quarta-feira, 12 de setembro de 2018

O que ensinar em Língua Portuguesa do 6º ao 9º ano

A meta da disciplina é permitir que os estudantes leiam e produzam textos de qualidade, além de desenvolver a oralidade

Maria Rehder
01 de Janeiro de 2010

Formar alunos capazes de usar adequadamente a língua materna, em suas modalidades escrita e oral, e refletir criticamente sobre o que leem e escrevem. Esses são os objetivos das aulas de Língua Portuguesa. Saber argumentar, fazer relações entre os textos lidos e ter uma atitude crítica perante as informações são habilidades fundamentais para os jovens. 

Entretanto, uma das dificuldades para atingir tais objetivos são os currículos fragmentados. "Os professores são impelidos a ministrar aulas de 50 ou 100 minutos que não mantêm necessariamente uma relação entre os conteúdos", avalia Telma Ferraz Leal, docente da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). "Tal organização do tempo escolar dificulta a realização de atividades mais sequenciais." 

É nesse contexto que o momento de planejamento se torna fundamental para que os professores possam se dedicar à discussão sobre como garantir a continuidade em função das condições de cada escola. Outro desafio, de acordo com Telma, é romper com o excesso de conteúdos."É preciso definir prioridades e usar o tempo pedagógico para que as habilidades e os conhecimentos mais relevantes para a vivência social dos estudantes sejam de fato contemplados", acrescenta.


Maior importância para o oral equilibra o currículo

Claudio Bazzoni, assessor de Língua Portuguesa da prefeitura de São Paulo e selecionador do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10, destaca que a língua é o ponto essencial do convívio interpessoal. "A linguagem é uso e interação entre sujeitos que fazem parte de um determinado contexto histórico e social. É um desafio para o professor assumir que os conhecimentos que os estudantes devem dominar vão além dos contemplados pela gramática normativa." Para que os alunos dominem essa ferramenta, cabe a todos os professores propor situações didáticas que garantam, de maneira contínua, a abordagem de gêneros diversos - selecionados em função de temas de estudo e com grau de dificuldade crescente. As atividades de produção de texto devem ser permanentes. 

Bazzoni lembra a importância das atividades sobre oralidade, destacando a escuta de textos do gênero marcados por maior formalidade, como seminários, relatos de experiência, entrevistas e debates. Com ele, concorda Maria José Pinheiro Machado, da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Para ela, a inclusão de um trabalho com os gêneros orais nos currículos representaria um avanço, uma vez que o tema costuma ficar de fora de muitas práticas escolares. Assim, seriam desenvolvidas as capacidades comunicativas dos alunos. "Isso é necessário para que eles possam ampliar as condições de interação e as possibilidades de informação e conhecimento." 

Desde 2005, a professora de Língua Portuguesa Maria Sueli Gonçalves abriu mais espaço para a oralidade em seu trabalho. Inspirada na Academia Brasileira de Letras (ABL), ela criou a Academia Estudantil de Letras (AEL) numa escola municipal de São Paulo. "Tudo começa em sala, com a apresentação de textos de autores e gêneros variados. Depois, os alunos podem aprofundar a leitura em reuniões semanais, assumindo a cadeira de um escritor específico", explica. 

O gênero oral é praticado nos momentos em que cada estudante organiza seminários sobre a biografia e os textos do autor representado e quando recebem escritores profissionais, como Tatiana Belinky e Paulo Dantas. 

Veja, a seguir, cinco situações didáticas essenciais para o ensino de Língua Portuguesa do 6º ao 9º ano.


1. Leitura de gêneros de diversas esferas discursivas


ESFERAS DISCURSIVAS Romances, contos e quadrinhos ensinam a interagir com os textos que circulam no mundo. (Crédito: Paulo Vitale)

O que é Ler e analisar a maior diversidade de gêneros possível: romances, contos, poemas, crônicas, peças de teatro, quadrinhos, canções, artigos opinitivos e científicos, resenhas, notícias e entrevistas, entre outros. 
Quando propor Com a maior frequência possível, ao longo de todo o ano. 

O que o aluno aprende A interagir com os textos que circulam no mundo, criar uma expectativa em função daquilo que vai ler e desenvolver diferentes comportamentos leitores diante de diferentes gêneros textuais. 

Como propor Servindo de modelo como leitor e orientando os jovens a rastrear pistas linguísticas para relacioná-las com ideias e informações que já possuem e a perceber que cada objetivo de leitura solicita um procedimento. 

