·I - LITERATURA
INFORMATIVA
O que é?
· É um tipo de
literatura composta por documentos a respeito das condições gerais da terra
conquistada, as prováveis riquezas, a paisagem física e humana, etc.
· Em princípio, a
visão europeia é idílica: a América surge como o paraíso perdido e os nativos
são apresentados sob tintas favoráveis. Porém, na segunda metade do século XVI,
à medida que os índios iniciam a guerra contra os invasores, à visão rósea
transforma-se e os habitantes da terra são pintados como seres bárbaros e
primitivos.
Principais
manifestações:
· A Carta de Pero Vaz
de Caminha:
· Descrição minuciosa
da nova realidade; -- A simplicidade no narrar os acontecimentos;
· A disposição
humanista de tentar entender os nativos; -- O ideal salvacionista.
· Duas viagens ao
Brasil, de Hans Staden - Viagem à terra do Brasil, de Jean de Léry.
· Relato de viajantes
que viveram entre os índios vários meses.
· Registro da
antropofagia e descrição dos costumes indígenas.
· II - LITERATURA
JESUÍTICA
José de Anchieta
Obras refinadas:
poemas e monólogos em latim que parecem destinados a satisfazer suas
necessidades espirituais mais profundas.
Obras didáticas:
hinos, canções e especialmente autos, que visavam infundir o pensamento cristão
nos índios.
Os autos: Obras
teatrais onde o autor tenta conciliar os valores católicos com os mitos
indígenas.
Há um confronto entre
o bem e o mal. O bem é defendido por santos e anjos, os quais expressam o cristianismo
e subjugam o mal, constituído por deuses e pajés dos nativos, misturados com os
demônios da tradição católica.
· III - BARROCO
Surgimento: Europa,
meados do século XVI - Brasil, início do século XVII. (Lembrar que, no Brasil,
a literatura barroca acaba no século XVII, junto com o declínio da sociedade
açucareira baiana. Contudo, na arquitetura e nas artes plásticas, o estilo
barroco atingirá o seu apogeu apenas nos séculos XVIII e início do XIX, em
Minas Gerais.)
Variações barrocas:
cultismo (exagero e rebuscamento formal) e conceptismo (exagero no plano das
ideias) são manifestações de excesso da literatura barroca.
Características:
1)
Arte
da Contrarreforma, expressando a crise do Renascimento, com a destruição da
harmonia social aristocrática-burguesa através das guerras religiosas. Os
jesuítas que surgem, neste período, combatem os protestantes e espalham pelo
mundo católico a sua implacável ideologia teocêntrica.
2)
Conflito
entre corpo e alma. Dividido entre os prazeres renascentistas e o fervor
religioso, o homem barroco oscila entre:
· a celebração do corpo, da vida
terrena, do gozo mundano e do pecado;
· os cuidados com a alma visando à
graça divina e à salvação para a vida eterna.
3)
Temática
do desengano (o desconcerto do mundo): a vida é breve, a vida é sonho, viver é
ir morrendo aos poucos. Aguda consciência da efemeridade da existência e da
passagem do tempo.
4)
Linguagem
ornamental, complexa, entendida como jogo verbal, cheia de antíteses,
inversões, metáforas, alegorias, paradoxos, ausência de clareza. É um estilo
complicado que traduz os conflitos interiores do homem barroco.
Autores barrocos:
1)
Gregório
de Matos (Boca do Inferno)
Poesia religiosa -
Apresenta uma imagem quase que exclusiva: o homem ajoelhado diante de Deus, implorando
perdão para os pecados cometidos.
Poesia amorosa - Tem
uma dimensão elevada ("d"), muitas vezes associada à noção de
brevidade da existência, e uma dimensão obscena, onde a explosão dos sentidos
(em versos crus e repletos de palavrões) representa um protesto contra os
valores morais da época.
Poesia satírica -
Ironia corrosiva e caricatural contra todos os setores da vida colonial baiana:
senhores de engenho, clero, juízes, advogados, militares, fidalgos, escravos,
pobres livres, índios, mulatos, mamelucos, etc.
Com seu olhar
ressentido de senhor decadente, Gregório de Matos vê na realidade apenas
corrupção, negociata, oportunismo, mentira, desonra, imoralidade, completa
inversão de valores. A poesia satírica, portanto, para ele é vingança contra o
mundo.
2)
Padre
Antônio Vieira
Os Sermões
· Utilização
contínuas de passagens da Bíblia e de todos os recursos da oratória jesuítica
para convencer os fiéis de sua mensagem, mesmo quando trata de temas
cotidianos.
· Ataca os vícios
(corrupção, violência, arrogância, etc.) e defende as virtudes cristãs (religiosidade,
caridade, modéstia, etc.)
· Combate os hereges,
os indiferentes à religião e os católicos desleixados em relação à Igreja.
· Defende abertamente
os índios. Mantém-se ambíguo frente aos escravos negros: ora tenta justificar a
escravidão, ora condena veementemente seus malefícios éticos e sociais.
· Exalta os valores
que nortearam a construção do grande império português. E julga (de forma
messiânica) que este império deveria ser reconstruído no Brasil.
· Propõe o retorno
dos cristãos novos (judeus) a territórios lusos como forma de Portugal escapar
da decadência onde naufragara desde meados do século XVI.
· Apresenta uma
linguagem de tendência conceptista, de notável elaboração, grande riqueza de ideias
e imagens espetaculares. Fernando Pessoa o chamaria de "Imperador da
Língua Portuguesa".
IV - ARCADISMO (ou
NEOCLASSICISMO)
Características
1.
Arte
ligada ao Iluminismo. Oposição ao absolutismo despótico e ao poder (barroco) da
Igreja.
2.
Afirmação
orgulhosa da racionalidade. Razão = Verdade = Simplicidade e clareza.
3.
Culto
da simplicidade. Como se atinge a mesma? Através da imitação (não no sentido de
cópia, mas no de seguir modelos já estabelecidos).
4.
Imitação
dos clássicos. Em especial, Virgílio e Teócrito, clássicos pastoris.
5.
Imitação
da natureza campestre, isto é, da ordem e do equilíbrio que essa natureza
apresenta, o que dá a mesma um caráter de paraíso perdido. Dois elementos
decorrem da aproximação do árcade da natureza campestre:
a)
Bucolismo:
adequação do homem à harmonia e serenidade da natureza.
b)
Pastoralismo:
celebração da vida pastoril, vista como um eterno idílio entre pastores e
pastoras.
6.
Ausência
de subjetividade. O autor não expressa o seu próprio eu, adotando uma forma
pastoril (Cláudio Manuel da Costa é Glauceste Satúrnio, Tomás Antônio Gonzaga é
Dirceu, Basílio da Gama é Termindo Sipílio, etc.)
7.
Amor
galante. O amor é entendido como um conjunto de fórmulas convencionais.
Arcadismo no Brasil
· Decorrência da
atividade mineradora e da urbanização que dela resultou.
· Criação de
Academias e Arcádias onde os letrados procuravam fugir da indiferença do meio.
· Instituição em
caráter regular de um sistema literário: autores - obras escritas dentro de uma
tendência comum - público leitor permanente.
· Relação com a
Inconfidência Mineira. Tomás Antônio Gonzaga foi degredado e Cláudio Manuel da
Costa se suicidou na prisão.
· Poesia lírica:
1.
Cláudio
Manuel da Costa
Obras poéticas
· Poesia de transição
entre o Barroco e o Arcadismo.
· Do Barroco, o autor
tem as noções de brevidade dos sentimentos e da vida, o tema recorrente do
sofrimento humano e o gosto pela antítese e pelo soneto camoniano. Do
Arcadismo, CMC apresenta o pastoralismo e a renúncia à visão religiosa de
mundo.
· Em suas Obras,
contudo, a paisagem não é campestre. Quebrando as convenções do período, ele
apresenta cenários dominados por pedras, rochas, grutas e penhascos, indicando
as suas raízes mineiras.
· Além das Obras
poéticas, escreveu um fracassado poemeto épico (Vila Rica).
2.
Tomás
Antônio Gonzaga
Marília de Dirceu
(liras)
· Poesia tipicamente
árcade, presa aos esquemas bucólicos e pastoris.
· A obra foi escrita
em três partes que correspondem a momentos históricos diferentes na vida do
poeta. A I parte em liberdade. A II na prisão. E a III provavelmente logo após
o degredo para a África.
· A expressão
sentimental da obra dá-se, na maior parte das liras, de acordo com as fórmulas
convencionais da galanteria. No entanto, em alguns momentos das partes II e
III, o autor escapa dos padrões árcades e desabafa a sua dor, o sentimento de
medo do futuro e da morte e, sobretudo, a saudade de Marília. Nestes momentos,
as liras adquirem um caráter pré-romântico.
· Em seu todo, Marília
é um canto das virtudes ilustradas ("áurea mediocritas",
racionalidade, decoro e simplicidade).
· Sob pseudônimo de
Critilo, escreveu as célebres Cartas Chilenas onde satiriza os desmandos
do governador de Minas Gerais, apelidado no texto de Fanfarrão Minésio.
3.
Silva
Alvarenga
Glaura
· Celebração da
pastora Glaura, ora num tom galante, ora melancólico.
· Poesia épica:
1.
Basílio
da Gama
O Uruguai
Tema: A conquista
militar das Missões jesuíticas no RS por tropas luso-espanholas, em 1756, a
mando do Marquês de Pombal.
Outros aspectos:
· Celebração épica
dos conquistadores brancos, representados pelo general Gomes Freire de Andrade.
· Também os índios
(Sepé e Cacambo) são apresentados na condição de heróis. É uma espécie de
glorificação do homem natural (como se os índios fossem pastores árcades) que
enfrenta os representantes da civilização europeia.
· Os vilões da
história são os jesuítas, duramente criticados, sobremodo o padre Balda.
· A cena mais famosa
do poema é lírica e não épica. Trata-se da morte de Lindóia, que, após ter seu
marido, Caçambo, envenenado por ordens do padre Balda e na iminência de
casar-se com o índio Baldeta, filho natural do padre corrupto, Lindóia prefere
morrer, deixando-se picar por uma serpente venenosa.
Não esqueça: O Uruguai
é um poema em cinco cantos e em versos brancos (sem rima).
2.
Santa
Rita Durão
Caramuru
· Tema: A
glorificação do colonizador branco e agente da catequese católica, Diogo
Álvares Correia, que maravilhou os índios com um tiro de arcabuz na Bahia do
século XVI, casando-se com a filha do cacique, Paraguaçu, e passando a viver
entre eles. Outros aspectos:
· Louvação do índio
que se converte à religião do dominador luso e o auxilia na conquista da terra.
· A cena mais famosa
da epopeia é a morte da índia Moema, após a partida para a França de Diogo
Álvares e sua noiva, Paraguaçu. Moema vai nadando atrás do navio até ser
tragada pelas ondas.
Não esqueça: Há nesta
epopeia uma forte influência de Os Lusíadas, de Camões.
· V – ROMANTISMO
Contexto histórico:
· Ascensão da
burguesia > Implantação definitiva do capitalismo > Liberalismo econômico,
jurídico, filosófico.
· Surgimento de um
novo público leitor > A arte passa a valer como mercadoria
Surgimento: Fins do
século XVIII. Já o apogeu romântico ocorre na I metade do século XIX.
Características:
1)
Individualismo
e subjetivismo: É a dupla face do EU romântico. A do EU arrogante, napoleônico,
audacioso.
E a do EU que se
fecha sobre si mesmo, que escava a sua própria interioridade.
2)
Sentimentalismo:
Celebração do "grande amor", da paixão desmedida, mas também da
tristeza, da angústia, do "mal do século" (o tédio).
3)
Culto
à natureza: Raro o poema romântico que não exalte ou, pelo menos, faça
referência ao mundo natural. Também as metáforas preferidas ligam-se sempre a
fenômenos da natureza.
4)
Sonho,
fantasia, tendência à idealização.
5)
Escapismo:
tendências suicidas, culto da morte, criação de mundos imaginários, entrega ao
álcool e à orgias.
6)
Liberdade
artística: fim do mecenatismo, ao vender sua obra no mercado o artista se
libera das exigências de seu protetor. Desobediência às regras clássicas. Surge
o drama teatral e o romance se impõe como o gênero dos novos tempos.
Romantismo brasileiro
· Arte identificada
com a Independência política
· Nacionalismo
ufanista:
- Indianismo -
Regionalismo - Culto à natureza brasileira.
- Tentativa de
criação de uma língua nacional.
Vigência:
Início: 1836 - Suspiros
poéticos e saudades, de Gonçalves de Magalhães.
Fim: Década de 1870,
com a morte dos últimos românticos importantes: Castro Alves e José de Alencar.
A poesia romântica
I Geração (Nacionalista)
1)
Gonçalves
de Magalhães
· Suspiros
poéticos e saudades > Obra (medíocre) que introduz o espírito romântico
no país.
· Confederação dos
tamoios > Fracassada experiência indianista.
2)
Gonçalves
Dias
Primeiros cantos - Segundos cantos -
Últimos cantos - Os timbiras (epopeia indianista inacabada) - Sextilhas
de Frei Antão (poemas escritos em português quinhentista, arcaico).
Temas básicos:
Valorização do índio:
herói idealizado que simboliza o passado heroico da nação: I-Juca Pirama.
Saudades da pátria:
Canção do exílio (O paraíso está "lá" e não "cá", a pátria
reside na natureza).
Canto da natureza: a
beleza do trópico e o encontro de Deus nos fenômenos naturais (panteísmo).
Amor impossível e
sofrido: Principais poemas: Ainda uma vez - adeus!; Se se morre de amor.
Não esqueça:
Gonçalves Dias é o poeta romântico mais equilibrado e o que tem o melhor
sentido de ritmo e musicalidade do verso.
· A poesia romântica
II Geração
(Individualista, ultra-romântica, byroniana ou do "mal do século").
1)
Álvares
de Azevedo
Lira dos vinte anos (poemas); O conde
Lopo (poema);
Macário (drama com traços
cômicos onde um jovem viaja a São Paulo guiado por Satã);
Noite na taverna (contos byronianos,
góticos, sombrios e devassos nos quais sete rapazes expõem histórias terríveis
de suas vidas).
Temas básicos:
Presságio da morte:
Se eu morresse amanhã.
"Mal do
século": tédio, dúvida, angústia sobre o sentido da vida, confronto entre
o sonho e a realidade. Ideias íntimas.
Humor prosaico:
percepção irônica do cotidiano.
Amor orgíaco
(dimensão da fantasia) e medo do amor (dimensão real traduzida pela imagem
recorrente da mulher adormecida).
Não esqueça: Em sua
obra, como disse um crítico, as mulheres são "deusas" ou prostitutas,
isto é, inatingíveis ou desprezíveis.
2)
Casimiro
de Abreu
Primaveras
Temas básicos:
Emoções singelas da
adolescência (inquietudes amorosas) em linguagem totalmente simples.
Saudosismo:
a)
da
infância: Meus oito anos.
b)
da
pátria: Canções do exílio.
3)
Fagundes
Varela
Anchieta ou o
Evangelho nas selvas.
Temas básicos:
Todos os da poesia
romântica: o índio, o canto da pátria, a natureza, o tédio, o abolicionismo,
etc.
A morte do filho: Cântico
do calvário.
Não esqueça: Apesar
de ser um poeta pouco original, F. V. alcança um bom nível na sua poesia rural/sertaneja.
III Geração (Liberal,
social ou condoreira)
1)
Castro
Alves
Espumas flutuantes - Os escravos -
Cachoeira de Paulo Afonso.
Temas básicos:
Poesia social: o
abolicionismo, a defesa de causas liberais como a educação, o canto do futuro e
do progresso.
Poesia lírica: a
natureza e o amor, este como expressão dos desejos sexuais.
Não esqueça: A poesia
condoreira apresenta uma linguagem forte, retórica, discursiva, com imagens extraídas
dos mais aspectos mais grandiosos da natureza. Já a poesia lírica encontra sua
expressão numa linguagem simples, quase coloquial e de forte plasticidade
(qualidade visual).
2)
Sousândrade
- Um caso à parte.
Obras poéticas
O Guesa errante
Desprezado em sua
época, Joaquim de Sousa Andrade, ou Sousândrade, acabou reabilitado pelos concretistas
como um caso de "antecipação genial" da livre expressão modernista.
Poeta experimental
cria uma linguagem cheia de elipses e fusões vocabulares, fugindo das
banalidades sentimentais dos românticos.
Obra principal: Guesa
errante, longo poema narrativo em treze cantos. Está baseado em uma lenda
indígena colombiana: Guesa é uma criança roubada dos pais pelo deus do
Sol. Educado por este deus até os 10 anos, acaba sendo sacrificado aos 15, após
longa peregrinação pela "estrada do Suna", que na verdade é o mundo.
Não esqueça: a parte
mais interessante do Guesa errante é a em que ele vê a consolidação do
capitalismo como uma doença viciosa (O inferno de Wall Street).
II - O romance
romântico
1.
Joaquim
Manuel de Macedo O moço louro - A moreninha (relato sentimental
da ligação entre dois jovens, Augusto e Carolina, presos a uma promessa amorosa
infantil e que na adolescência se apaixonam, um pelo outro, sem saber que são
eles próprios os noivos prometidos).
Características da
obra:
· Adaptação do
folhetim romântico europeu:
a)
a
cenários brasileiros.
b)
aos
valores morais e afetivos da família patriarcal brasileira.
· Possibilita aos
leitores brasileiros uma identificação com a realidade local.
Não esqueça: A
importância de Macedo é que ele desperta no público o gosto pelo romance
ambientado no Brasil.
2.
JOSÉ
DE ALENCAR
Romances urbanos:
Senhora - romance sobre o
casamento por interesse. Aurélia é abandonada pelo noivo, Fernando Seixas, que
a troca pelo dote de 30 contos de Adelaide Amaral. Contudo, Aurélia recebe
vultuosa herança e compra o antigo noivo por 100 contos, casando-se com ele.
Aurélia vinga-se então de Fernando Seixas, tratando-o como um ser desprezível,
mas o rapaz especula na bola e ganha o dinheiro para se resgatar. O desfecho é absolutamente
convencional: os dois se perdoam e são felizes para sempre.
Lucíola - romance sobre a
paixão de um jovem bacharel, Paulo, por uma cortesã (prostituta), Lúcia. As dificuldades
deste tipo de relacionamento, a pressão social e as angústias naturais do
amante constituem a base da narrativa. No final, os dois se retiram do centro
do Rio de Janeiro em busca de um cenário favorável para o triunfo do amor,
porém, providencialmente, Lúcia morre.
Romances
regionalistas (ou sertanistas):
O gaúcho - O sertanejo -
Til - O tronco do ipê (relatos cujo objetivo é exaltar a unidade
nacional na diversidade regional).
Romances históricos:
As minas de prata - A guerra dos
mascates (romances de muita ação e pouca historicidade objetiva).
