisa. Ainda não temos em português uma palavra
capaz de resumir e englobar tão bem como a palavra bullying as diversas formas
de agressividade. Quando iniciamos no Brasil o nosso trabalho com o bullying em
2001, achávamos que haveria problemas. Vemos hoje que o termo bullying já
está inserido no cotidiano de muitas escolas, da mídia, da sociedade em geral.
4. O
bullying ocorre em que segmentos da sociedade?
As pesquisas
efetuadas, inclusive no Brasil, mostram que o bullying ocorre em qualquer
escola, independente de condições sociais e econômicas dos alunos.
5. Que tipo
de atos agressivos são praticados?
As atitudes
mais comuns são de ofensas verbais, humilhações, exclusão, discriminação, mas
também podem envolver agressões físicas e sexuais. Apelidos ofensivos é a
principal queixa dos alunos-alvo. Duas situações freqüentes nas pesquisas
européias ainda são pouco citadas entre nós - a homofobia é uma e a
outra é o "cobrar pedágio", extorquindo dinheiro do lanche, por
exemplo.
6. Quem
participa do bullying nas escolas?
Os
alunos-alvo (que sofrem o bullying), os alunos-autores (que praticam o
bullying) e os alunos testemunhas silenciosas (que assistem aos atos de
bullying, sem nada fazer).
7. O
bullying é um fenômeno que só ocorre nas escolas?
Não. O
bullying ocorre também, por exemplo no ambiente de trabalho (workplace
bullying, ou assédio moral, como vem sendo chamado no Brasil). Esta
situação é frequente e tem gerado pedidos milionários de indenizações em
muitos países. Ocorre também através da internet, cada vez com mais freqüência
(cyber bullying) ou através do telefone celular (mobile bullying). Já há no
mundo inteiro muitos trabalhos e pesquisas a respeito.
8. O
bullying é um fenômeno moderno?
Não, mas
apenas agora vem sendo reconhecido como causador de danos e merecedor de
medidas especiais para sua prevenção e enfrentamento.
9. Que tipo
de danos pode causar o bullying?
A vítima
pode apresentar baixa auto-estima, dificuldade de relacionamento social e no
desenvolvimento escolar, fobia escolar, tristeza, depressão, podendo chegar ao
suicídio e a atos de violência extrema contra a escola. Já os autores
podem se considerar realizados e reconhecidos pelos seus colegas pelos atos de
violência e poderão levar para a vida adulta o comportamento agressivo e violento.
As testemunhas silenciosas também sofrem, pela sua omissão e falta de
coleguismo. Muitos sentem-se culpados por toda a vida.
10. Como
suspeitar que uma criança está sofrendo bullying na escola?
Rejeitar a
escola, pedir para mudar de sala de aula, queda no rendimento
escolar, passar a apresentar sinais de somatizações (diarréia, vômitos,
dores abdominais, asma, insônia e pesadelos), e problemas emocionais
(como tristeza, depressão) ou sociais (como isolamento e não participação
em atividades de grupo). Os pais devem estar sempre atentos para a
possibilidade do seu filho estar sofrendo bullying. Acompanhar a
socialização da criança é tão, ou mais, importante quanto tomar
conhecimento do seu aproveitamento escolar. Uma boa dica é convidar para
irem à sua casa os colegas da escola.
11. O que
fazer para combater o bullying?
O primeiro
passo é o reconhecimento pela sociedade, pelos pais e sobretudo pelas escolas
de que o bullying existe, é danoso e não pode ser admitido. À escola cabe a
responsabilidade maior de envolver todos seus membros na não aceitação do
bullying privilegiando a prevenção. Diante de casos ocorrido, à escola compete
reunir todos os participantes e as famílias. Os pais e os alunos têm que
obrigatoriamente participar.
12. E então
o que os pais devem fazer?
Incentivar o
filho a falar, ir à escola e buscar uma solução que envolva toda a comunidade
escolar. É lógico que isso só será possível se a escola tiver como lema a não
aceitação do bullying. É bom lembrar que o bullying ocorre em todas as escolas.
Diz-se que a escola que afirma que lá não ocorre o bullying é
provavelmente aquela onde há mais situações de bullying, porque nada fazem
para prevenir e reprimir.
13. O
bullying está sendo enfrentado amplamente no Brasil?
Não. Muito
timidamente. A discussão do assunto mesmo em outros países é relativamente
nova - pouco mais de 15 ou 20 anos. No Brasil ainda estamos começando a
enfrentar o problema.
14. Os atos
de violência praticados por adolescentes têm alguma relação com o bullying?
Não diretamente.
Contudo o comportamento agressivo de adolescentes tem sua origem na infância.
Modelos agressivos de solução de conflitos ou problemas, são muitas
vezes passados aos filhos pelos próprios pais. Valores como direitos
iguais, cidadania, respeito ao próximo, frequentemente não são observados
dentro da família. Adolescentes que sofreram violência na família, ou
presenciaram atos de violência entre os pais, podem ter condutas agressivas na
escola e na vida adulta.
15. Ao escolher uma escola para seus filhos os pais
devem considerar a questão do bullying?
Sim. Uma escola que não conhece o assunto, que não
desenvolve programas a partir do princípio "Nesta escola não se aceita o
bullying", ou que afirma que o bullying lá nunca ocorreu, certamente
não é uma boa escola. Evite-a.
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