Será que os erros
de concordância sempre ocorrem por desconhecimento das regras ou será que é
possível errar intencionalmente?
Às vezes o erro é
intencional e está articulado com o contexto, com a intenção de quem escreve.
Um exemplo inequívoco disso é a letra "Inútil", do grupo
"Ultraje a Rigor".
A gente
não sabemos escolher presidente
A gente não sabemos tomar conta da gente
A gente não sabemos nem escovar os dentes
Tem gringo pensando que nós é indigente
Inútil, a gente somos inútil
Inútil, a gente somos inútil
A gente não sabemos tomar conta da gente
A gente não sabemos nem escovar os dentes
Tem gringo pensando que nós é indigente
Inútil, a gente somos inútil
Inútil, a gente somos inútil
Em muitos lugares
do Brasil pratica-se essa concordância com muita naturalidade. De acordo com a
língua oficial, no entanto, trata-se de uma construção equivocada. "A
gente não somos inútil", "a gente é
inútil". Contudo, para o clima da letra, para o contexto que foi
criado, é até necessário errar a concordância intencionalmente para que a
sátira fique mais evidente. A forma gramatical busca aqui se adequar à
mensagem. Por se tratar de texto poético, a quebra da norma se justifica porque
visa a um fim determinado. Há consciência da parte do letrista de que se trata
de um erro, cometido apenas para enfatizar a inutilidade desse "a
gente" (que afirma sua incapacidade para até mesmo concordar o verbo com o
sujeito).
Na linguagem
formal, não há dúvida de que a construção recomendada é "Somos
inúteis", "A gente é inútil", possuindo esta última construção
um matiz coloquial pelo uso de "a gente" no lugar de "nós".
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