Romances indianistas:
O guarani (que Alencar
considerava um relato histórico) - Ubirajara - Iracema ("Lenda
do Ceará", espécie de poema em prosa, narra a paixão proibida - mas que
acaba se realizando - entre Iracema, espécie de sacerdotisa da tribo tabajara e
o português Martim Soares, aliado dos pitiguaras. Iracema, a guardadora do segredo
de Jurema e que deveria permanecer virgem, entrega-se a Martim e desta relação
nasce Moacir, "o filho do sofrimento". Antes do nascimento da
criança, Martim Soares parte. Ao regressar, encontra a índia às
portas da morte.
Mesmo assim, Iracema ainda lhe entrega a criança e só depois morre. Martim leva
então consigo o filho Moacir, designado pelo escritor como o "primeiro
cearense".
Características
gerais da obra:
· Projeto
nacionalista: revelar o Brasil em seu espaço físico-geográfico (romances
urbanos e regionalistas), em seu passado histórico (romances históricos) e em
sua dimensão lendária/mítica (romances indianistas).
· Estrutura narrativa
romântica, com forte influência de Walter Scott e Fenimore Cooper.
· Idealização
permanente da realidade nacional, valorização da natureza e estilo metafórico,
tendente ao poético.
· Tentativa de criar
uma língua brasileira (Iracema).
· Aspectos
pré-realistas nos romances Lucíola e Senhora (análise psicológica
mais complexa, análise do peso da sociedade sobre a vida individual e temas
relativamente proibidos: o casamento por interesse e as complicações
resultantes do amor entre dois grupos sociais distintos).
· Em Senhora e
Lucíola: vitória final da ótica moral conservadora, traduzindo os
valores patriarcais do autor.
Não esqueça: Com José
de Alencar e seu projeto estético-ideológico (a defesa de temas nacionais e a
luta por uma linguagem brasileira), a nossa literatura começa o seu processo de
emancipação definitiva da literatura portuguesa.
3.
Visconde
de Taunay
Inocência - (romance sertanista
-regionalista- sobre uma paixão proibida entre a jovem sertaneja, Inocência, e
um falso médico vindo da cidade, Cirino. O pai da moça, entretanto, a prometera
a um tipo rústico chamado Manecão. Este, ao descobrir a paixão de Inocência,
assassina Cirino. Porém, a jovem deixa-se morrer de tristeza, encerrando
tragicamente a história.)
Não esqueça: O
romance de Taunay já foi designado como uma espécie de Romeu e Julieta caboclo,
além de apresentar uma visão crítica do patriarcalismo brasileiro.
4.
Um
caso à parte: Manuel Antônio de Almeida
Memórias de um
sargento de milícias
· Narrativa de
costumes: Os hábitos das classes populares no "tempo do rei"
(1808-1821).
· Destruição do
Romantismo: Ironia aos cacoetes românticos - personagens semimarginais
(Leonardo é "filho de uma pisadela e de um beliscão") - ausência de
idealização.
· Um romance
precursor do realismo: Objetividade na visão sobre o mundo social.
· Predomínio do
humor: Personagens caricaturizados - acontecimentos que desmentem a hipocrisia
dos indivíduos - profusão de situações cômicas.
· Personagens
principais: Leonardo - suas duas paixões, Luisinha (a ideal) e Vidinha (a
sensual) Leonardo Pataca (o pai do anti-herói) - Major Vidigal (o representante
da ordem e o perseguidor de Leonardo) - Compadre (o protetor de Leonardo), etc.
Não esqueça: Por seu
teor cômico, pela ausência de idealização social e pelas características do
anti-herói, Leonardo (irresponsabilidade, sensualidade, gosto pela vagabundagem
e estratégias espertas de sobrevivência), o romance tem sido classificado como
a primeira narrativa da malandragem em nossa literatura.
· VI -
REAL-NATURALISMO
Surgimento: II metade
do século XIX
Características do
realismo:
1)
Objetivismo
e impessoalidade.
2)
Busca
da verossimilhança: as obras devem dar a impressão de verdade total, isto é, de
que constituem um reflexo perfeito da realidade.
3)
Busca
da perfeição formal.
4) Pessimismo: os valores
burgueses e as crenças religiosas e ideológicas sofrem um processo de completo descrédito.
5)
Racionalismo
- cuja tradução é tanto a análise psicológica como a análise social.
Características do
naturalismo
1)Arte vinculada às
novas teorias científicas e ideológicas européias (Evolucionismo, Positivismo, Determinismo,
Socialismo, Medicina Experimental). Daí o outro nome do movimento, criado por
Zola: romance experimental.
3)
Todas
as características do Realismo - menos a análise psicológica. Esta é substituída
por variações deterministas que transformam os personagens em fantoches de
destinos pré-estabelecidos. Segundo Taine, o homem é produto do meio, da raça e
do momento histórico em que vive. Pode-se dizer assim que o Naturalismo é o
Realismo mais o cientificismo da II metade do século XIX.
4)
Cientificismo
sociológico e biológico. O sociológico é dado pelo determinismo do meio e do
momento. O biológico pelo determinismo de raça e dos temperamentos e caracteres
herdados.
5)
Personagens
patológicos. Para provar suas teses, os escritores naturalistas são obrigados
muitas vezes a apresentar protagonistas doentios, criminosos, bêbados,
histéricos, maníacos.
O real-naturalismo no
Brasil
· As primeiras ideias
renovadoras surgem na década de 1870, no Recife, através da ação de Tobias
Barreto e Sílvio Romero.
· Em 1881 aparecem O
mulato, de Aluísio Azevedo e Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado
de Assis. Ainda que não sigam de todo os modelos europeus, as obras são respectivamente
consideradas as inauguratórias da estética naturalista e realista no país.
· O romance realista
1)
Machado
de Assis
I fase: (Tendências
indefinidas, com maior acento romântico).
Ressurreição - A mão e a luva -
Helena - Iaiá Garcia
· Tentativa de
contrastar caracteres, conforme declaração do autor no prefácio de
Ressurreição.
· Certos temas
recorrentes na II fase, como a ambição e o egoísmo, já se insinuam nestes
romances.
· Linguagem carregada
de lugares-comuns.
II fase: (Realista,
mas de um realismo absolutamente singular, fora dos padrões europeus)
Memórias póstumas de
Brás Cubas
Um defunto autor, sem
as ilusões e as fraudes interiores dos vivos, narra do túmulo a sua vida
pregressa. Num tom irônico, ele vai descobrindo a ausência de grandeza em si e
em todas as pessoas. A consciência de que as ações humanas são desencadeadas
apenas pelo interesse, pela possibilidade de lucro, pelo egoísmo e pelo instinto
sexual, justifica o fim do romance, em que Brás Cubas mede sua vida e conclui
que ganhara: "Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado
de nossa miséria".
Curioso é o
personagem Quincas Borba, amigo do personagem-narrador, filósofo de duvidosa
sanidade mental, criador da teoria do Humanitas que, sendo uma sátira contra
todas as filosofias, é também a tradução da corrosiva visão de mundo do próprio
Machado de Assis.
Quincas Borba
O modesto professor
Rubião recebe em Barbacena grande herança do falecido filósofo Quincas Borba,
com a condição de cuidar do seu cachorro, também chamado Quincas Borba.
Rubião abandona a
província, mudando-se para o Rio de Janeiro, onde é enganado e explorado por um
bando de parasitas, especificamente por um ambicioso casal: Sofia e Palha.
Sofia percebe a paixão do professor por ela e se diverte com sua ingenuidade.
Palha monta um negócio de exportação com o professor, o qual entra com todos os
recursos financeiros para o empreendimento.
Rubião, consciência
estreita em demasia para a complexidade psicológica e social, nada entende. E
acaba enlouquecendo. Dissipa, então, a sua fortuna inteiramente. Palha desmancha
a sociedade, ficando com o negócio e Rubião é despachado de volta para
Barbacena, em companhia do cachorro Quincas Borba. Lá morre na maior miséria.
Dom Casmurro
Bento Santiago tenta
recompor o passado através da memória, e recorda o amor adolescente por Capitu (a
de "olhos oblíquos e dissimulados", "olhos de cigana",
"olhos de ressaca"). Boa parte da memória de Bentinho concentra-se na
adolescência dos personagens, na poesia da primeira paixão, no compromisso de
casamento e em seu ingresso forçado no seminário, promessa carola de sua mãe.
Depois, as ações ocorrem velozes: a amizade com Escobar, o abandono do
seminário, o tão desejado casamento com Capitu, o enlace de Escobar com Sancha,
a amizade dos casais, o nascimento de Ezequiel, filho do personagem-narrador, a
felicidade. Escobar morre no mar e Capitu sofre tanto que Bentinho desconfia.
Uma desconfiança que aumentará dia após dia, uma dialética de suspeitas e
ciúmes: Bento vê no filho, Ezequiel os traços fisionômicos de Escobar. O
casamento se corrói pela traição (concreta?, real?) de Capitu, que parte para a
Europa com o filho, impelida pelo marido que já não os aceita. Anos depois,
Capitu morre, Ezequiel retorna para o Brasil (segundo o narrador, cada vez mais
parecido com Escobar), vai para a África e lá também morre. O processo de desagregação
de Bentinho estava concluído, restando-lhe enfrentar a solidão definitiva.
Esaú e Jacó
Quando o Conselheiro
Aires morre, encontra-se em seus papéis a narrativa em questão. É a história de
dois gêmeos, Pedro e Paulo, que já brigavam no ventre da mãe e que seguem adversários
na infância e na vida adulta e na maturidade. Um se forma médico, outro
advogado, um ingressa no partido conservador, outro no partido liberal. Um é
monarquista, outro vira republicano. Ambos, no entanto, se apaixonam pela mesma
moça, Flora. Esta oscila entre os gêmeos e termina morrendo sem optar por
nenhum. Pedro e Paulo reconciliam-se e prometem amizade fraternal para o resto
da vida, mas em seguidas rompem outra vez e seguem se odiando mutuamente. O
romance é muito lembrado por ser o único, na obra machadiana, em que fatos
históricos (a Abolição e a República) têm importância no entrecho. Nos
vestibulares aparece com freqüência o irônico episódio do cap. XLIX - Tabuleta
velha - em que um dono de confeitaria, Custódio, em meio à confusão histórica
(fim do Império, início da República) não sabe como designar a sua casa de
negócios.
Memorial de Aires
O mesmo Conselheiro
Aires, diplomata aposentado, escreve o seu diário cheio de finas observações
sobre a vida, num tom discreto e levemente nostálgico, abrandando aquele pessimismo
dos relatos anteriores de Machado de Assis. (No mundo ficcional, as memórias do
conselheiro são anteriores ao romance. Esaú e Jacó, do qual ele também é
o narrador). O conselheiro acompanha com interesse humano (talvez amoroso) a
jovem viúva Fidélia, praticamente adotada por um casal de velhos sem filhos,
Dona Carmo e Aguiar. Estes tinham experimentando uma grande decepção quando um
rapaz a quem se afeiçoou, como se fosse seu filho verdadeiro, Tristão mudara-se
para Lisboa com o fim de frequentar a escola de medicina. Tristão retorna e
acaba se casando com Fidélia. Em seguida, para tristeza dos velhos, o jovem
casal viaja para Europa. O romance termina com o Conselheiro Aires acompanhando
com discreta piedade a solidão do casal Aguiar e Carmo, no qual muito críticos
viram as figuras de Machado e de sua esposa, Carolina.
· Os temas
principais:
1 - O adultério:
Motivo central de Dom Casmurro e de uma série de contos, além de ser
motivo importante de Memórias póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba.
2 - O parasitismo
social: Reflexo de uma sociedade erigida sobre o trabalho do escravo. Parasitas
são quase todos os personagens de Machado, principalmente em Quincas Borba.
3 - A confusão entre
a razão e a loucura: As fronteiras estabelecidas entre a razão e a insanidade
são vagas e incertas. No conto O alienista desenvolve-se uma ironia
feroz contra as certezas cientificistas do século XIX.
4 - O egoísmo, a
vaidade, o interesse: Sem estes elementos nada ocorreria nos romances e contos
de Machado de Assis. Os personagens movem-se por orgulho ou cobiça, e os que
vivem por motivos mais nobres, em geral, são os enganados, os vencidos.
5 - A impossibilidade
de ação com grandeza: Se acompanharmos Brás Cubas, Bentinho e o mesmo Rubião, verão
apenas o inventário de mesquinharias e atitudes hipócritas que satisfazem a
moral das aparências.
6 - A hipocrisia:
Relaciona-se com aspecto do duplo comportamento humano. Intimamente, os seres
possuem determinadas facetas, ideias, sentimentos, mas, para satisfazer as
exigências sociais, dissimulam, falsificam a sua identidade. Trata-se de um
universo de véus e máscaras. Há uma alma interior e uma alma exterior: este é o
tema do conto O espelho. Às vezes, a aparência e a verdade se confundem
tanto que os indivíduos tomam uma pela outra: Capitu aparenta trair, Bentinho a
julga traidora.
7 - A ambiguidade
feminina: As mulheres no regime patriarcalista, inferiorizadas socialmente, são
impelidas a aprender regras de dissimulação e de sedução, e se servem delas
como armas. Muitas vezes, são elas que conduzem os homens desencadeando crises
e problemas. Sofia, Capitu, Virgília e dona Conceição – esta última do conto Missa
do galo - exemplificam este tipo de mulher.
8- O instinto e o
subconsciente como móveis dos atos humanos.
Processos linguísticos
e narrativos
1 - Quebra da
estrutura linear: Os romances são fragmentados por uma multiplicidade de
episódios e principalmente pelas contínuas digressões do narrador, que se faz
presente em todos os textos, opinando, julgando, relativizando tudo.
2 - A volubilidade do
narrador: O narrador afirma uma ideia e, em seguida, a destrói. Assim ele faz
com todos os sistemas e filosofias, anulando a todos. Nenhuma verdade é
absoluta. Tudo depende dos interesses de cada indivíduo. Nada é eterno ou
definitivo.
3 - Perfeição formal:
Os textos machadianos revelam não apenas um refinamento linguístico, mas também
uma forma trabalhada, limpa, perfeita.
Características das
obras
1 - Análise
psicológica: O romance de enredo linear é substituído pelo romance de
digressões e situações psicológicas. Os acontecimentos exteriores, a natureza,
o cenário, são descritos apenas quando provocam reações subjetivas nos
personagens.
2 - Análise dos
valores sociais: A crítica ao contexto social é um dos pilares das narrativas
de Machado de Assis. Tem plena consciência da brutalidade do patriarcalismo
brasileiro, do horror escravismo e da pequenez de nossa classe dominante. No
entanto, não é um escritor de protesto. Sua análise social não aparece na superfície,
está implícita no comportamento dos personagens.
3 - Pessimismo:
Decorrência da constatação da falência e da degradação dos valores que regem a
vida humana. O escritor assume uma posição de descrença absoluta em relação à saídas
religiosas, filosóficas e ideológicas.
O final de Brás Cubas
é bastante conhecido:
Este último capítulo
é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplastro, não fui ministro,
não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas,
coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. (...)
Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua
nem sobra, e conseguintemente saí quite com a vida. E imaginará mal; porque, ao
chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a
derradeira negativa deste capítulo de negativas: - Não tive filhos, não
transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria.
4 - Ironia: A
amargura e o desespero são tão fortes em Machado que se convertem em humor. Um
humor sutil, de entrelinhas, requintado e discreto, de tal forma que os
contemporâneos do escritor nunca chegaram a percebê-lo. A ironia do escritor
não atinge apenas os personagens, mas os leitores e o próprio formular da narrativa.
Outras atividades:
· Além de romancista
e contista, Machado de Assis deixou poemas, peças de teatro, crônicas e crítica
literária.
Não esqueça: Com
Machado de Assis, a literatura brasileira deixou de ser apenas uma manifestação
de "cor local", paisagem e exterioridade, tornando-se uma literatura
capaz de expressar de forma brasileira as contradições do homem universal.
3.
Raul
Pompéia
O Ateneu
· Presença de um
narrador em primeira pessoa (Sérgio).
· Fortes traços
autobiográficos no romance.
· Crítica ao
internato e à sociedade que ela expressa.
· Registro da
destruição psicológica e moral do menino Sérgio no internato.
· Corrupção do
ambiente (todos os personagens se degradam).
· Mundo dominado pelo
sexo, dinheiro e ânsia de poder.
· Teor caricatural
(sobretudo na figura de Aristarco, o diretor do colégio).
· As impressões do
passado são revividas pelo narrador.
· Inclusão do romance
no Realismo (por alguns críticos).
· Inclusão do romance
na estética impressionista (por outros críticos).
· Linguagem
trabalhada ("prosa artística").
4.
Aluísio
Azevedo
O mulato: (romance cuja ação
transcorre em São Luís do Maranhão, envolvendo denúncias contra o preconceito
de cor, a mediocridade da vida provinciana e a hipocrisia do clero. Jovem
mulato de origem misteriosa, Raimundo, volta a São Luís, após formar-se em
Portugal, buscando os seus antepassados e uma fortuna que lhe teria sido
subtraída. Termina apaixonando-se pela prima, branca e rica, Ana, e descobrindo
o próprio passado. Sob a inspiração de um padre corrupto, o cônego Diogo (que
estava sendo desmascarado pelo mulato), um ex-namorado de Ana assassina
Raimundo. O romance acaba com a indiferença de São Luís em relação ao
assassinato e o casamento de Ana com o criminoso).
O cortiço
· A concepção
biológica da existência - que chega ao extremo de considerar o próprio cortiço
um organismo vivo, sujeito às leis evolutivas;
· A predominância do
coletivo sobre o particular;
· O registro da
acumulação primitiva de capital (João Romão);
· O fatalismo que
condena os indivíduos a se tornarem o reflexo do cenário onde vivem: o
determinismo do meio do qual Jerônimo é o maior exemplo;
· O determinismo dos
instintos, traduzido especialmente por Pombinha;
· A identificação da
indolência, da bagunça e da sensualidade como uma forma tropical-brasileira de
ser. Um símbolo disso é a mulata Rita Baiana;
· A ótica nauseada do
narrador, que transforma todas as criaturas humanas em animais;
· Algumas tiradas
racistas, de acordo com os princípios "cientificistas" da época;
· A celebração de uma
extraordinária força vital, de uma selvagem vibração dos instintos e de uma
fervilhante alegria de existir e de sobreviver em condições tão adversas.
VII – PARNASIANISMO
Surgimento: França,
década de 1860 - Brasil, década de 1880.
Características:
1 - Reação à poesia romântica (tentativa de poesia realista)
2 - Objetividade e
impassibilidade do poeta.
3 - Culto à forma,
entendida como métrica, rima e versificação.
4 - Utilização de
fórmulas poéticas fixas como o soneto.
5 - Arte pela arte: a
arte só tem compromisso com sua beleza.