2. Leitura em profundidade e procedimentos de estudo

Leitura profunda - Com resumos e fichamentos, os alunos interagem com as ideias de outros autores. (Crédito: Paulo Vitale) 
O que é Ler textos para estudar e para interagir com ideias de outras pessoas e se apropriar delas para eleborar seu próprio discurso. 

Quando propor Nas situações de pesquisa e nos momentos de aprendizagem de um conteúdo específico. 

O que o aluno aprende A fazer resumos e fichamentos, identificar o tema dos textos, diferenciar as ideias principais das secundárias e estabelecer relações entre argumentos trazidos pelo autor, indo além do conteúdo estudado.

Como propor Discutindo com a turma critérios para descartar pontos não essenciais do texto analisado, explicando como é a estrutura de um texto e mostrando possibilidades de dividi-lo em grupos de blocos significativos.

3. Reflexão sobre os padrões de escrita 

O que é Planejar situações didáticas que promovam um ensino reflexivo a respeito de conteúdos como ortografia, concordância, regência verbal, segmentação do texto em palavras e frases, pontuação, entre outros, ajustados às necessidades de aprendizagem dos alunos. 

Quando propor Em sequências didáticas específicas e nas práticas de escrita incluídas nos projetos didáticos. 

O que o aluno aprende As regularidades e irregularidades ortográficas, pontuar, identificar marcas de coesão referencial e sequencial e transitar da fala à escrita. 

Como propor Por meio de sequências didáticas com base em uma sondagem feita especialmente para verificar o domínio dos padrões de escrita pelos alunos, de atividades que explorem as regularidades ortográficas e da leitura de textos especialmente selecionados para trabalhar tempos verbais, pontuação, concordância e regência, entre outros aspectos.

4. Uso de diversos gêneros orais 

Escrever e ouvir - Analisar os padrões cultos e ouvir gêneros facilitam a aquisição da língua oral e escrita. (Crédito: Paulo Vitale e Gilvan Barreto) 
O que é Dominar os gêneros mais formais que apoiam a aprendizagem da Língua Portuguesa e das outras áreas, como seminários, relatos de experiências, entrevistas, debates e palestras. 

Quando propor Durante sequências didáticas planejadas com esse objetivo. 

O que o aluno aprende A construir progressivamente modelos apropriados do uso da linguagem oral em diferentes circunstâncias e a participar de debates, entrevistas, palestras e saraus organizados pela escola ou outras instituições. 

Como propor Por meio do acesso (em DVDs e vídeos) a exemplos de textos orais dos gêneros previstos para análise e reflexão e da participação em debates regrados, apresentações de painéis e seminários.

5. Produção, revisão e edição de textos

Revisão e edição -  Atividades que exijam cortes e mudanças aumentam o domínio da turma sobre a produção. (Crédito: Paulo Vitale)
O que é Procedimentos que permitem ao aluno escrever textos de gêneros diversos com intenção comunicativa. 

Quando propor Durante projetos didáticos semestrais e outras situações de produção textual. 

O que o aluno aprende A cortar passagens redundantes e marcas da língua falada, a acrescentar informações ou falas de personagens para diminuir as lacunas do texto, a substituir termos por outros mais precisos, a inverter frases ou parágrafos para buscar melhor ordem para as ideias e a revisar e diagramar o próprio texto. 

Como propor Com atividades de edição que exija cortar, acrescentar e inverter trechos ou passar textos como depoimentos espontâneos e entrevistas da linguagem oral para a escrita.


Bibliografia
Aprender a Ensinar com Textos Não Escolares, Adilson Citelli e Lígia Chiappini, 208 págs., Ed. Cortez, tel. (11) 3611-9616, 33 reais 

Como Usar o Rádio na Sala de Aula, Marciel Consani, 192 págs., Ed. Contexto, tel. (11) 3832-5838, 29 reais 

Fichamento, Rosana Morais Weg, 67 págs., Ed. Paulistana, tel. (11) 3744-9754, 16 reais 

Gêneros Orais e Escritos na Escola, Bernard Schneuwly e Joaquim Dolz, 278 págs., Ed. Mercado de Letras, tel. (19) 3241-7514, 58 reais 

Resumo, Marli Qudros Leite, 64 págs., Ed. Paulistana, 16 reais 



Fonte:https://novaescola.org.br/conteudo/220/o-que-ensinar-em-lingua-portuguesa-do-6-ao-9-ano.

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