"panaca", "basbaque"
Observe o trecho
da canção "É", de Luiz Gonzaga Jr.::
A gente quer
calor no coração
a gente quer suar, mas de prazer
a gente quer é ter muita saúde
a gente quer viver a liberdade
a gente quer viver felicidade.
É, a gente não tem cara de panaca
a gente não tem jeito de babaca...
Nessa letra de
Gonzaguinha, vimos o uso das gírias "panaca" e "babaca".
Essa última, por sinal, tem a sua variante culta, "basbaque",
a pessoa que pasma diante de tudo, o tolo. Do termo "basbaque" surgiu
a variante "babaca", uma gíria. "Panaca" é a mesma
coisa, uma gíria com significado semelhante a "babaca".
Vamos a um trecho
da canção "Vida Louca Vida", gravada por Lobão:
...Se ninguém
olha quando você passa
você logo acha: _"tô carente
sou manchete popular".
Já me cansei de toda essa tolice
babaquice
essa eterna falta do que falar.
Que posição
devemos ter em relação à gíria? Preconceito? Não. A gíria é um recurso
linguístico saudável. A gíria vai e vem: ela nasce, vive, desaparece e pode até
ressurgir. No texto formal, porém, procure evitá-la.
"Ficar"
Os tempos dão às
palavras significados que mudam.
Por exemplo:
"ficar". Qualquer dicionário de língua portuguesa traz o significado
da palavra, que todo mundo sabe qual é. Nos últimos tempos, porém, os jovens
deram a essa palavra um novo sentido.
Vamos ver o que ocorre com "ficar" na letra da canção "A cruz e
a espada", gravada por Paulo Ricardo:
... E agora eu
ando correndo tanto
procurando aquele novo lugar
e aquela festa, o que me resta
encontrar alguém legal pra ficar
e agora eu vejo, aquele beijo
era mesmo o fim
era o começo e o meu desejo
se perdeu de mim.
O que seria
"alguém legal pra ficar"? A expressão "ficar", com a
acepção que tem na canção, quer dizer algo como "ter um leve envolvimento
com alguém, sem compromisso". Um rapaz vai a uma festa, conhece uma garota
e fica o tempo todo com ela, o que pode incluir beijos e abraços.
"detonada"
Será que você já
fez uso de "adequação vocabular"? "Vocabular" diz respeito
a vocábulo, palavra.
"Adequação vocabular" é adequar as palavras à
situação de fala. As gírias, por exemplo, podem ser perfeitamente ajustadas a
certos contextos. Repare na palavra "detonada" utilizada na letra da
música abaixo, "Nada a declarar", do grupo Ultraje a Rigor:
Mas eu 'tô vendo que a galera anda entediada
não 'tá fazendo nada e eu não 'tô dando risada
Aí, qualé? Vamos lá, moçada!
Vamos agitar, vamos dar uma detonada!
"Detonar",
nos dicionários, aparece como sinônimo de "fazer explodir",
"provocar uma explosão". Na gíria, essa palavra passou a ser usada
como sinônimo de "pôr tudo a perder", "acabar com tudo" e
até de "ser o máximo", "ser o melhor dos melhores". O
jogador que "detonou", por exemplo, foi o melhor do jogo.
No território da
gíria, da linguagem popular, usar o verbo "detonar" com esse sentido
é perfeitamente possível. Em linguagem formal, isso não seria de maneira alguma
adequado. "Detonar" se limitaria, nesse caso, a indicar a ideia de
explosão.
"não dá para"
Na canção abaixo,
aparece uma expressão muito comum na fala, no bate-papo, que, no entanto, não
deve frequentar o chamado padrão escrito, o padrão formal da língua. O trecho
faz parte da canção "Pra Dizer Adeus", dos Titãs:
...não dá
pra imaginar quando
é cedo ou tarde demais
Pra dizer adeus, pra dizer jamais
Na linguagem
popular, a expressão "não dá pra..." é aceita e muito comum. No texto
formal, no entanto, o mais apropriado seria utilizar "não é possível"
ou algo equivalente. A expressão "não dá pra..." é bastante
recorrente. Outro exemplo do seu uso é a canção "Rádio Bla", com
Lobão:
... não dá
para controlar, não dá
não dá pra planejar...
Utilizar essa expressão não é errado. Ela é adequada a
um determinado nível de linguagem, como a fala. Mas o padrão escrito não a
recomenda.
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