6 - Temas principais:
Antiguidade greco-romana; discussão sobre a própria poesia; descrição de cenas
da natureza e de objetos.
Parnasianismo no
Brasil
· Literatura
descompromissada das elites
· Ampla dominação
cultural parnasiana (1882-1922) que desencadeia, por oposição, a Semana de Arte
Moderna.
A tríade parnasiana
1)
Olavo
Bilac (Tarde, Poesias, Via-Láctea, Sarças de fogo).
Temas principais:
Natureza - Pátria - Antiguidade greco-romana - Amor sensual e amor platônico - Questionamento
da própria poesia.
Características
básicas: Rigidez métrica e luta pela perfeição formal - Desvios na objetividade
parnasiana, resultantes de uma pretensa "herança romântica" que se
traduz em temas subjetivos como o amor (seja o erótico, seja o platônico) e o
nacionalismo.
Poemas mais
conhecidos: Profissão de fé - In extremis - O caçador de
esmeraldas.
2)
Raimundo
Correia (Meridionais)
Temas principais:
Natureza - Melancolia da existência.
Características
básicas: Recursos visuais (plásticos) e sonoros na confecção dos versos -
Tentativa de um sentido filosofante na poesia em geral.
Poemas mais
conhecidos: As pombas - Mal secreto.
3)
Alberto
de Oliveira
Temas principais:
Natureza - Descritivismo de objetos.
Característica
básica: Adesão completa e rígida a todos os princípios do movimento.
VIII – SIMBOLISMO
Surgimento: França,
1880, com Verlaine, Mallarmé e Rimbaud.
Características:
1)
Reação
subjetivista ao descritivismo parnasiano.
2) Abandono das fórmulas
poéticas rígidas.
3) A poesia deve ser um
processo de sugestões (sugerir = não dizer, não nomear).
4)
Sugestão
através de símbolos, de metáforas originais, de uma linguagem cifrada.
5)
Sugestão
através da musicalidade da linguagem (uso de aliterações).
6) Culto do mistério, do
espiritualismo e do misticismo.
7)
Descoberta
das camadas profundas da vida psíquica.
8)
Domínio
do vago, do obscuro, do nebuloso, do inefável.
SIMBOLISMO NO BRASIL
- Movimento surgido
em províncias intelectualmente sem importância, na época: Santa Catarina, Rio
Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais.
- Pequena ressonância
na época e forte influência (dos simbolistas europeus) nos anos de 1910, 20 e
30 sobre as obras de Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Mário Quintana e
Vinícius de Moraes.
1)
CRUZ
E SOUSA
Missal - Broquéis -
Faróis - Evocações - Últimos sonetos.
Temas básicos:
- A obsessão pela cor
branca.
- O erotismo
sublimado.
- O sofrimento da
condição negra.
- O sofrimento da
condição humana.
- Espiritualização e
religiosidade.
- Linguagem
metafórica e musical.
2)
ALPHONSUS
DE GUIMARAENS
Câmera ardente - Dona
Mística – Septenário das dores de Nossa Senhora.
Temas básicos:
- A morte da noiva.
- A sublimação da perda
da noiva através do misticismo religioso.
- A paisagem
fantasmagórica das cidades mineiras.
- Linguagem de rica
musicalidade e, por vezes, litúrgica.
3)
PEDRO
KILKERRY
- Poesia
fragmentária, difícil.
- inovações de
linguagem.
· IX - PRÉ-MODERNISMO
Período de
abrangência: 1902 a 1922.
Período eclético*:
· grupo passadista
(parnasianos e simbolistas retardatários).
· grupo renovador (sob
variadas linguagens, com predomínio da prosa neorrealista, um conjunto de
escritores – sem um projeto comum – tenta olhar para o país de uma forma mais
ou menos crítica).
* eclético - mistura
de várias tendências.
1.
Euclides
da Cunha
Os sertões
· Relato sobre a
guerra de Canudos travada entre sertanejos fanáticos e soldados do exército.
· A base fatual do
relato são as reportagens que E.C. enviou para o jornal durante o confronto.
· A obra se divide –
de acordo com as teses deterministas que a delimitam (Taine: meio, raça e
momento) em A terra – O homem – A luta.
· As teses
cientificistas de E. C. estão mais presentes nas duas primeiras partes da obra.
· Em O homem,
o sertanejo é apresentado, simultaneamente, como uma "sub-raça",
"raça degenerescida" e como um "forte", um "titã de
cobre".
· A luta –
parte mais importante – é uma mescla de texto científico, resgate histórico,
reportagem jornalística, narrativa romanesca, análise da guerra, denúncia da
chacina dos sertanejos e uma profunda interpretação do Brasil.
· A percepção da
guerra como tradução da existência de dois Brasis – um civilizado e moderno e
outro arcaico e primitivo – dois Brasis sem unidade, sem um núcleo comum,
constitui a grande colaboração de E. C. para a consciência dos brasileiros da
época a respeito do seu próprio país.
Não esqueça: A
linguagem – extraordinariamente elaborada, ornamental, difícil, poética,
barroca em suas antíteses, em suas metáforas e em seus paradoxos – é o que
confere caráter literário ao texto.
2.
Lima
Barreto
· Relatos
neo-realistas, de estilo simples, mais ou menos desleixados na linguagem.
· Valorização da vida
suburbana e das camadas pobres do Rio de Janeiro.
· Caricatura dirigida
aos poderosos da época (políticos e letrados, em especial).
· Ironia corrosiva ao
nacionalismo ufanista.
· Denúncia dos
preconceitos sociais e de cor (o autor era mulato).
Triste fim de Policarpo
Quaresma (Relato
centrado em um burocrata visionário, dominado por formulações de nacionalismo
ufanista e que, por isso, crê piamente na grandezas convencionais da nação. A
narrativa é a da perda progressiva de seus ideais, perseguidos e destroçados
pela realidade, como, por exemplo, a sua fracassada experiência agrícola e a
sua consciência da brutalidade das elites, após o episódio da Revolta da Armada
(1893). Por protestar contra a violência do próprio governo que ajudara a
defender, Policarpo Quaresma será preso e fuzilado.)
Recordações do
escrivão Isaías Caminha (O jovem mulato Isaías Caminha sai do interior em busca
de uma chance no Rio de Janeiro, mas o preconceito de cor impedem-no de
alçar-se, restando-lhe apenas um trabalho subalterno num diário da antiga
capital federal. No final do romance, furando uma greve dos companheiros, Isaías
Caminha acaba virando editor do jornal e depois, pelos bons serviços prestados
ao patrão, recebe um cartório de presente e torna-se escrivão ou tabelião, como
diríamos hoje).
3.
Augusto
dos Anjos
Eu
· Poesia com traços
parnasianos, simbolistas e pré-modernistas.
· Os aspectos
pré-modernistas estão presentes em alguns versos de extremo coloquialismo e na
incorporação da temática da "sujeira da vida" e do grotesco, muito
comuns na poesia moderna.
· Utilização frequente
de termos científicos da medicina e da biologia, de acordo com as tendências naturalistas/evolucionistas
vindas do século XIX.
· Apresenta uma
obsessão pela morte, nas formas mais degradadas que ela pode apresentar:
podridão da carne, cadáveres fétidos, corpos decompostos, vermes famintos e
fedor de cemitérios.
· Dominada pelo
niilismo, a poesia de Augusto dos Anjos questiona a falta de sentido da
existência e verte um nojo amargo e desesperado pelo fim inglório a que a
natureza nos condena.
· A angústia diante
da morte transforma-se numa espécie de metafísica do horror: o homem não passa
de matéria que acaba, que entra em putrefação e que depois desaparece.
4.
Monteiro
Lobato
Literatura geral (adulta):
Urupês, Cidades mortas, Negrinha.
· contos com ênfase
em soluções patéticas, macabras ou anedóticas.
· estrutura do conto
e de linguagem presa ao modelo realista tradicional.
· registro da zona
cafeicultura decadente do interior paulista (Cidades mortas).
· criação da figura
do caboclo brasileiro (o caipira) – Jeca Tatu.
Literatura
infanto-juvenil: O sítio do pica-pau amarelo.
· mescla de fantasia,
realidade e informação.
· presença de um
cenário típico do interior brasileiro (o sítio).
5.
Simões
Lopes Neto
Lendas do Sul – Casos
do Romualdo – Contos gauchescos.
· Forte presença da
cultura regional sul-rio-grandense.
· Utilização de
lendas como a do Negrinho do pastoreio e da Salamanca do Jarau (Lendas
do Sul).
· Na obra-prima (Contos
gauchescos) há uma mescla de:
a)
costumes
da campanha rio-grandense.
b)
registro
da vida cotidiana.
c) fixação da linguagem específica da
região (com grande número
de espanholismos e
alguns neologismos)
· O narrador de Contos
gauchescos é um vaqueano de quase 90 anos (Blau Nunes) que evoca histórias
que viveu, presenciou ou escutou.
· O fato de o
narrador ser oriundo das camadas populares ocasiona uma intensa oralidade em
sua forma de narrar às histórias.
· No conjunto, os Contos
gauchescos apresentam simultaneamente uma louvação do gaúcho (coragem, audácia,
honestidade e cavalheirismo) e uma crítica implacável à violência que campeia
no pampa.
Não esqueça: Apesar
do tom regionalista dos relatos de Simões Lopes, as paixões humanas que animam
os mesmos ultrapassam a condição localista e se situam numa dimensão universal.
Assim o drama específico do pampa rio-grandense adquire interesse para leitores
de todos os quadrantes.
6. GRAÇA ARANHA
Canaã: Romance de tese (ou
de ideias ou ainda romance-ensaio), centrado no debate ideológico entre dois imigrantes
alemães, Milkau e Lentz, recém chegados ao Espírito Santo. Há uma discussão
sobre o futuro da sociedade brasileira, discussão esta centrada nas ideias de
clima e de raça. A linguagem da obra tem certos acentos impressionistas.
X – MODERNISMO
A SEMANA DE ARTE
MODERNA
Antecedentes
europeus: as vanguardas.
Futurismo, Cubismo,
Dadaísmo (o Surrealismo não influenciou diretamente a Semana, mas apenas o movimento
da Antropofagia, de Oswald de Andrade).
Futurismo: Fundado
pelo italiano Marinetti, foi o movimento de vanguarda que mais influenciou os
nossos modernistas. Propunha uma ruptura total com o passado. Ao mesmo tempo, exaltava
o "esplendor geométrico e mecânico do mundo moderno". Isso
significava cantar a máquina, o aeroplano, o asfalto, o cinematógrafo. No plano
formal, os futuristas suprimiram o eu poético, a pontuação, os adjetivos e
usavam apenas o verbo no infinitivo, etc.
Antecedentes
brasileiros:
· A publicação, em
1917, de diversos livros de poemas em que jovens autores buscavam uma nova
linguagem, ainda não bem realizada. (Nós, de Guilherme de Almeida; Juca
Mulato, de Menotti del Picchia; Cinza das horas, de Manuel Bandeira;
e Há uma gota de sangue em cada poema, de Mário de Andrade).
· A célebre exposição
de Anita Malfatti, em 1917, e que foi duramente criticada por Monteiro Lobato
em seu célebre artigo Paranoia ou mistificação. Jovens artistas
paulistanos saíram, então, em defesa da pintora, criando uma polêmica que os
ajudou a formar um grupo desejoso de mudar a arte e a cultura brasileira.
A semana de Arte
Moderna
Realizada em
fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo, a Semana representou a
ruptura barulhenta com os princípios estéticos do passado.
A proposição de uma
"semana" (na verdade, foram só três noites) implicava uma amostragem
geral da prática modernista. Programaram-se conferências, recitais, exposições,
leituras, etc. O momento mais sensacional deu-se na segunda noite, quando
Ronald de Carvalho leu um poema de Manuel Bandeira:
Os sapos, uma ironia corrosiva aos
parnasianos que ainda dominavam o gosto do público.
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
‘- Meu pai foi à
guerra
- Não foi! - Foi! -
Não foi!’
O sapo-tanoeiro
Parnasiano aguado
Diz: - Meu
cancioneiro
É bem martelado.
Principais
participantes da Semana
Literatura:
Mário de Andrade -
Oswald de Andrade - Graça Aranha - Ronald de Carvalho - Menotti del Picchia –
Guilherme de Almeida.
Música e Artes
Plásticas:
Anita Malfatti - Di
Cavalcanti – Santa Rosa - Villa-Lobos - Guiomar Novaes.
A importância
estética da Semana
A Semana significou
também o atestado de óbito da arte dominante. O academicismo plástico, o
romantismo musical e o parnasianismo literário esboroaram-se por inteiro. Os
autores modernistas colocaram a renovação estética acima de outras
preocupações. O principal inimigo eram as formas artísticas do passado.
Caberia a Mário de
Andrade - verdadeiro líder e principal teórico do movimento - sintetizar a
herança de 1922:
· A estabilização de
uma consciência criadora nacional, preocupada em expressar a realidade
brasileira.
· A atualização
intelectual com as vanguardas europeias.
· O direito
permanente de pesquisa e criação estética.
A Semana e a
realidade brasileira
A Semana de Arte
Moderna insere-se num quadro mais amplo da realidade brasileira. Vários
historiadores já a relacionaram com a revolta tenentista e com a criação do
Partido Comunista, ambas de 1922. Embora as aproximações não sejam imediatas, é
flagrante o desejo de mudanças que varria o país, fosse no campo artístico,
fosse no campo político.
O Modernismo de 22 a
30 (Fase de destruição e experimentação).
O projeto dos
modernistas pode ser dividido em três linhas básicas que se conjugam:
A)
Desintegração
da linguagem tradicional:
Questiona-se a arte
acadêmica e suas fórmulas envelhecidas. O estilo parnasiano e o bacharelismo
são os alvos prediletos dos ataques modernizadores. Para efetivar tal
destruição, usa-se a paródia, o poema-piada, o sarcasmo.
B)
Adoção
das conquistas das vanguardas:
A liberdade de
expressão, a visão do cotidiano, a linguagem coloquial e outras inovações
desenvolvidas pelas vanguardas europeias são assimiladas, ainda que
desordenadamente, pela geração de 22. A revista Klaxon, de 1922, e os
primeiros textos publicados no ano da Semana mostram essa preocupação com a contemporaneidade.
Não tem fundamento, portanto, a afirmativa de que os modernistas seriam
antieuropeus.
A identificação com
as velhas matrizes culturais ainda é evidente.
C)
Busca
da expressão nacional:
Em 1924, em Paris,
Oswald de Andrade assiste a uma exposição de máscaras africanas. Elas parecem expressar
a identidade dos povos negros da África. Nesse momento, o escritor se
interroga: "E nós, os brasileiros, quem somos?
Atrás dessa pergunta,
começa a se delinear a luta por um abrasileiramento temático. Antes, as
questões fundamentais eram estéticas. A partir de agora passam a ser também
ideológicas: sonha-se com a delimitação de uma cultura brasileira, de uma alma
verde-amarela.
A saída primitivista:
O novo nacionalismo
irá assumir uma perspectiva crítica, um tom anárquico e desabusado. Celebra-se
o primitivismo, isto é, as nossas origens indígenas e extra-europeias. As civilizações
aborígenes e também no folclore, nos aspectos míticos e lendários da cultura
popular, quer se descobrir a essência do Brasil.
Esta pesquisa de uma
subjacente alma nacional só poderia ser realizada, no entanto, com o
instrumental artístico da modernidade. Assim, o Brasil seria uma síntese entre
o primitivo e o inovador.
Os movimentos
primitivistas:
Pau-Brasil.
Lançado em março de
1924, o Manifesto da Poesia Pau-Brasil trazia como ideias-chave:
· A junção do moderno
e do arcaico brasileiros: "A poesia existe nos fatos. Os casebres de
açafrão e de ocre nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos
astéticos (...) A reza. O Carnaval. A energia íntima. O sabiá. A hospitalidade
um pouco sensual, amorosa. A saudade dos pajés e os campos de avaliação militar.
Pau- Brasil."
· A ironia contra o
bacharelismo: "O lado doutor, o lado citações, o lado autores
conhecidos. Comovente. (...) A riqueza dos bailes e das frases feitas.(...)
Falar difícil."
· A luta por uma nova
linguagem: "A língua sem arcaísmo, sem erudição. Natural e neológica. A
contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos. (...)
Contra a cópia, pela invenção e pela surpresa."
· A descoberta do
popular: O Pau-Brasil descortina para os modernistas o universo mítico e
ingênuo das camadas populares: "O Carnaval é o acontecimento religioso
da raça. Pau-Brasil. Wagner submerge ante os cordões de Botafogo. A
formação étnica rica. Riqueza vegetal."
Antropofagia:
O manifesto
antropofágico, lançado em 1928, amplia as idéias do Pau-Brasil, através dos
seguintes elementos:
· A insistência
radical no caráter indígena de nossas raízes: "Tupy or not tupy that is
the question".
· O humor como forma
crítica e traço distintivo do caráter brasileiro: "A alegria é a prova
dos nove".
· A criação de uma
utopia brasileira, centrada numa sociedade matriarcal, anárquica e sem
repressões: "Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada
por Freud - a realidade sem complexos, sem loucura, sem prostituições e sem
penitenciárias do matriarcado de Pindorama."
· A postura
antropofágica como alternativa entre o nacionalismo conservador, anti-europeu e
a pura cópia dos valores ocidentais: "Nunca fomos catequizados.(...)
Fizemos Cristo nascer na Bahia. Ou em Belém do Pará."
Caberia a Mário de Andrade,
com o romance Macunaíma, e a Raul Bopp, com o poema Cobra Norato,
a tentativa de levar para a criação literária as ideias do Manifesto.
Não esqueça: Nos anos
de 1967, Caetano Veloso e outros compositores populares – através do
Tropicalismo – voltam a acenar com os princípios antropofágicos para combater a
estreiteza da chamada M.P.B., que rejeitava a incorporação de elementos da
música pop internacional à música brasileira.
Verde-Amarelo (1924)
e Anta (1928):
Com a participação de
Cassiano Ricardo, Menotti del Picchia e Plínio Salgado, estas tendências
opõem-se ao primitivismo destruidor e debochado dos "antropófagos"
através do reforço do "sentido de brasilidade" e de uma tendência
conservadora e direitista no plano social.
Características da
literatura modernista
A)
Liberdade
de expressão:.
A importância maior
das vanguardas residiu no triunfo de uma concepção inteiramente libertária da
criação artística. Poética, de Manuel Bandeira, é um manifesto dessa
nova postura, com seu célebre verso final:
Não quero mais saber
de lirismo que não é libertação.
B)
Incorporação
do cotidiano:
O prosaico, o diário,
o grosseiro, o vulgar, o resíduo e o lixo tornam-se os motivos centrais da nova
estética. À grandiosidade da paisagem, Manuel Bandeira sobrepõe à humildade do
beco:
Que importa a
paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte?
- O que eu vejo é o
beco.
C)
Linguagem
coloquial
A linguagem torna-se
coloquial, espontânea, mesclando expressões da língua culta com termos
populares, o estilo elevado com o estilo vulgar. O artista volta-se para uma
forma prosaica de dizer, feita de palavras simples e que, inclusive, admite
erros gramaticais, conforme se vê neste poema de Oswald de Andrade:
Para dizerem milho
dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem
teiado
E vão fazendo
telhados.
D)
Inovações
técnicas:
· Verso livre.
· Destruição dos
nexos.
· Paronomásia (junção
de palavras de sonoridade muito parecida, mas de significado diferente).
· Enumeração caótica.
· Colagem e montagem
cinematográfica.
· Liberdade no uso
dos sinais de pontuação.
Os autores de 1922:
1.
Oswald
de Andrade (1890-1954).
Obras principais:
Poesia: Poesia do
pau-brasil (1922).
Teatro: O rei da
vela (1937).
Romances: Memórias
sentimentais de João Miramar (1924); Serafim Ponte Grande (1937).
Os romances da
destruição:
· Os dois romances
acima (ou anti-romances) desobedecem aos padrões tradicionais da narrativa,
diluindo a separação entre prosa e poesia.
· Apresentam
metáforas ousadas, neologismos e são totalmente fragmentários. Há uma grande
quantidade de "capítulos-relâmpagos".
No conjunto, os
romances de Oswald de Andrade são descontínuos e antidiscursivos, predominando
neles a ideia de montagem cinematográfica, isto é, da técnica do corte e da colagem
dos múltiplos fragmentos.
Como registrou uma
estudiosa, eles "apresentam várias modalidades de linguagem: a
cotidiana, a caipira, a bacharelesca, a de composições infantis, a dos diários
íntimos. Inclui ainda os clichês, as frases feitas, piadas, neologismos,
palavrões, etc..."
2 - Mário de Andrade
(1893-1945)
Obras principais:
Poesia: Paulicéia
desvairada (1922); Clã do jabuti (1927); Lira paulistana (1946).
A obra mais
importante é Paulicéia desvairada até por causa de seu prefácio,
denominado pelo autor Prefácio interessantíssimo. Nele, Mário teorizara
sobre sua própria poesia e sobre as tendências modernistas do novo lirismo:
"Não sou
futurista (de Marinetti). Disse e repito-o. Tenho pontos de contacto com o
futurismo. Oswald de Andrade chamando-me de futurista errou.(...). Escrever
arte moderna não significa jamais para mim representar a vida atual no que tem
de exterior: automóveis, cinema, asfalto. 'Si' estas palavras frequentam o
livro não é porque pense com elas escrever moderno, mas porque sendo meu livro
moderno, elas têm nele sua razão de ser."
Ficção: Amar,
verbo intransitivo (1927); Macunaíma (1928); Contos novos (1946).
Macunaíma: o herói
sem nenhum caráter.
Macunaíma representa a adesão
de Mário ao nacionalismo primitivista. Desde o início, o romance (ou a rapsódia,
como queria o autor) apela para o suporte mitológico: a lenda indígena de
Macunaíma é a base do texto. Há também no texto lendas sertanejas e caboclas,
misturadas com os aspectos mágicos da cultura afrobrasileira, etc.
O esforço de síntese
percorre toda a rapsódia: síntese cultural, lingüística, geográfica,
psicológica.
As andanças de
Macunaíma da selva à cidade, em busca da pedra mágica (o muiraquitã),
roubada pelo gigante Wenceslau, seus amores e aventuras servem para levantar os
traços definidores daquilo que seria o caráter do homem brasileiro.
O "herói de
nossa gente" tem como características a preguiça, a irreverência, o
deboche e uma sensualidade intensa. Em resumo, estamos frente á malandragem.
Mas, de certa forma, é uma malandragem derrotada, pois Macunaíma retorna à
selva, só lhe restando um destino mítico: subir aos céus e virar constelação.
Não esqueça: Em sua
linguagem tão múltipla, o relato satiriza os padrões da escrita acadêmica. A
carta que Macunaíma envia às icamiabas (índias amazonas), por exemplo, é uma
paródia da retórica bacharelesca que sempre caracterizou os letrados
brasileiros.
Outros autores de
1922
Raul Bopp - Cobra
Norato (poesia).
· Vinculação à
antropofagia.
· Poema baseado numa
lenda amazônica. Antônio de Alcântara Machado - Brás, Bexiga e Barra Funda (contos).
· Realismo irônico e
sentimental.
· Valorização do
imigrante italiano.
· Estilo coloquial.
XI - A POESIA MODERNA
1.
Manuel
Bandeira (1886-1968)
Obras principais: Cinza
das horas (1917); Carnaval (1919); Ritmo dissoluto (1924); Libertinagem
(1930).
Estrela da manhã (1936); Lira dos
cinquent'anos (1948); Estrela da tarde (1963).
Características
gerais da poesia:
· Fusão entre a
confissão pessoal e a vida cotidiana.
· Um clima de desejo
insatisfeito e amargurado percorre a sua obra. A tuberculose impediu-o de viver
profundamente. Desta forma, a poesia representou para ele "toda a vida
que podia ter sido e que não foi."
· Os poemas Vou-me
embora pra Pasárgada ("Vou-me embora pra Pasárgada / Lá sou amigo do rei /
Lá tenho a mulher que eu quero / Na cama que escolherei"), Balada das três
mulheres do sabonete Araxá e Estrela da manhã se inserem nesta linha
do desejo insatisfeito.
· Outro tema
dominante em sua poesia é o da morte.
· Bandeira é também
um grande poeta do cotidiano: descobre o lirismo perdido nos becos, nos
arrabaldes, em pobres quartos de hotel e em tudo que é irrisório e banal.
· Sua expressão
poética é de absoluta simplicidade. Uma simplicidade que o levou a desconsiderar
(equivocadamente) a importância de sua própria poesia:
Criou-me, desde eu
menino
Para arquiteto meu
pai
Foi-se-me um dia a
saúde...
Fiz-me arquiteto? Não
pude!
Sou poeta menor,
perdoai!
Não esqueça: Manuel
Bandeira é o poeta que melhor realiza a síntese entre a grande tradição da
lírica ocidental e a radicalidade da poesia moderna. Da tradição, herda os
temas universais (morte, infância, desejo amoroso, questionamento da vida). Do
modernismo, o coloquial, o cotidiano e o verso livre.
2.
Cecília
Meireles (1901-1964)
Obras principais: Viagem
(1939); Vaga música (1942); Mar absoluto (1945); O
romanceiro da Inconfidência (1953).
Características
gerais:
· Uma poesia presa à
tradição lírica do passado.
· Há nela forte
herança simbolista: a maioria das obras expressa estados de ânimo, vagos e
quase incorpóreos.
Além disso, certas
imagens naturais como o mar, a areia, a espuma, a lua, o vento etc., por sua
repetição obsessiva, acabam também ganhando uma dimensão simbólica.
· Predominam os
sentimentos de perda amorosa e solidão. A atmosfera de dor existencial é
ampliada pela insistência no tema da passagem do tempo.
· Sua linguagem é
elevada, sublime, com pouca presença do coloquial.
O romanceiro da
Inconfidência:
É a sua experiência
poética mais significativa. Para escrevê-lo, pesquisou todos os elementos
históricos que compuseram o evento. Ao mesmo tempo, encontrou uma forma poética
específica do passado ibérico: o romanceiro.
Trata-se de um
conjunto de poemas narrativos, unidos por um tema central. Cada poema é um romance.
Composto por oitenta
e cinco romances, O romanceiro da Inconfidência oferece uma visão
dramática e lírica da sociedade mineira do século XVIII, de suas principais
figuras humanas e do levante republicano abortado pela denúncia de Joaquim
Silvério:
Melhor negócio que
Judas
fazes tu, Joaquim
Silvério:
que ele traiu Jesus
Cristo
tu trais um simples
Alferes...
Não esqueça: O
romanceiro da Inconfidência é um texto que parte de uma reflexão sobre a
história concreta do levante mineiro e alcança uma dimensão lírica superior,
tornando-se uma interrogação sobre o sentido das ações humanas.
3.
Mário
Quintana (1906- 1994)
Obras principais: Rua
dos cataventos (1940); Sapato florido (1948); Espelho mágico (1951);
O aprendiz de feiticeiro (1950); Do caderno H (1973); Apontamentos
de história sobrenatural (1976); Velório sem defunto (1990).
Características
principais:
· Herança simbolista.
· Temática da morte e
da tristeza das coisas.
· Linguagem de
absoluta simplicidade.
A melancolia dos
versos está determinada por um clima de derrocada pessoal. O indivíduo percebe
o fim de tudo e sente-se perdido numa realidade imprecisa, cheia de noites
silenciosas e de cenas surreais, indicando a herança simbolista. A ideia da
morte perpassa todo o discurso poético:
Da vez primeira em
que me assassinaram
Perdi um jeito de
sorrir que eu tinha...
Depois, de cada vez
que me mataram,
Foram levando
qualquer coisa minha...
Os poemas em prosa ·
Aparecem em Sapato florido e em Do caderno H.
· São poemas curtos
em prosa. Lembram epigramas, pois são curtos e geralmente irônicos. Uma ironia estabelecida
sobre o cotidiano. O poeta mergulha na vida prosaica, surpreendendo-lhe os
aspectos risíveis, insólitos ou até mesmo trágicos.
· Manuel Bandeira
denominou "quintanares" a esses poemas curtos.
Cartaz para uma Feira
do Livro:
Os verdadeiros
analfabetos são os que aprenderam a ler e não leem.
Indecência.
Na verdade, a coisa
mais pornográfica é a palavra 'pornografia'.
4.
Jorge
Lima (1893-1953)
Obras principais: A
túnica inconsútil (1938); Poemas negros (1947); Invensão de Orfeu
(1952).
· Sua carreira
poética iniciou-se sob o signo parnasiano.
· Apresenta uma fase
nordestina caracterizada pela registro poético da realidade existencial,
cultural e histórica da região. O popular aparece identificado com o mundo dos
engenhos decadentes.
· Captação (com uma
linguagem cheia de expressões populares) do saber, das crenças e dos aspectos pitorescos
desse universo rural nordestino.
· Valorização da
religiosidade de substrato católico.
· Teve ainda uma fase
de celebração da cultura negra, seus ritmos e costumes. Usou um linguajar afro-brasileiro
para conferir maior verdade antropológica e lingüística aos textos. Essa negra
Fulô louva o sensualismo das escravas e virou peça antológica:
Ora, se deu que
chegou
(isso já faz muito
tempo)
no bangüê dum meu avô
uma negra bonitinha
chamada Fulô (...)
Sinhô foi ver a negra
levar couro do feitor
A negra tirou a
roupa.
O Sinhô disse: Fulô!
(A vista se escureceu
que nem a negra
Fulô.)
5.
Murilo
Mendes (1901-1976)
Obras principais: Tempo
e eternidade (com Jorge de Lima, 1935); As Metamorfoses (1944); Contemplação
de Ouro Preto (1954).
· Começa com uma
poesia de inspiração modernista, em que predominava o humor.
· Depois, sua poesia
assume uma dimensão religiosa, requintada e quase hermética.
· Apresenta uma
linguagem próxima do surrealismo, definida por alucinações, uso de símbolos e
alegorias e acentuada abstração da vida cotidiana.
6.
Vinícius
de Moraes (1913-1980)
Obras principais: Novos
poemas (1938); Cinco elegias (1943); Poemas, sonetos e baladas (1946).
A obra de Vinícius de
Moraes divide-se em duas fases:
I - A primeira fase
insere-se na linha de um neo-simbolismo, de conotações místicas, em que há um
debate entre as solicitações da alma e as do corpo.
II - A segunda fase,
iniciada com Cinco elegias, assinala a explosão de uma poesia mais
viril. "Nela – segundo o próprio Vinícius - estão nitidamente marcados os
movimentos de aproximação do mundo material, com a difícil mas consciente
repulsa ao idealismo dos primeiros anos."
Características
principais:
· Sua tendência ao
verbalismo é contida pelo uso frequente do soneto.
· Seu grande tema é o
amor. O amor em suas múltiplas manifestações: saudade, carência, desejo,
paixão, espanto. Registra uma nova concepção sentimental, mais concreta, mais
livre de preconceitos, mais atenta às mulheres. Em seus poemas, destrói noções
como a da eternidade do amor - dogma do Brasil patriarcal – em versos célebres
como aquele "que seja eterno enquanto dure", extraído do Soneto
da fidelidade.
· A partir dos anos
de 1940 e 1950, o poeta se inclina por uma lírica comprometida com o cotidiano,
buscando inclusive os grandes dramas sociais do nosso tempo. (O operário em
construção e Rosa de Hiroshima, cujos versos iniciais transcrevemos,
são os exemplos mais conhecidos):
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Não esqueça: Além de
poeta, Vinícius de Moraes trilhou com êxito a carreira de compositor de música
popular, tornando-se o grande letrista da Bossa Nova, com clássicos como Garota
de Ipanema e Chega de saudade. A exemplo do soneto, a canção
obrigou-o a restringir seus excessos verbais.
7.
Carlos
Drummond de Andrade (1902-1989)
Obras principais: Alguma
poesia (1930); Brejo das almas (1934); Sentimento do mundo (1940);
A rosa do povo (1945); Claro enigma (1951); Fazendeiro do ar (1954);
Lição de coisas (1962); Boitempo (1968); As impurezas do branco
(1974); O corpo (1984); Amar se aprende amando (1985).
Obras em prosa: Fala,
amendoeira e Cadeira de balanço (crônicas); Contos de aprendiz.
Características
principais:
· A multiplicidade
quase infinita de assuntos. A rigor, podemos dizer que a sua obra estrutura-se
sobre sete temas básicos: a poesia social; a de reflexão existencial (o eu e o
mundo); a poesia sobre a própria poesia; a do passado; a do amor; a do
cotidiano; a da celebração dos amigos.
· A linguagem de
impressionante invenção e capacidade sugestiva, herdeira tanto da tradição
lírica ocidental (o tom sublime e elevado) quanto das experiências radicais dos
vanguardistas do século XX (a dicção coloquial e prosaica). Uma linguagem capaz
de explorar as infinitas faces das palavras, gerando uma expressão de notável riqueza
polissêmica e, portanto, de não menos notável possibilidade interpretativa.
· A presença do
gauche, visível no Poema de sete faces, que abre o primeiro livro, Alguma
poesia, e que prosseguiria como um dos elementos mais inusitados da
personalidade poética do escritor: "Quando nasci, um anjo torto
/ desses que vivem na sombra / disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida." O
gauche (esquerdo, em francês) é o anti-herói, o torto, o desajeitado, o
errado, o sujeito em desacerto com o mundo, para quem as coisas não dão certas.
· Um intenso "humour"
– um dos elementos-chave para a compreensão de sua obra – que é o humor
sutil, quase sempre corrosivo, uma espécie de olhar enviesado sobre a realidade
e que esconde, sob o seu manto, uma complexa reflexão a respeito do sentido das
coisas, conforme podemos observar em poemas célebres como Quadrilha e No
meio do caminho.
· O aspecto nuclear
da obra de Drummond é o da reflexão existencial. Sua poesia exprime, como
nenhuma outra no país, a angústia da alma humana frente às correntezas convulsas
do destino. A solidão, a incomunicabilidade, a lógica misteriosa da existência,
o fluir do tempo, a relação de perdas e ganhos na trajetória do homem, a luta
do ser contra a morte e a procura uma saída redentora para o indivíduo
constituem os principais motivos desta lírica filosófica. Um dos exemplos mais
conhecidos é José:
E agora, José?
A festa acabou
a luz apagou
o povo sumiu
a noite esfriou
e agora José?
e agora, você?
você que é sem nome
que zomba dos outros,
você que faz versos
que ama, protesta?
e agora, José?
XI - O ROMANCE DE
1930
(A vitória do
neo-realismo)
(Conjunto de
narrativas, escritas entre os anos de 1930 e 1960, por um mesma geração,
oriunda de famílias oligárquicas decadentes, com uma visão de mundo crítica, um
sentido missionário da literatura e padrões cartísticos bastante próximos do
realismo do século XIX).
Características:
· Ênfase nas questões
ideológicas e sociais. E não mais no projeto estético da geração de 1922.
· Rejeição ao
experimentalismo técnico e ao gosto pela paródia, substituídos por um realismo
mais ou menos trivial: retrato direto da realidade, busca da verossimilhança,
linearidade narrativa, etc.
· Tipificação social
explícita (indivíduos que representam as várias classes sociais).
· Construção de um
mundo ficcional que deve dar a idéia de abrangência e totalidade.
· Tomada de
consciência do subdesenvolvimento (atraso e miséria do país).
· Denúncia contínua
da situação opressiva vivida por camponeses e operários.
· Tentativa de
comunicação com as massas através de uma linguagem coloquial.
· Valorização da
realidade rural que levou os críticos a designarem o período como regionalista.
Os mundos narrados:
1)
Romances
de temática agrária:
A)
A
ascensão e queda dos coronéis: Banguê e Fogo morto, de José Lins
do Rego; Terras do sem fim e São Jorge dos Ilhéus, de Jorge
Amado; e O tempo e o vento, de Erico Verissimo. Estes relatos oscilam
entre a saga (exaltação com traços épicos) e a crítica mais
contundente, seja a ideológica (Jorge Amado), seja a ética (Érico
Veríssimo). No caso específico de José Lins do Rego, predomina um tom
nostálgico e melancólico diante das ruínas dos engenhos.
B)
Os
dramas dos trabalhadores rurais: Seara vermelha, de Jorge Amado; e Vidas
secas, de Graciliano Ramos. Ambos correspondem a uma impugnação da
realidade latifundiária nordestina.
C)
O
confronto entre o Brasil rural e o Brasil urbano, visível no choque entre Paulo
Honório e Madalena em São Bernardo, de Graciliano Ramos. A
obra sintetiza o descompasso entre a mentalidade patriarcal-latifundiária e a
urbana modernizada. Também de Graciliano Ramos, Angústia revela a
solidão e a destruição de Luís da Silva, descendente da oligarquia, na
teia complexa das relações citadinas.
Por outro lado, tanto
em A bagaceira, de José Américo de Almeida, romance inaugural do ciclo
de 1930, quanto em O quinze, de Rachel de Queiroz, os personagens
principais, Lúcio e Conceição – embora filhos das velhas elites
agrárias – foram modernizados pela escolarização na cidade. Por isso, acabam
questionando o horror da seca, da miséria e o atraso do latifúndio.
2)
Romances
de temática urbana:
A urbanização
ininterrupta do país levou os narradores a olhar para a nova realidade que se
constituía, fosse sob o prisma da denúncia (Jorge Amado, Amando Fontes), da
adesão crítica (Erico Verissimo) ou de uma tristeza impotente (Cyro dos Anjos).
Os núcleos temáticos abordados foram:
A)
As
camadas populares, trabalhadores e marginais: Jubiabá, Capitães de
Areia e Mar morto, de Jorge Amado;
Os Corumbas e Rua do Siriri,
de Amando Fontes.
B)
Os
setores médios (pequena burguesia): A tragédia burguesa, de Otávio de
Faria, Os ratos, de Dyonélio Machado e toda a primeira fase de Erico
Verissimo, o chamado ciclo de Clarissa.
Cronologia dos primeiros
romances de 30
1928 - A bagaceira,
de José Américo de Almeida.
1930 - O quinze,
de Rachel de Queiroz; O país do carnaval, de Jorge Amado.
1932 - Menino de
engenho, de José Lins do Rego; Cacau, de Jorge Amado; João Miguel,
de Rachel de Queiroz.
1933 – Doidinho,
de José Lins do Rego; Caetés, de Graciliano Ramos; Clarissa, de
Erico Verissimo; Os Corumbás, de Amando Fontes.
1934 - Banguê,
de José Lins do Rego; São Bernardo, de Graciliano Ramos; Suor, de
Jorge Amado.
1935 - Jubiabá,
de Jorge Amado; Música ao longe, de Erico Verissimo; Os ratos, de
Dyonélio Machado.
XIII - A Geração de
1945
Fortemente marcada
pelo fim da Segunda Guerra, pela derrubada da ditadura de Getúlio Vargas e pelo
clima de euforia daí decorrentes no país, a geração de 45 colocou em segundo plano
as preocupações políticas, ideológicas e culturais dos artistas da década de 30
e privilegiou a questão estética. Assim, a aventura da linguagem, a
preocupação com a forma e com o rigor do texto torna-se o objetivo básico desta
geração, que teve grandes expoentes tanto na poesia, quanto na prosa de ficção.
A)
POESIA
1. JOÃO CABRAL DE MELO
NETO (1920 - 1998)
Obras principais:
Pedra do sono (1942);
O engenheiro (1945); Psicologia da composição (1947); O cão sem plumas (1950); Morte
e vida severina (1956); A educação pela pedra (1966); Museu de tudo (1975).
- Sua obra se
articula como uma profunda reflexão sobre o fazer poético. A poesia é entendida
como esforço em busca da síntese, do despojamento total. Poesia é lenta e
sofrida pesquisa de expressão: "Não a forma encontrada / como
uma concha perdida (...) / mas a forma atingida / como a ponta do novelo / que
a atenção, lenta, / desenrola (...).
- Os primeiros textos
de João Cabral (Pedra do sono, O engenheiro, Psicologia da composição)
iniciam a aventura da expressão mínima e contida.
- Em O cão sem
pluma a perfeição de sua linguagem encontra uma temática: o rio Capibaribe,
com sua sujeira, seus detritos e com a população miserável que lhe habita as
margens, trágico espelho do subdesenvolvimento:
"Na paisagem do
rio / difícil é saber / onde começa o rio; / onde a lama / começa no rio / onde
a terra começa da lama; / onde o homem, / onde a pele / começa da lama; / onde
começa o homem / naquele homem."
MORTE E VIDA SEVERINA
A sua obra mais
conhecida (por causa da montagem teatral) traz como subtítulo: Auto de Natal
pernambucano.
Aqui a técnica
despojada do autor realça ainda o aspecto dramático do assunto: a trajetória de
um sertanejo que abandona o agreste, rumo ao litoral, encontrando nesta
migração apenas a morte. Severino continua seu roteiro até chegar ao Recife. Lá
percebe que a miséria continua e resolve se matar. Contudo, lhe chega a notícia
do nascimento de um menino, filho de José, mestre carpina. Severino vai
visitá-lo e descobre que aquela vida, mesmo franzina, é a prova da resistência
de todos os "severinos" do Nordeste.
E não há melhor
resposta
que o espetáculo da
vida:
vê-la desfiar seu
fio,
que também se chama
vida (...)
vê-la brotar como há
pouco
em nova vida
explodida;
mesmo quando é assim
pequena
a explosão, como a
ocorrida;
mesmo quando é uma
explosão
como a de há pouco,
franzina;
mesmo quando é a
explosão
de uma vida severina.
2.
A
POESIA CONCRETA
- A partir de 1952,
Décio Pignatari, Augusto de Campos e Haroldo de Campos iniciaram a articulação
da chamada poesia concreta, em São Paulo, numa revista chamada Noigandres.
- Reação contra a
lírica discursiva e frequentemente retórica da geração de 45, a poesia concreta
procura se filiar às experiências mais ousadas das vanguardas dos século XX.
Ela poderia ser sintetizada assim:
a)
linguagem
sintética, homóloga ao dinamismo da sociedade industrial.
b) valorização da
palavra solta (som, forma visual, carga semântica) que se fragmenta e recompões
na página.
c) o poema ganha o
espaço gráfico como agente estrutural, em função de que deverá ser lido/visto.
d) utilização de
recursos tipográficos, visuais, plásticos, etc.
ovo
novelo
novo no velho
o filho em folhos
na jaula dos joelhos
infante em fonte
feto feito
dentro do
centro
3.
FERREIRA
GULLAR
Obras principais: A
luta corporal (1954); Dentro da noite veloz (1975); Poema sujo (1976).
- Iniciou sua obra
sob os princípios da poesia concreta.
-Após romper com os
concretistas, aproximou-se da realidade popular e do pensamento progressista da
época, todo ele ligado ao populismo. Sua poesia torna-se social e, às vezes,
excessivamente politizada e prosaica.
- A publicação de Poema
sujo, em 1976, representou a superação de seus impasses temáticos e
formais.
Poema sujo é uma espécie de
síntese de Ferreira Gullar. Nele se encontram expressas todas as suas experiências
vitais em São Luís, sua aprendizagem da vida, sua visão de mundo, suas
angústias e esperanças, numa poesia ao mesmo tempo instintiva e reflexiva. Uma
poesia que incorpora as "impurezas" do mundo, ou seja, uma poesia
"suja" com os resíduos da realidade.
- Em Poema sujo,
as ideias, as sensações as lembranças e a coragem do escritor tipificam-se.
tornam-se a imagem do intelectual brasileiro que encontra a sua identidade, em
meio às primeiras crises da ditadura militar.
B)
PROSA
DE FICÇÃO
A FICÇÃO DE TEMÁTICA
RURAL:
1)
JOÃO
GUIMARÃES ROSA
Obras principais:
Sagarana (contos, 1946); Corpo
de baile (Manuelzão e Miguilim; No Urubuquaquá, do Pinhém; Noites
do sertão; novelas, 1956); Grande sertão: veredas (romance, 1956); Primeiras
estórias (contos, 1962); Tutaméia (contos, 1967); Estas estórias (contos,
1969).
Caraterísticas
básicas:
- A primeira grande
inovação do autor é da linguagem, cheia de arcaísmos, neologismos,
onomatopeias, inversões, novas construções sintáticas, etc., e que poderia ser
resumida assim:
Linguajar sertanejo +
Recriação estilística = Linguagem revolucionária.
Observe o início de Grande
sertão: veredas:
Nonada. Tiros que o
senhor ouviu foram de briga de homem, não, Deus, esteja. Alvejei mira em
árvore, no quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia isso faço;
gosto, desde mal em minha mocidade. Daí, vieram me chamar. Causa dum bezerro:
um bezerro branco, erroso, os olhos de nem ser-se viu e com máscara de cachorro.
- O mundo retratado
em suas ficções é o do sertão mineiro, um mundo imobilizado no tempo, sem
vínculos com o litoral modernizado do país e cuja principal traço é a
consciência mítica dos protagonistas. Esta consciência mágica explica o mundo
pelo sagrado e pelo fantástico. Assim, os fenômenos naturais indicam sinais de
potências misteriosas e inexplicáveis. À medida que a modernidade urbana
/capitalista avança, o mítico tende a ser dissolvido.
- A presença do
demônio em Grande sertão: veredas faz com que a narrativa se insira na
categoria do realismo mágico.
- Alguns contos de
Guimarães Rosa são célebres. Entre eles, figuram: A hora e a vez de Augusto
Matraga e O burrinho pedrês, de Sagarana; e A terceira
margem do rio, de Primeiras estórias.
Grande sertão veredas
- A temática da
"jagunçagem" e a prosa inovadora atingiriam o seu apogeu neste
romanace, que se estrutura no jogo dialético do presente e do passado.
Assim:
Plano presente:
O ex-jagunço e, hoje
fazendeiro, Riobaldo narra a história de sua vida para um "doutor" da
cidade. O "doutor" nada declara durante o discurso de Riobaldo, que
assim se converte em monólogo. Ao lado das reminiscências, Riobaldo formula uma
série de interrogações sobre o sentido da existência, a luta do Bem x Mal, a
presença real ou fictícia do demônio, etc.
Plano passado:
Focaliza as
experiências de Riobaldo como jagunço, quando realiza sua longa travessia pelo
sertão mineiro. Uma travessia exterior por um sertão objetivo, geográfica e
historicamente falando. Numa espécie de "banalidade do mal", os
bandos armados se exterminam a serviço dos grandes latifundiários. Mas como o "sertão
está em toda a parte, o sertão está dentro da gente", essa travessia torna-se
interior, levando Riobaldo ao autoconhecimento. A percepção de si mesmo surge
do contato com outros homens, em especial da dupla polarizada
Diadorim-Hermógenes. O primeiro, mulher camuflada de homem, deflagrará no
narrador o processo amoroso. O segundo – força demoníaca - representará o ódio,
o sangue e a perfídia.
Não esqueça: A obra
de João Guimarães Rosa – embora centrada no mundo sertanejo mineiro-ultrapassa pela
linguagem revolucionária e pela indagação a respeito das questões fundamentais
do homem (amor, sentido da vida e da morte, mito e razão, etc.) os parâmetros
do regionalismo, permanecendo como uma obra de valor universal.
2.
JOÃO
UBALDO RIBEIRO (1941- 2014)
Obras principais: Sargento
Getúlio (1971); Viva o povo brasileiro Sargento Getúlio.
Considerado sua
obra-prima, narra a história de Getúlio, um sargento da Polícia Militar
de um destacamento sediado em Aracaju, Sergipe. De família pobre, Getúlio
trabalha como feirante e engraxate para sobreviver, tornando-se depois soldado.
Tendo assassinado a mulher, que o traíra com outro, busca a proteção de um chefe
político de Aracaju, ao qual passa a servir como "cabo eleitoral". A
mando dele executa "vinte trabalhos" (mortes). Mesmo pretendendo
aposentar-se, aceita nova missão, a de prender, no interior, um adversário político
do chefe. Cumprida a tarefa, Getúlio começa a viagem de retorno a Aracaju,
momento em que se inicia a narração em primeira pessoa, que termina com a morte
do protagonista.
A FICÇÃO URBANA
1.
CLARICE
LISPECTOR (1926-1977)
Obras principais:
Perto do coração
selvagem (1943);
O lustre (1946); Laços de família (contos, 1960); A legião
estrangeira (contos, 1964); A paixão segundo G. H. (romance, 1964); A
hora da estrela (romance, 1977).
Características
básicas:
- É a intérprete mais
sofisticada da chamada ficção introspectiva.
- Essa literatura intimista
coloca, tanto de maneira metafórica quanto realista, as ondulações psicológicas
e estados interiores das personagens.
- No plano da
estrutura narrativa, Clarice vale-se do fluxo de consciência e do monólogo
interior.
- Sua linguagem é
excepcionalmente densa e inovadora.
A hora da estrela
Relativa exceção a
esta prosa introspectiva é a novela A hora da estrela, onde um narrador
(Rodrigo) acompanha a medíocre vida de uma jovem nordestina (Macabéia) que
vegeta em São Paulo. Feia, ignorante, humilhada pelas colegas, pelo namorado,
pela existência, ela terá o seu momento glorioso, a sua "hora de estrela",
conforme lhe profetiza uma cartomante, quando no fim do relato é atropelada e
morta por um automóvel.
2.
LYGIA
FAGUNDES TELLES (1923)
Obras principais: PCiranda
de pedra (1955); Verão no aquário (1963); Antes do baile verde (contos,1970);
As meninas (romance,1973); Seminário dos ratos (1977); As
horas nuas (1989).
- Descendente da
linha aberta por Clarice Lispector, mantém o interesse pelo movimento psicológico
das personagens. Contudo, em sua obra o mundo exterior configura-se com maior
objetividade.
- Além disso, suas
narrativas publicadas a partir da década de 1970, têm apresentado uma saudável
abertura para uma temática social e política, conforme podemos observar
especialmente em As meninas.
3.
ANTONIO
CALLADO (1917-1997)
Obras principais: Quarup
(1967), Reflexos do Baile (1975) Quarup.
- Através da trajetória
de um padre, Nando, que perde a vocação religiosa, adquirindo em troca uma
profunda consciência do atraso nacional, o autor nos mostra os fundamentos da
sociedade brasileira dos anos de 1950 e 1960.
- Ainda que a saída
ideológica de Nando pela luta guerrilheira seja equivocada, o romance apresenta
capítulos extraordinários, destacando-se a expedição que vai ao Xingu, demarcar
o ponto central do país. O contato com os índios e as conseqüentes doenças que
esses contraem são inesquecíveis e por si só legitimariam Quarup.
4.
DALTON
TREVISAN (1925)
Obras principais: Novelas
nada exemplares (1965); A guerra conjugal (1969); Cemitério de
elefantes (1970);
Os desastres do amor (1968); O vampiro
de Curitiba (1970); Faca no coração (1972); A polaquinha (novela,
1992).
- Sua obra é
basicamente composta por contos.
- Coloca Curitiba
como o cenário simultaneamente mágico e vulgar de seus relatos.
- Seus personagens
vivem em torno dos desastres do amor. Uma sucessão de desejos alucinados,
taras, compulsões, traições cruéis, crimes do coração, paixões proibidas e
infelizes compõem o seu mundo ficcional.
- Um personagem
símbolo desse mundo de paixões terríveis e solidão não menos assustadora é
Nelsinho, rapaz que vaga pela cidade em busca de sexo e afeto. Ele é o célebre
vampiro de Curitiba:
Ai, me dá vontade até
de morrer. Veja só a boquinha dela como está pedindo beijo – beijo de virgem é
mordida de taturana. Você grita vinte e quatro horas e desmaia feliz. É das que
molham os lábios com a ponta da língua para ficar mais excitante (...). Se eu
fosse me chegando perto, como quem não quer nada – ah, querida é apenas uma
folha seca ao vento – e me encostasse bem devagar na safadinha...
5.
RUBEM
FONSECA (1925)
Obras principais: Os prisioneiros
(contos - 1963); A coleira do cão (contos - 1965); Lúcia
McCartney (contos - 1970); Feliz ano novo (contos -1975); O cobrador
(contos -1980); A grande arte (romance - 1983); Buffo e Spalanzanni
(romace -1985); Vastas emoções e pensamentos imperfeitos (romance
-1988); Agosto (romance- 1990), Buraco na parede (contos –1993), Do
meio do mundo prostituto, só amores guardei ao meu charuto (novela - 1997).
- Sua carreira
iniciou-se pelo conto, gênero onde atinge o seu apogeu.
- Normalmente, suas
histórias (em especial, os romances) são apresentadas sob a estrutura da
narrativa policial. Há um crime ou um mistério a ser desvendado e vários dos personagem
principais ou são da polícia ou detetives particulares ou advogados
criminalistas.
- Um dos temas
dominantes de seus contos e romances é a violência que percorre as ruas
brasileiras, numa espécie de guerra civil não declarada.
- O outro alvo de sua
literatura é a solidão dos indivíduos nas grandes metrópoles. Quase todos os protagonistas
são opressos pela sensação de isolamento. O contato amoroso com outros seres
parece dar-se apenas no campo sexual.
- O que confere maior
verossimilhança ainda a seus relatos são a técnica e a linguagem. O escritor
sente-se à vontade nos textos em primeira pessoa, o narrador sendo ao mesmo
tempo o protagonista. Mas para cada tipo social existe uma linguagem distinta.
O assaltante tem seu código, o seu estilo, e assim o industrial, numa multiplicidade
linguística verdadeiramente assombrosa
A CRÔNICA
- Gênero literário
marcado por certa efemeridade, na medida em que registra a vida diária, os
acontecimentos que são marcantes no dia-a-dia.
- Fernando Sabino
definiu-a como a "busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada
um".
- Apresenta um
caráter jornalístico, desenvolvendo-se já no século XIX, com José de Alencar e
Machado de Assis, sob o nome de folhetim (o mesmo do romance romântico em
capítulos).
- Nas décadas de 1950
e 1960, a crônica atingiu sua culminância. Estes pequenos comentários a
respeito das coisas banais ora assumem uma tendência mais terna e lírica,
aproximando-se da poesia; ora centralizam-se na crítica humorística dos acontecimentos
e dos costumes.
A)
Crônica
lírica
1) RUBEM BRAGA
(1913-1990)
Obras principais: O
conde e o passarinho (1936); Um pé de milho (1948); O homem rouco
(1949); A borboleta amarela (1956); A cidade e a roça(1957); Ai
de ti, Copacabana(1960).
- Registro da poesia
oculta nos momentos mais triviais da vida diária.
- Evocação de amores
perdidos e do tempo que flui.
- Celebração da
beleza geográfica, humana e artística do Rio de Janeiro, ainda que com certa
dimensão melancólica.
B)
Crônica
de Humor
Tradicional dentro do
jornalismo brasileiro, a crônica de humor sempre teve larga aceitação. Poderia
ser dividida (um pouco arbitrariamente) em crônica de humor leve - visando
sobremodo o riso - e a crônica satírica, na qual o deboche atinge instituições
ou figuras públicas. No primeiro grupo poderíamos destacar o nome de Fernando
Sabino. No segundo, Lima Barreto foi um precursor genial e sarcástico,
fulminando as elites intelectuais e burocráticas do Rio, na República Velha,
através dos ferinos comentários de Bruzundangas (o Brasil).
1.
Fernando
Sabino (1923 - 2004)
Obras principais: O
homem nu (1960); A mulher do vizinho (1975).
- O humor jovial e
divertido é a marca do cronista. Muitas de suas crônicas são pequenas histórias
de final surpreendente, os que as aproxima do conto.
Não esqueça: Fernando
Sabino tornou-se o romancista de toda uma geração ao escrever O encontro
marcado (1956). Acompanhando a crise existencial, sexual e ideológica de
três jovens em Belo Horizonte do pós-guerra, construiu um quadro simultaneamente
inocente e dramático das esperanças, frustrações e vida cotidiana dos jovens
de classe média.
2.
Luís
Fernando Verissimo (1936 - 2011)
Obras principais: O
popular; Ed Mort; O analista de Bagé; O gigolô das
palavras (1986); Comédias da vida privada; Comédias para se ler
na escola (2001).
- Criador de tipos
risíveis que entram no anedotário brasileiro: o analista de Bagé, o fracassado
detetive Ed Mort e a Velhinha de Taubaté.
- A consolidação do
sucesso de público veio com a publicação das Comédias da vida privada.
São crônicas de humor retratando as contradições amorosas, sexuais,
espirituais, geracionais e econômicas das classes médias urbanas, com seus
pequenos dramas existenciais que se prestam mais ao humor do que à tragédia
humana.
XV O Teatro Contemporâneo
1)
Nelson
Rodrigues (1912-1981)
Principais peças:
O crítico Sábato
Magaldi estabeleceu uma divisão temática das peças:
Peças psicológicas (Vestido
de noiva - Viúva, porém honesta, etc).
Peças míticas (Álbum
de família - Senhora dos afogados).
Tragédias cariocas (A
falecida - Beijo no asfalto - Os sete gatinhos - Boca de
ouro - Toda a nudez será castigada, etc).
- Segundo Magaldi: "As
peças psicológicas abordam elementos míticos e da tragédia carioca. As peças
míticas não esquecem o psicológico e nelas aflora a tragédia carioca. Já a tragédia
carioca assimilou o mundo psicológico e mítico da obra rodrigueana."
Vestido de noiva
- Em 1943, a
encenação de Vestido de noiva renovou por completo as bases formais e
ideológicas do teatro brasileiro.
- Nesta obra, a
linguagem de Nelson Rodrigues revelava uma dimensão coloquial sem precede· I - LITERATURA
INFORMATIVA
O que é?
· É um tipo de
literatura composta por documentos a respeito das condições gerais da terra
conquistada, as prováveis riquezas, a paisagem física e humana, etc.
· Em princípio, a
visão europeia é idílica: a América surge como o paraíso perdido e os nativos
são apresentados sob tintas favoráveis. Porém, na segunda metade do século XVI,
à medida que os índios iniciam a guerra contra os invasores, à visão rósea
transforma-se e os habitantes da terra são pintados como seres bárbaros e
primitivos.
Principais
manifestações:
· A Carta de Pero Vaz
de Caminha:
· Descrição minuciosa
da nova realidade; -- A simplicidade no narrar os acontecimentos;
· A disposição
humanista de tentar entender os nativos; -- O ideal salvacionista.
· Duas viagens ao
Brasil, de Hans Staden - Viagem à terra do Brasil, de Jean de Léry.
· Relato de viajantes
que viveram entre os índios vários meses.
· Registro da
antropofagia e descrição dos costumes indígenas.
· II - LITERATURA
JESUÍTICA
José de Anchieta
Obras refinadas:
poemas e monólogos em latim que parecem destinados a satisfazer suas
necessidades espirituais mais profundas.
Obras didáticas:
hinos, canções e especialmente autos, que visavam infundir o pensamento cristão
nos índios.
Os autos: Obras
teatrais onde o autor tenta conciliar os valores católicos com os mitos
indígenas.
Há um confronto entre
o bem e o mal. O bem é defendido por santos e anjos, os quais expressam o cristianismo
e subjugam o mal, constituído por deuses e pajés dos nativos, misturados com os
demônios da tradição católica.
· III - BARROCO
Surgimento: Europa,
meados do século XVI - Brasil, início do século XVII. (Lembrar que, no Brasil,
a literatura barroca acaba no século XVII, junto com o declínio da sociedade
açucareira baiana. Contudo, na arquitetura e nas artes plásticas, o estilo
barroco atingirá o seu apogeu apenas nos séculos XVIII e início do XIX, em
Minas Gerais.)
Variações barrocas:
cultismo (exagero e rebuscamento formal) e conceptismo (exagero no plano das
ideias) são manifestações de excesso da literatura barroca.
Características:
1)
Arte
da Contrarreforma, expressando a crise do Renascimento, com a destruição da
harmonia social aristocrática-burguesa através das guerras religiosas. Os
jesuítas que surgem, neste período, combatem os protestantes e espalham pelo
mundo católico a sua implacável ideologia teocêntrica.
2)
Conflito
entre corpo e alma. Dividido entre os prazeres renascentistas e o fervor
religioso, o homem barroco oscila entre:
· a celebração do corpo, da vida
terrena, do gozo mundano e do pecado;
· os cuidados com a alma visando à
graça divina e à salvação para a vida eterna.
3)
Temática
do desengano (o desconcerto do mundo): a vida é breve, a vida é sonho, viver é
ir morrendo aos poucos. Aguda consciência da efemeridade da existência e da
passagem do tempo.
4)
Linguagem
ornamental, complexa, entendida como jogo verbal, cheia de antíteses,
inversões, metáforas, alegorias, paradoxos, ausência de clareza. É um estilo
complicado que traduz os conflitos interiores do homem barroco.
Autores barrocos:
1)
Gregório
de Matos (Boca do Inferno)
Poesia religiosa -
Apresenta uma imagem quase que exclusiva: o homem ajoelhado diante de Deus, implorando
perdão para os pecados cometidos.
Poesia amorosa - Tem
uma dimensão elevada ("d"), muitas vezes associada à noção de
brevidade da existência, e uma dimensão obscena, onde a explosão dos sentidos
(em versos crus e repletos de palavrões) representa um protesto contra os
valores morais da época.
Poesia satírica -
Ironia corrosiva e caricatural contra todos os setores da vida colonial baiana:
senhores de engenho, clero, juízes, advogados, militares, fidalgos, escravos,
pobres livres, índios, mulatos, mamelucos, etc.
Com seu olhar
ressentido de senhor decadente, Gregório de Matos vê na realidade apenas
corrupção, negociata, oportunismo, mentira, desonra, imoralidade, completa
inversão de valores. A poesia satírica, portanto, para ele é vingança contra o
mundo.
2)
Padre
Antônio Vieira
Os Sermões
· Utilização
contínuas de passagens da Bíblia e de todos os recursos da oratória jesuítica
para convencer os fiéis de sua mensagem, mesmo quando trata de temas
cotidianos.
· Ataca os vícios
(corrupção, violência, arrogância, etc.) e defende as virtudes cristãs (religiosidade,
caridade, modéstia, etc.)
· Combate os hereges,
os indiferentes à religião e os católicos desleixados em relação à Igreja.
· Defende abertamente
os índios. Mantém-se ambíguo frente aos escravos negros: ora tenta justificar a
escravidão, ora condena veementemente seus malefícios éticos e sociais.
· Exalta os valores
que nortearam a construção do grande império português. E julga (de forma
messiânica) que este império deveria ser reconstruído no Brasil.
· Propõe o retorno
dos cristãos novos (judeus) a territórios lusos como forma de Portugal escapar
da decadência onde naufragara desde meados do século XVI.
· Apresenta uma
linguagem de tendência conceptista, de notável elaboração, grande riqueza de ideias
e imagens espetaculares. Fernando Pessoa o chamaria de "Imperador da
Língua Portuguesa".
IV - ARCADISMO (ou
NEOCLASSICISMO)
Características
1.
Arte
ligada ao Iluminismo. Oposição ao absolutismo despótico e ao poder (barroco) da
Igreja.
2.
Afirmação
orgulhosa da racionalidade. Razão = Verdade = Simplicidade e clareza.
3.
Culto
da simplicidade. Como se atinge a mesma? Através da imitação (não no sentido de
cópia, mas no de seguir modelos já estabelecidos).
4.
Imitação
dos clássicos. Em especial, Virgílio e Teócrito, clássicos pastoris.
5.
Imitação
da natureza campestre, isto é, da ordem e do equilíbrio que essa natureza
apresenta, o que dá a mesma um caráter de paraíso perdido. Dois elementos
decorrem da aproximação do árcade da natureza campestre:
a)
Bucolismo:
adequação do homem à harmonia e serenidade da natureza.
b)
Pastoralismo:
celebração da vida pastoril, vista como um eterno idílio entre pastores e
pastoras.
6.
Ausência
de subjetividade. O autor não expressa o seu próprio eu, adotando uma forma
pastoril (Cláudio Manuel da Costa é Glauceste Satúrnio, Tomás Antônio Gonzaga é
Dirceu, Basílio da Gama é Termindo Sipílio, etc.)
7.
Amor
galante. O amor é entendido como um conjunto de fórmulas convencionais.
Arcadismo no Brasil
· Decorrência da
atividade mineradora e da urbanização que dela resultou.
· Criação de
Academias e Arcádias onde os letrados procuravam fugir da indiferença do meio.
· Instituição em
caráter regular de um sistema literário: autores - obras escritas dentro de uma
tendência comum - público leitor permanente.
· Relação com a
Inconfidência Mineira. Tomás Antônio Gonzaga foi degredado e Cláudio Manuel da
Costa se suicidou na prisão.
· Poesia lírica:
1.
Cláudio
Manuel da Costa
Obras poéticas
· Poesia de transição
entre o Barroco e o Arcadismo.
· Do Barroco, o autor
tem as noções de brevidade dos sentimentos e da vida, o tema recorrente do
sofrimento humano e o gosto pela antítese e pelo soneto camoniano. Do
Arcadismo, CMC apresenta o pastoralismo e a renúncia à visão religiosa de
mundo.
· Em suas Obras,
contudo, a paisagem não é campestre. Quebrando as convenções do período, ele
apresenta cenários dominados por pedras, rochas, grutas e penhascos, indicando
as suas raízes mineiras.
· Além das Obras
poéticas, escreveu um fracassado poemeto épico (Vila Rica).
2.
Tomás
Antônio Gonzaga
Marília de Dirceu
(liras)
· Poesia tipicamente
árcade, presa aos esquemas bucólicos e pastoris.
· A obra foi escrita
em três partes que correspondem a momentos históricos diferentes na vida do
poeta. A I parte em liberdade. A II na prisão. E a III provavelmente logo após
o degredo para a África.
· A expressão
sentimental da obra dá-se, na maior parte das liras, de acordo com as fórmulas
convencionais da galanteria. No entanto, em alguns momentos das partes II e
III, o autor escapa dos padrões árcades e desabafa a sua dor, o sentimento de
medo do futuro e da morte e, sobretudo, a saudade de Marília. Nestes momentos,
as liras adquirem um caráter pré-romântico.
· Em seu todo, Marília
é um canto das virtudes ilustradas ("áurea mediocritas",
racionalidade, decoro e simplicidade).
· Sob pseudônimo de
Critilo, escreveu as célebres Cartas Chilenas onde satiriza os desmandos
do governador de Minas Gerais, apelidado no texto de Fanfarrão Minésio.
3.
Silva
Alvarenga
Glaura
· Celebração da
pastora Glaura, ora num tom galante, ora melancólico.
· Poesia épica:
1.
Basílio
da Gama
O Uruguai
Tema: A conquista
militar das Missões jesuíticas no RS por tropas luso-espanholas, em 1756, a
mando do Marquês de Pombal.
Outros aspectos:
· Celebração épica
dos conquistadores brancos, representados pelo general Gomes Freire de Andrade.
· Também os índios
(Sepé e Cacambo) são apresentados na condição de heróis. É uma espécie de
glorificação do homem natural (como se os índios fossem pastores árcades) que
enfrenta os representantes da civilização europeia.
· Os vilões da
história são os jesuítas, duramente criticados, sobremodo o padre Balda.
· A cena mais famosa
do poema é lírica e não épica. Trata-se da morte de Lindóia, que, após ter seu
marido, Caçambo, envenenado por ordens do padre Balda e na iminência de
casar-se com o índio Baldeta, filho natural do padre corrupto, Lindóia prefere
morrer, deixando-se picar por uma serpente venenosa.
Não esqueça: O Uruguai
é um poema em cinco cantos e em versos brancos (sem rima).
2.
Santa
Rita Durão
Caramuru
· Tema: A
glorificação do colonizador branco e agente da catequese católica, Diogo
Álvares Correia, que maravilhou os índios com um tiro de arcabuz na Bahia do
século XVI, casando-se com a filha do cacique, Paraguaçu, e passando a viver
entre eles. Outros aspectos:
· Louvação do índio
que se converte à religião do dominador luso e o auxilia na conquista da terra.
· A cena mais famosa
da epopeia é a morte da índia Moema, após a partida para a França de Diogo
Álvares e sua noiva, Paraguaçu. Moema vai nadando atrás do navio até ser
tragada pelas ondas.
Não esqueça: Há nesta
epopeia uma forte influência de Os Lusíadas, de Camões.
· V – ROMANTISMO
Contexto histórico:
· Ascensão da
burguesia > Implantação definitiva do capitalismo > Liberalismo econômico,
jurídico, filosófico.
· Surgimento de um
novo público leitor > A arte passa a valer como mercadoria
Surgimento: Fins do
século XVIII. Já o apogeu romântico ocorre na I metade do século XIX.
Características:
1)
Individualismo
e subjetivismo: É a dupla face do EU romântico. A do EU arrogante, napoleônico,
audacioso.
E a do EU que se
fecha sobre si mesmo, que escava a sua própria interioridade.
2)
Sentimentalismo:
Celebração do "grande amor", da paixão desmedida, mas também da
tristeza, da angústia, do "mal do século" (o tédio).
3)
Culto
à natureza: Raro o poema romântico que não exalte ou, pelo menos, faça
referência ao mundo natural. Também as metáforas preferidas ligam-se sempre a
fenômenos da natureza.
4)
Sonho,
fantasia, tendência à idealização.
5)
Escapismo:
tendências suicidas, culto da morte, criação de mundos imaginários, entrega ao
álcool e à orgias.
6)
Liberdade
artística: fim do mecenatismo, ao vender sua obra no mercado o artista se
libera das exigências de seu protetor. Desobediência às regras clássicas. Surge
o drama teatral e o romance se impõe como o gênero dos novos tempos.
Romantismo brasileiro
· Arte identificada
com a Independência política
· Nacionalismo
ufanista:
- Indianismo -
Regionalismo - Culto à natureza brasileira.
- Tentativa de
criação de uma língua nacional.
Vigência:
Início: 1836 - Suspiros
poéticos e saudades, de Gonçalves de Magalhães.
Fim: Década de 1870,
com a morte dos últimos românticos importantes: Castro Alves e José de Alencar.
A poesia romântica
I Geração (Nacionalista)
1)
Gonçalves
de Magalhães
· Suspiros
poéticos e saudades > Obra (medíocre) que introduz o espírito romântico
no país.
· Confederação dos
tamoios > Fracassada experiência indianista.
2)
Gonçalves
Dias
Primeiros cantos - Segundos cantos -
Últimos cantos - Os timbiras (epopeia indianista inacabada) - Sextilhas
de Frei Antão (poemas escritos em português quinhentista, arcaico).
Temas básicos:
Valorização do índio:
herói idealizado que simboliza o passado heroico da nação: I-Juca Pirama.
Saudades da pátria:
Canção do exílio (O paraíso está "lá" e não "cá", a pátria
reside na natureza).
Canto da natureza: a
beleza do trópico e o encontro de Deus nos fenômenos naturais (panteísmo).
Amor impossível e
sofrido: Principais poemas: Ainda uma vez - adeus!; Se se morre de amor.
Não esqueça:
Gonçalves Dias é o poeta romântico mais equilibrado e o que tem o melhor
sentido de ritmo e musicalidade do verso.
· A poesia romântica
II Geração
(Individualista, ultra-romântica, byroniana ou do "mal do século").
1)
Álvares
de Azevedo
Lira dos vinte anos (poemas); O conde
Lopo (poema);
Macário (drama com traços
cômicos onde um jovem viaja a São Paulo guiado por Satã);
Noite na taverna (contos byronianos,
góticos, sombrios e devassos nos quais sete rapazes expõem histórias terríveis
de suas vidas).
Temas básicos:
Presságio da morte:
Se eu morresse amanhã.
"Mal do
século": tédio, dúvida, angústia sobre o sentido da vida, confronto entre
o sonho e a realidade. Ideias íntimas.
Humor prosaico:
percepção irônica do cotidiano.
Amor orgíaco
(dimensão da fantasia) e medo do amor (dimensão real traduzida pela imagem
recorrente da mulher adormecida).
Não esqueça: Em sua
obra, como disse um crítico, as mulheres são "deusas" ou prostitutas,
isto é, inatingíveis ou desprezíveis.
2)
Casimiro
de Abreu
Primaveras
Temas básicos:
Emoções singelas da
adolescência (inquietudes amorosas) em linguagem totalmente simples.
Saudosismo:
a)
da
infância: Meus oito anos.
b)
da
pátria: Canções do exílio.
3)
Fagundes
Varela
Anchieta ou o
Evangelho nas selvas.
Temas básicos:
Todos os da poesia
romântica: o índio, o canto da pátria, a natureza, o tédio, o abolicionismo,
etc.
A morte do filho: Cântico
do calvário.
Não esqueça: Apesar
de ser um poeta pouco original, F. V. alcança um bom nível na sua poesia rural/sertaneja.
III Geração (Liberal,
social ou condoreira)
1)
Castro
Alves
Espumas flutuantes - Os escravos -
Cachoeira de Paulo Afonso.
Temas básicos:
Poesia social: o
abolicionismo, a defesa de causas liberais como a educação, o canto do futuro e
do progresso.
Poesia lírica: a
natureza e o amor, este como expressão dos desejos sexuais.
Não esqueça: A poesia
condoreira apresenta uma linguagem forte, retórica, discursiva, com imagens extraídas
dos mais aspectos mais grandiosos da natureza. Já a poesia lírica encontra sua
expressão numa linguagem simples, quase coloquial e de forte plasticidade
(qualidade visual).
2)
Sousândrade
- Um caso à parte.
Obras poéticas
O Guesa errante
Desprezado em sua
época, Joaquim de Sousa Andrade, ou Sousândrade, acabou reabilitado pelos concretistas
como um caso de "antecipação genial" da livre expressão modernista.
Poeta experimental
cria uma linguagem cheia de elipses e fusões vocabulares, fugindo das
banalidades sentimentais dos românticos.
Obra principal: Guesa
errante, longo poema narrativo em treze cantos. Está baseado em uma lenda
indígena colombiana: Guesa é uma criança roubada dos pais pelo deus do
Sol. Educado por este deus até os 10 anos, acaba sendo sacrificado aos 15, após
longa peregrinação pela "estrada do Suna", que na verdade é o mundo.
Não esqueça: a parte
mais interessante do Guesa errante é a em que ele vê a consolidação do
capitalismo como uma doença viciosa (O inferno de Wall Street).
II - O romance
romântico
1.
Joaquim
Manuel de Macedo O moço louro - A moreninha (relato sentimental
da ligação entre dois jovens, Augusto e Carolina, presos a uma promessa amorosa
infantil e que na adolescência se apaixonam, um pelo outro, sem saber que são
eles próprios os noivos prometidos).
Características da
obra:
· Adaptação do
folhetim romântico europeu:
a)
a
cenários brasileiros.
b)
aos
valores morais e afetivos da família patriarcal brasileira.
· Possibilita aos
leitores brasileiros uma identificação com a realidade local.
Não esqueça: A
importância de Macedo é que ele desperta no público o gosto pelo romance
ambientado no Brasil.
2.
JOSÉ
DE ALENCAR
Romances urbanos:
Senhora - romance sobre o
casamento por interesse. Aurélia é abandonada pelo noivo, Fernando Seixas, que
a troca pelo dote de 30 contos de Adelaide Amaral. Contudo, Aurélia recebe
vultuosa herança e compra o antigo noivo por 100 contos, casando-se com ele.
Aurélia vinga-se então de Fernando Seixas, tratando-o como um ser desprezível,
mas o rapaz especula na bola e ganha o dinheiro para se resgatar. O desfecho é absolutamente
convencional: os dois se perdoam e são felizes para sempre.
Lucíola - romance sobre a
paixão de um jovem bacharel, Paulo, por uma cortesã (prostituta), Lúcia. As dificuldades
deste tipo de relacionamento, a pressão social e as angústias naturais do
amante constituem a base da narrativa. No final, os dois se retiram do centro
do Rio de Janeiro em busca de um cenário favorável para o triunfo do amor,
porém, providencialmente, Lúcia morre.
Romances
regionalistas (ou sertanistas):
O gaúcho - O sertanejo -
Til - O tronco do ipê (relatos cujo objetivo é exaltar a unidade
nacional na diversidade regional).
Romances históricos:
As minas de prata - A guerra dos
mascates (romances de muita ação e pouca historicidade objetiva).
Romances indianistas:
O guarani (que Alencar
considerava um relato histórico) - Ubirajara - Iracema ("Lenda
do Ceará", espécie de poema em prosa, narra a paixão proibida - mas que
acaba se realizando - entre Iracema, espécie de sacerdotisa da tribo tabajara e
o português Martim Soares, aliado dos pitiguaras. Iracema, a guardadora do segredo
de Jurema e que deveria permanecer virgem, entrega-se a Martim e desta relação
nasce Moacir, "o filho do sofrimento". Antes do nascimento da
criança, Martim Soares parte. Ao regressar, encontra a índia às
portas da morte.
Mesmo assim, Iracema ainda lhe entrega a criança e só depois morre. Martim leva
então consigo o filho Moacir, designado pelo escritor como o "primeiro
cearense".
Características
gerais da obra:
· Projeto
nacionalista: revelar o Brasil em seu espaço físico-geográfico (romances
urbanos e regionalistas), em seu passado histórico (romances históricos) e em
sua dimensão lendária/mítica (romances indianistas).
· Estrutura narrativa
romântica, com forte influência de Walter Scott e Fenimore Cooper.
· Idealização
permanente da realidade nacional, valorização da natureza e estilo metafórico,
tendente ao poético.
· Tentativa de criar
uma língua brasileira (Iracema).
· Aspectos
pré-realistas nos romances Lucíola e Senhora (análise psicológica
mais complexa, análise do peso da sociedade sobre a vida individual e temas
relativamente proibidos: o casamento por interesse e as complicações
resultantes do amor entre dois grupos sociais distintos).
· Em Senhora e
Lucíola: vitória final da ótica moral conservadora, traduzindo os
valores patriarcais do autor.
Não esqueça: Com José
de Alencar e seu projeto estético-ideológico (a defesa de temas nacionais e a
luta por uma linguagem brasileira), a nossa literatura começa o seu processo de
emancipação definitiva da literatura portuguesa.
3.
Visconde
de Taunay
Inocência - (romance sertanista
-regionalista- sobre uma paixão proibida entre a jovem sertaneja, Inocência, e
um falso médico vindo da cidade, Cirino. O pai da moça, entretanto, a prometera
a um tipo rústico chamado Manecão. Este, ao descobrir a paixão de Inocência,
assassina Cirino. Porém, a jovem deixa-se morrer de tristeza, encerrando
tragicamente a história.)
Não esqueça: O
romance de Taunay já foi designado como uma espécie de Romeu e Julieta caboclo,
além de apresentar uma visão crítica do patriarcalismo brasileiro.
4.
Um
caso à parte: Manuel Antônio de Almeida
Memórias de um
sargento de milícias
· Narrativa de
costumes: Os hábitos das classes populares no "tempo do rei"
(1808-1821).
· Destruição do
Romantismo: Ironia aos cacoetes românticos - personagens semimarginais
(Leonardo é "filho de uma pisadela e de um beliscão") - ausência de
idealização.
· Um romance
precursor do realismo: Objetividade na visão sobre o mundo social.
· Predomínio do
humor: Personagens caricaturizados - acontecimentos que desmentem a hipocrisia
dos indivíduos - profusão de situações cômicas.
· Personagens
principais: Leonardo - suas duas paixões, Luisinha (a ideal) e Vidinha (a
sensual) Leonardo Pataca (o pai do anti-herói) - Major Vidigal (o representante
da ordem e o perseguidor de Leonardo) - Compadre (o protetor de Leonardo), etc.
Não esqueça: Por seu
teor cômico, pela ausência de idealização social e pelas características do
anti-herói, Leonardo (irresponsabilidade, sensualidade, gosto pela vagabundagem
e estratégias espertas de sobrevivência), o romance tem sido classificado como
a primeira narrativa da malandragem em nossa literatura.
· VI -
REAL-NATURALISMO
Surgimento: II metade
do século XIX
Características do
realismo:
1)
Objetivismo
e impessoalidade.
2)
Busca
da verossimilhança: as obras devem dar a impressão de verdade total, isto é, de
que constituem um reflexo perfeito da realidade.
3)
Busca
da perfeição formal.
4) Pessimismo: os valores
burgueses e as crenças religiosas e ideológicas sofrem um processo de completo descrédito.
5)
Racionalismo
- cuja tradução é tanto a análise psicológica como a análise social.
Características do
naturalismo
1)Arte vinculada às
novas teorias científicas e ideológicas européias (Evolucionismo, Positivismo, Determinismo,
Socialismo, Medicina Experimental). Daí o outro nome do movimento, criado por
Zola: romance experimental.
3)
Todas
as características do Realismo - menos a análise psicológica. Esta é substituída
por variações deterministas que transformam os personagens em fantoches de
destinos pré-estabelecidos. Segundo Taine, o homem é produto do meio, da raça e
do momento histórico em que vive. Pode-se dizer assim que o Naturalismo é o
Realismo mais o cientificismo da II metade do século XIX.
4)
Cientificismo
sociológico e biológico. O sociológico é dado pelo determinismo do meio e do
momento. O biológico pelo determinismo de raça e dos temperamentos e caracteres
herdados.
5)
Personagens
patológicos. Para provar suas teses, os escritores naturalistas são obrigados
muitas vezes a apresentar protagonistas doentios, criminosos, bêbados,
histéricos, maníacos.
O real-naturalismo no
Brasil
· As primeiras ideias
renovadoras surgem na década de 1870, no Recife, através da ação de Tobias
Barreto e Sílvio Romero.
· Em 1881 aparecem O
mulato, de Aluísio Azevedo e Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado
de Assis. Ainda que não sigam de todo os modelos europeus, as obras são respectivamente
consideradas as inauguratórias da estética naturalista e realista no país.
· O romance realista
1)
Machado
de Assis
I fase: (Tendências
indefinidas, com maior acento romântico).
Ressurreição - A mão e a luva -
Helena - Iaiá Garcia
· Tentativa de
contrastar caracteres, conforme declaração do autor no prefácio de
Ressurreição.
· Certos temas
recorrentes na II fase, como a ambição e o egoísmo, já se insinuam nestes
romances.
· Linguagem carregada
de lugares-comuns.
II fase: (Realista,
mas de um realismo absolutamente singular, fora dos padrões europeus)
Memórias póstumas de
Brás Cubas
Um defunto autor, sem
as ilusões e as fraudes interiores dos vivos, narra do túmulo a sua vida
pregressa. Num tom irônico, ele vai descobrindo a ausência de grandeza em si e
em todas as pessoas. A consciência de que as ações humanas são desencadeadas
apenas pelo interesse, pela possibilidade de lucro, pelo egoísmo e pelo instinto
sexual, justifica o fim do romance, em que Brás Cubas mede sua vida e conclui
que ganhara: "Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado
de nossa miséria".
Curioso é o
personagem Quincas Borba, amigo do personagem-narrador, filósofo de duvidosa
sanidade mental, criador da teoria do Humanitas que, sendo uma sátira contra
todas as filosofias, é também a tradução da corrosiva visão de mundo do próprio
Machado de Assis.
Quincas Borba
O modesto professor
Rubião recebe em Barbacena grande herança do falecido filósofo Quincas Borba,
com a condição de cuidar do seu cachorro, também chamado Quincas Borba.
Rubião abandona a
província, mudando-se para o Rio de Janeiro, onde é enganado e explorado por um
bando de parasitas, especificamente por um ambicioso casal: Sofia e Palha.
Sofia percebe a paixão do professor por ela e se diverte com sua ingenuidade.
Palha monta um negócio de exportação com o professor, o qual entra com todos os
recursos financeiros para o empreendimento.
Rubião, consciência
estreita em demasia para a complexidade psicológica e social, nada entende. E
acaba enlouquecendo. Dissipa, então, a sua fortuna inteiramente. Palha desmancha
a sociedade, ficando com o negócio e Rubião é despachado de volta para
Barbacena, em companhia do cachorro Quincas Borba. Lá morre na maior miséria.
Dom Casmurro
Bento Santiago tenta
recompor o passado através da memória, e recorda o amor adolescente por Capitu (a
de "olhos oblíquos e dissimulados", "olhos de cigana",
"olhos de ressaca"). Boa parte da memória de Bentinho concentra-se na
adolescência dos personagens, na poesia da primeira paixão, no compromisso de
casamento e em seu ingresso forçado no seminário, promessa carola de sua mãe.
Depois, as ações ocorrem velozes: a amizade com Escobar, o abandono do
seminário, o tão desejado casamento com Capitu, o enlace de Escobar com Sancha,
a amizade dos casais, o nascimento de Ezequiel, filho do personagem-narrador, a
felicidade. Escobar morre no mar e Capitu sofre tanto que Bentinho desconfia.
Uma desconfiança que aumentará dia após dia, uma dialética de suspeitas e
ciúmes: Bento vê no filho, Ezequiel os traços fisionômicos de Escobar. O
casamento se corrói pela traição (concreta?, real?) de Capitu, que parte para a
Europa com o filho, impelida pelo marido que já não os aceita. Anos depois,
Capitu morre, Ezequiel retorna para o Brasil (segundo o narrador, cada vez mais
parecido com Escobar), vai para a África e lá também morre. O processo de desagregação
de Bentinho estava concluído, restando-lhe enfrentar a solidão definitiva.
Esaú e Jacó
Quando o Conselheiro
Aires morre, encontra-se em seus papéis a narrativa em questão. É a história de
dois gêmeos, Pedro e Paulo, que já brigavam no ventre da mãe e que seguem adversários
na infância e na vida adulta e na maturidade. Um se forma médico, outro
advogado, um ingressa no partido conservador, outro no partido liberal. Um é
monarquista, outro vira republicano. Ambos, no entanto, se apaixonam pela mesma
moça, Flora. Esta oscila entre os gêmeos e termina morrendo sem optar por
nenhum. Pedro e Paulo reconciliam-se e prometem amizade fraternal para o resto
da vida, mas em seguidas rompem outra vez e seguem se odiando mutuamente. O
romance é muito lembrado por ser o único, na obra machadiana, em que fatos
históricos (a Abolição e a República) têm importância no entrecho. Nos
vestibulares aparece com freqüência o irônico episódio do cap. XLIX - Tabuleta
velha - em que um dono de confeitaria, Custódio, em meio à confusão histórica
(fim do Império, início da República) não sabe como designar a sua casa de
negócios.
Memorial de Aires
O mesmo Conselheiro
Aires, diplomata aposentado, escreve o seu diário cheio de finas observações
sobre a vida, num tom discreto e levemente nostálgico, abrandando aquele pessimismo
dos relatos anteriores de Machado de Assis. (No mundo ficcional, as memórias do
conselheiro são anteriores ao romance. Esaú e Jacó, do qual ele também é
o narrador). O conselheiro acompanha com interesse humano (talvez amoroso) a
jovem viúva Fidélia, praticamente adotada por um casal de velhos sem filhos,
Dona Carmo e Aguiar. Estes tinham experimentando uma grande decepção quando um
rapaz a quem se afeiçoou, como se fosse seu filho verdadeiro, Tristão mudara-se
para Lisboa com o fim de frequentar a escola de medicina. Tristão retorna e
acaba se casando com Fidélia. Em seguida, para tristeza dos velhos, o jovem
casal viaja para Europa. O romance termina com o Conselheiro Aires acompanhando
com discreta piedade a solidão do casal Aguiar e Carmo, no qual muito críticos
viram as figuras de Machado e de sua esposa, Carolina.
· Os temas
principais:
1 - O adultério:
Motivo central de Dom Casmurro e de uma série de contos, além de ser
motivo importante de Memórias póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba.
2 - O parasitismo
social: Reflexo de uma sociedade erigida sobre o trabalho do escravo. Parasitas
são quase todos os personagens de Machado, principalmente em Quincas Borba.
3 - A confusão entre
a razão e a loucura: As fronteiras estabelecidas entre a razão e a insanidade
são vagas e incertas. No conto O alienista desenvolve-se uma ironia
feroz contra as certezas cientificistas do século XIX.
4 - O egoísmo, a
vaidade, o interesse: Sem estes elementos nada ocorreria nos romances e contos
de Machado de Assis. Os personagens movem-se por orgulho ou cobiça, e os que
vivem por motivos mais nobres, em geral, são os enganados, os vencidos.
5 - A impossibilidade
de ação com grandeza: Se acompanharmos Brás Cubas, Bentinho e o mesmo Rubião, verão
apenas o inventário de mesquinharias e atitudes hipócritas que satisfazem a
moral das aparências.
6 - A hipocrisia:
Relaciona-se com aspecto do duplo comportamento humano. Intimamente, os seres
possuem determinadas facetas, ideias, sentimentos, mas, para satisfazer as
exigências sociais, dissimulam, falsificam a sua identidade. Trata-se de um
universo de véus e máscaras. Há uma alma interior e uma alma exterior: este é o
tema do conto O espelho. Às vezes, a aparência e a verdade se confundem
tanto que os indivíduos tomam uma pela outra: Capitu aparenta trair, Bentinho a
julga traidora.
7 - A ambiguidade
feminina: As mulheres no regime patriarcalista, inferiorizadas socialmente, são
impelidas a aprender regras de dissimulação e de sedução, e se servem delas
como armas. Muitas vezes, são elas que conduzem os homens desencadeando crises
e problemas. Sofia, Capitu, Virgília e dona Conceição – esta última do conto Missa
do galo - exemplificam este tipo de mulher.
8- O instinto e o
subconsciente como móveis dos atos humanos.
Processos linguísticos
e narrativos
1 - Quebra da
estrutura linear: Os romances são fragmentados por uma multiplicidade de
episódios e principalmente pelas contínuas digressões do narrador, que se faz
presente em todos os textos, opinando, julgando, relativizando tudo.
2 - A volubilidade do
narrador: O narrador afirma uma ideia e, em seguida, a destrói. Assim ele faz
com todos os sistemas e filosofias, anulando a todos. Nenhuma verdade é
absoluta. Tudo depende dos interesses de cada indivíduo. Nada é eterno ou
definitivo.
3 - Perfeição formal:
Os textos machadianos revelam não apenas um refinamento linguístico, mas também
uma forma trabalhada, limpa, perfeita.
Características das
obras
1 - Análise
psicológica: O romance de enredo linear é substituído pelo romance de
digressões e situações psicológicas. Os acontecimentos exteriores, a natureza,
o cenário, são descritos apenas quando provocam reações subjetivas nos
personagens.
2 - Análise dos
valores sociais: A crítica ao contexto social é um dos pilares das narrativas
de Machado de Assis. Tem plena consciência da brutalidade do patriarcalismo
brasileiro, do horror escravismo e da pequenez de nossa classe dominante. No
entanto, não é um escritor de protesto. Sua análise social não aparece na superfície,
está implícita no comportamento dos personagens.
3 - Pessimismo:
Decorrência da constatação da falência e da degradação dos valores que regem a
vida humana. O escritor assume uma posição de descrença absoluta em relação à saídas
religiosas, filosóficas e ideológicas.
O final de Brás Cubas
é bastante conhecido:
Este último capítulo
é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplastro, não fui ministro,
não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas,
coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. (...)
Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua
nem sobra, e conseguintemente saí quite com a vida. E imaginará mal; porque, ao
chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a
derradeira negativa deste capítulo de negativas: - Não tive filhos, não
transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria.
4 - Ironia: A
amargura e o desespero são tão fortes em Machado que se convertem em humor. Um
humor sutil, de entrelinhas, requintado e discreto, de tal forma que os
contemporâneos do escritor nunca chegaram a percebê-lo. A ironia do escritor
não atinge apenas os personagens, mas os leitores e o próprio formular da narrativa.
Outras atividades:
· Além de romancista
e contista, Machado de Assis deixou poemas, peças de teatro, crônicas e crítica
literária.
Não esqueça: Com
Machado de Assis, a literatura brasileira deixou de ser apenas uma manifestação
de "cor local", paisagem e exterioridade, tornando-se uma literatura
capaz de expressar de forma brasileira as contradições do homem universal.
3.
Raul
Pompéia
O Ateneu
· Presença de um
narrador em primeira pessoa (Sérgio).
· Fortes traços
autobiográficos no romance.
· Crítica ao
internato e à sociedade que ela expressa.
· Registro da
destruição psicológica e moral do menino Sérgio no internato.
· Corrupção do
ambiente (todos os personagens se degradam).
· Mundo dominado pelo
sexo, dinheiro e ânsia de poder.
· Teor caricatural
(sobretudo na figura de Aristarco, o diretor do colégio).
· As impressões do
passado são revividas pelo narrador.
· Inclusão do romance
no Realismo (por alguns críticos).
· Inclusão do romance
na estética impressionista (por outros críticos).
· Linguagem
trabalhada ("prosa artística").
4.
Aluísio
Azevedo
O mulato: (romance cuja ação
transcorre em São Luís do Maranhão, envolvendo denúncias contra o preconceito
de cor, a mediocridade da vida provinciana e a hipocrisia do clero. Jovem
mulato de origem misteriosa, Raimundo, volta a São Luís, após formar-se em
Portugal, buscando os seus antepassados e uma fortuna que lhe teria sido
subtraída. Termina apaixonando-se pela prima, branca e rica, Ana, e descobrindo
o próprio passado. Sob a inspiração de um padre corrupto, o cônego Diogo (que
estava sendo desmascarado pelo mulato), um ex-namorado de Ana assassina
Raimundo. O romance acaba com a indiferença de São Luís em relação ao
assassinato e o casamento de Ana com o criminoso).
O cortiço
· A concepção
biológica da existência - que chega ao extremo de considerar o próprio cortiço
um organismo vivo, sujeito às leis evolutivas;
· A predominância do
coletivo sobre o particular;
· O registro da
acumulação primitiva de capital (João Romão);
· O fatalismo que
condena os indivíduos a se tornarem o reflexo do cenário onde vivem: o
determinismo do meio do qual Jerônimo é o maior exemplo;
· O determinismo dos
instintos, traduzido especialmente por Pombinha;
· A identificação da
indolência, da bagunça e da sensualidade como uma forma tropical-brasileira de
ser. Um símbolo disso é a mulata Rita Baiana;
· A ótica nauseada do
narrador, que transforma todas as criaturas humanas em animais;
· Algumas tiradas
racistas, de acordo com os princípios "cientificistas" da época;
· A celebração de uma
extraordinária força vital, de uma selvagem vibração dos instintos e de uma
fervilhante alegria de existir e de sobreviver em condições tão adversas.
VII – PARNASIANISMO
Surgimento: França,
década de 1860 - Brasil, década de 1880.
Características:
1 - Reação à poesia romântica (tentativa de poesia realista)
2 - Objetividade e
impassibilidade do poeta.
3 - Culto à forma,
entendida como métrica, rima e versificação.
4 - Utilização de
fórmulas poéticas fixas como o soneto.
5 - Arte pela arte: a
arte só tem compromisso com sua beleza.
6 - Temas principais:
Antiguidade greco-romana; discussão sobre a própria poesia; descrição de cenas
da natureza e de objetos.
Parnasianismo no
Brasil
· Literatura
descompromissada das elites
· Ampla dominação
cultural parnasiana (1882-1922) que desencadeia, por oposição, a Semana de Arte
Moderna.
A tríade parnasiana
1)
Olavo
Bilac (Tarde, Poesias, Via-Láctea, Sarças de fogo).
Temas principais:
Natureza - Pátria - Antiguidade greco-romana - Amor sensual e amor platônico - Questionamento
da própria poesia.
Características
básicas: Rigidez métrica e luta pela perfeição formal - Desvios na objetividade
parnasiana, resultantes de uma pretensa "herança romântica" que se
traduz em temas subjetivos como o amor (seja o erótico, seja o platônico) e o
nacionalismo.
Poemas mais
conhecidos: Profissão de fé - In extremis - O caçador de
esmeraldas.
2)
Raimundo
Correia (Meridionais)
Temas principais:
Natureza - Melancolia da existência.
Características
básicas: Recursos visuais (plásticos) e sonoros na confecção dos versos -
Tentativa de um sentido filosofante na poesia em geral.
Poemas mais
conhecidos: As pombas - Mal secreto.
3)
Alberto
de Oliveira
Temas principais:
Natureza - Descritivismo de objetos.
Característica
básica: Adesão completa e rígida a todos os princípios do movimento.
VIII – SIMBOLISMO
Surgimento: França,
1880, com Verlaine, Mallarmé e Rimbaud.
Características:
1)
Reação
subjetivista ao descritivismo parnasiano.
2) Abandono das fórmulas
poéticas rígidas.
3) A poesia deve ser um
processo de sugestões (sugerir = não dizer, não nomear).
4)
Sugestão
através de símbolos, de metáforas originais, de uma linguagem cifrada.
5)
Sugestão
através da musicalidade da linguagem (uso de aliterações).
6) Culto do mistério, do
espiritualismo e do misticismo.
7)
Descoberta
das camadas profundas da vida psíquica.
8)
Domínio
do vago, do obscuro, do nebuloso, do inefável.
SIMBOLISMO NO BRASIL
- Movimento surgido
em províncias intelectualmente sem importância, na época: Santa Catarina, Rio
Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais.
- Pequena ressonância
na época e forte influência (dos simbolistas europeus) nos anos de 1910, 20 e
30 sobre as obras de Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Mário Quintana e
Vinícius de Moraes.
1)
CRUZ
E SOUSA
Missal - Broquéis -
Faróis - Evocações - Últimos sonetos.
Temas básicos:
- A obsessão pela cor
branca.
- O erotismo
sublimado.
- O sofrimento da
condição negra.
- O sofrimento da
condição humana.
- Espiritualização e
religiosidade.
- Linguagem
metafórica e musical.
2)
ALPHONSUS
DE GUIMARAENS
Câmera ardente - Dona
Mística – Septenário das dores de Nossa Senhora.
Temas básicos:
- A morte da noiva.
- A sublimação da perda
da noiva através do misticismo religioso.
- A paisagem
fantasmagórica das cidades mineiras.
- Linguagem de rica
musicalidade e, por vezes, litúrgica.
3)
PEDRO
KILKERRY
- Poesia
fragmentária, difícil.
- inovações de
linguagem.
· IX - PRÉ-MODERNISMO
Período de
abrangência: 1902 a 1922.
Período eclético*:
· grupo passadista
(parnasianos e simbolistas retardatários).
· grupo renovador (sob
variadas linguagens, com predomínio da prosa neorrealista, um conjunto de
escritores – sem um projeto comum – tenta olhar para o país de uma forma mais
ou menos crítica).
* eclético - mistura
de várias tendências.
1.
Euclides
da Cunha
Os sertões
· Relato sobre a
guerra de Canudos travada entre sertanejos fanáticos e soldados do exército.
· A base fatual do
relato são as reportagens que E.C. enviou para o jornal durante o confronto.
· A obra se divide –
de acordo com as teses deterministas que a delimitam (Taine: meio, raça e
momento) em A terra – O homem – A luta.
· As teses
cientificistas de E. C. estão mais presentes nas duas primeiras partes da obra.
· Em O homem,
o sertanejo é apresentado, simultaneamente, como uma "sub-raça",
"raça degenerescida" e como um "forte", um "titã de
cobre".
· A luta –
parte mais importante – é uma mescla de texto científico, resgate histórico,
reportagem jornalística, narrativa romanesca, análise da guerra, denúncia da
chacina dos sertanejos e uma profunda interpretação do Brasil.
· A percepção da
guerra como tradução da existência de dois Brasis – um civilizado e moderno e
outro arcaico e primitivo – dois Brasis sem unidade, sem um núcleo comum,
constitui a grande colaboração de E. C. para a consciência dos brasileiros da
época a respeito do seu próprio país.
Não esqueça: A
linguagem – extraordinariamente elaborada, ornamental, difícil, poética,
barroca em suas antíteses, em suas metáforas e em seus paradoxos – é o que
confere caráter literário ao texto.
2.
Lima
Barreto
· Relatos
neo-realistas, de estilo simples, mais ou menos desleixados na linguagem.
· Valorização da vida
suburbana e das camadas pobres do Rio de Janeiro.
· Caricatura dirigida
aos poderosos da época (políticos e letrados, em especial).
· Ironia corrosiva ao
nacionalismo ufanista.
· Denúncia dos
preconceitos sociais e de cor (o autor era mulato).
Triste fim de Policarpo
Quaresma (Relato
centrado em um burocrata visionário, dominado por formulações de nacionalismo
ufanista e que, por isso, crê piamente na grandezas convencionais da nação. A
narrativa é a da perda progressiva de seus ideais, perseguidos e destroçados
pela realidade, como, por exemplo, a sua fracassada experiência agrícola e a
sua consciência da brutalidade das elites, após o episódio da Revolta da Armada
(1893). Por protestar contra a violência do próprio governo que ajudara a
defender, Policarpo Quaresma será preso e fuzilado.)
Recordações do
escrivão Isaías Caminha (O jovem mulato Isaías Caminha sai do interior em busca
de uma chance no Rio de Janeiro, mas o preconceito de cor impedem-no de
alçar-se, restando-lhe apenas um trabalho subalterno num diário da antiga
capital federal. No final do romance, furando uma greve dos companheiros, Isaías
Caminha acaba virando editor do jornal e depois, pelos bons serviços prestados
ao patrão, recebe um cartório de presente e torna-se escrivão ou tabelião, como
diríamos hoje).
3.
Augusto
dos Anjos
Eu
· Poesia com traços
parnasianos, simbolistas e pré-modernistas.
· Os aspectos
pré-modernistas estão presentes em alguns versos de extremo coloquialismo e na
incorporação da temática da "sujeira da vida" e do grotesco, muito
comuns na poesia moderna.
· Utilização frequente
de termos científicos da medicina e da biologia, de acordo com as tendências naturalistas/evolucionistas
vindas do século XIX.
· Apresenta uma
obsessão pela morte, nas formas mais degradadas que ela pode apresentar:
podridão da carne, cadáveres fétidos, corpos decompostos, vermes famintos e
fedor de cemitérios.
· Dominada pelo
niilismo, a poesia de Augusto dos Anjos questiona a falta de sentido da
existência e verte um nojo amargo e desesperado pelo fim inglório a que a
natureza nos condena.
· A angústia diante
da morte transforma-se numa espécie de metafísica do horror: o homem não passa
de matéria que acaba, que entra em putrefação e que depois desaparece.
4.
Monteiro
Lobato
Literatura geral (adulta):
Urupês, Cidades mortas, Negrinha.
· contos com ênfase
em soluções patéticas, macabras ou anedóticas.
· estrutura do conto
e de linguagem presa ao modelo realista tradicional.
· registro da zona
cafeicultura decadente do interior paulista (Cidades mortas).
· criação da figura
do caboclo brasileiro (o caipira) – Jeca Tatu.
Literatura
infanto-juvenil: O sítio do pica-pau amarelo.
· mescla de fantasia,
realidade e informação.
· presença de um
cenário típico do interior brasileiro (o sítio).
5.
Simões
Lopes Neto
Lendas do Sul – Casos
do Romualdo – Contos gauchescos.
· Forte presença da
cultura regional sul-rio-grandense.
· Utilização de
lendas como a do Negrinho do pastoreio e da Salamanca do Jarau (Lendas
do Sul).
· Na obra-prima (Contos
gauchescos) há uma mescla de:
a)
costumes
da campanha rio-grandense.
b)
registro
da vida cotidiana.
c) fixação da linguagem específica da
região (com grande número
de espanholismos e
alguns neologismos)
· O narrador de Contos
gauchescos é um vaqueano de quase 90 anos (Blau Nunes) que evoca histórias
que viveu, presenciou ou escutou.
· O fato de o
narrador ser oriundo das camadas populares ocasiona uma intensa oralidade em
sua forma de narrar às histórias.
· No conjunto, os Contos
gauchescos apresentam simultaneamente uma louvação do gaúcho (coragem, audácia,
honestidade e cavalheirismo) e uma crítica implacável à violência que campeia
no pampa.
Não esqueça: Apesar
do tom regionalista dos relatos de Simões Lopes, as paixões humanas que animam
os mesmos ultrapassam a condição localista e se situam numa dimensão universal.
Assim o drama específico do pampa rio-grandense adquire interesse para leitores
de todos os quadrantes.
6. GRAÇA ARANHA
Canaã: Romance de tese (ou
de ideias ou ainda romance-ensaio), centrado no debate ideológico entre dois imigrantes
alemães, Milkau e Lentz, recém chegados ao Espírito Santo. Há uma discussão
sobre o futuro da sociedade brasileira, discussão esta centrada nas ideias de
clima e de raça. A linguagem da obra tem certos acentos impressionistas.
X – MODERNISMO
A SEMANA DE ARTE
MODERNA
Antecedentes
europeus: as vanguardas.
Futurismo, Cubismo,
Dadaísmo (o Surrealismo não influenciou diretamente a Semana, mas apenas o movimento
da Antropofagia, de Oswald de Andrade).
Futurismo: Fundado
pelo italiano Marinetti, foi o movimento de vanguarda que mais influenciou os
nossos modernistas. Propunha uma ruptura total com o passado. Ao mesmo tempo, exaltava
o "esplendor geométrico e mecânico do mundo moderno". Isso
significava cantar a máquina, o aeroplano, o asfalto, o cinematógrafo. No plano
formal, os futuristas suprimiram o eu poético, a pontuação, os adjetivos e
usavam apenas o verbo no infinitivo, etc.
Antecedentes
brasileiros:
· A publicação, em
1917, de diversos livros de poemas em que jovens autores buscavam uma nova
linguagem, ainda não bem realizada. (Nós, de Guilherme de Almeida; Juca
Mulato, de Menotti del Picchia; Cinza das horas, de Manuel Bandeira;
e Há uma gota de sangue em cada poema, de Mário de Andrade).
· A célebre exposição
de Anita Malfatti, em 1917, e que foi duramente criticada por Monteiro Lobato
em seu célebre artigo Paranoia ou mistificação. Jovens artistas
paulistanos saíram, então, em defesa da pintora, criando uma polêmica que os
ajudou a formar um grupo desejoso de mudar a arte e a cultura brasileira.
A semana de Arte
Moderna
Realizada em
fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo, a Semana representou a
ruptura barulhenta com os princípios estéticos do passado.
A proposição de uma
"semana" (na verdade, foram só três noites) implicava uma amostragem
geral da prática modernista. Programaram-se conferências, recitais, exposições,
leituras, etc. O momento mais sensacional deu-se na segunda noite, quando
Ronald de Carvalho leu um poema de Manuel Bandeira:
Os sapos, uma ironia corrosiva aos
parnasianos que ainda dominavam o gosto do público.
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
‘- Meu pai foi à
guerra
- Não foi! - Foi! -
Não foi!’
O sapo-tanoeiro
Parnasiano aguado
Diz: - Meu
cancioneiro
É bem martelado.
Principais
participantes da Semana
Literatura:
Mário de Andrade -
Oswald de Andrade - Graça Aranha - Ronald de Carvalho - Menotti del Picchia –
Guilherme de Almeida.
Música e Artes
Plásticas:
Anita Malfatti - Di
Cavalcanti – Santa Rosa - Villa-Lobos - Guiomar Novaes.
A importância
estética da Semana
A Semana significou
também o atestado de óbito da arte dominante. O academicismo plástico, o
romantismo musical e o parnasianismo literário esboroaram-se por inteiro. Os
autores modernistas colocaram a renovação estética acima de outras
preocupações. O principal inimigo eram as formas artísticas do passado.
Caberia a Mário de
Andrade - verdadeiro líder e principal teórico do movimento - sintetizar a
herança de 1922:
· A estabilização de
uma consciência criadora nacional, preocupada em expressar a realidade
brasileira.
· A atualização
intelectual com as vanguardas europeias.
· O direito
permanente de pesquisa e criação estética.
A Semana e a
realidade brasileira
A Semana de Arte
Moderna insere-se num quadro mais amplo da realidade brasileira. Vários
historiadores já a relacionaram com a revolta tenentista e com a criação do
Partido Comunista, ambas de 1922. Embora as aproximações não sejam imediatas, é
flagrante o desejo de mudanças que varria o país, fosse no campo artístico,
fosse no campo político.
O Modernismo de 22 a
30 (Fase de destruição e experimentação).
O projeto dos
modernistas pode ser dividido em três linhas básicas que se conjugam:
A)
Desintegração
da linguagem tradicional:
Questiona-se a arte
acadêmica e suas fórmulas envelhecidas. O estilo parnasiano e o bacharelismo
são os alvos prediletos dos ataques modernizadores. Para efetivar tal
destruição, usa-se a paródia, o poema-piada, o sarcasmo.
B)
Adoção
das conquistas das vanguardas:
A liberdade de
expressão, a visão do cotidiano, a linguagem coloquial e outras inovações
desenvolvidas pelas vanguardas europeias são assimiladas, ainda que
desordenadamente, pela geração de 22. A revista Klaxon, de 1922, e os
primeiros textos publicados no ano da Semana mostram essa preocupação com a contemporaneidade.
Não tem fundamento, portanto, a afirmativa de que os modernistas seriam
antieuropeus.
A identificação com
as velhas matrizes culturais ainda é evidente.
C)
Busca
da expressão nacional:
Em 1924, em Paris,
Oswald de Andrade assiste a uma exposição de máscaras africanas. Elas parecem expressar
a identidade dos povos negros da África. Nesse momento, o escritor se
interroga: "E nós, os brasileiros, quem somos?
Atrás dessa pergunta,
começa a se delinear a luta por um abrasileiramento temático. Antes, as
questões fundamentais eram estéticas. A partir de agora passam a ser também
ideológicas: sonha-se com a delimitação de uma cultura brasileira, de uma alma
verde-amarela.
A saída primitivista:
O novo nacionalismo
irá assumir uma perspectiva crítica, um tom anárquico e desabusado. Celebra-se
o primitivismo, isto é, as nossas origens indígenas e extra-europeias. As civilizações
aborígenes e também no folclore, nos aspectos míticos e lendários da cultura
popular, quer se descobrir a essência do Brasil.
Esta pesquisa de uma
subjacente alma nacional só poderia ser realizada, no entanto, com o
instrumental artístico da modernidade. Assim, o Brasil seria uma síntese entre
o primitivo e o inovador.
Os movimentos
primitivistas:
Pau-Brasil.
Lançado em março de
1924, o Manifesto da Poesia Pau-Brasil trazia como ideias-chave:
· A junção do moderno
e do arcaico brasileiros: "A poesia existe nos fatos. Os casebres de
açafrão e de ocre nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos
astéticos (...) A reza. O Carnaval. A energia íntima. O sabiá. A hospitalidade
um pouco sensual, amorosa. A saudade dos pajés e os campos de avaliação militar.
Pau- Brasil."
· A ironia contra o
bacharelismo: "O lado doutor, o lado citações, o lado autores
conhecidos. Comovente. (...) A riqueza dos bailes e das frases feitas.(...)
Falar difícil."
· A luta por uma nova
linguagem: "A língua sem arcaísmo, sem erudição. Natural e neológica. A
contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos. (...)
Contra a cópia, pela invenção e pela surpresa."
· A descoberta do
popular: O Pau-Brasil descortina para os modernistas o universo mítico e
ingênuo das camadas populares: "O Carnaval é o acontecimento religioso
da raça. Pau-Brasil. Wagner submerge ante os cordões de Botafogo. A
formação étnica rica. Riqueza vegetal."
Antropofagia:
O manifesto
antropofágico, lançado em 1928, amplia as idéias do Pau-Brasil, através dos
seguintes elementos:
· A insistência
radical no caráter indígena de nossas raízes: "Tupy or not tupy that is
the question".
· O humor como forma
crítica e traço distintivo do caráter brasileiro: "A alegria é a prova
dos nove".
· A criação de uma
utopia brasileira, centrada numa sociedade matriarcal, anárquica e sem
repressões: "Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada
por Freud - a realidade sem complexos, sem loucura, sem prostituições e sem
penitenciárias do matriarcado de Pindorama."
· A postura
antropofágica como alternativa entre o nacionalismo conservador, anti-europeu e
a pura cópia dos valores ocidentais: "Nunca fomos catequizados.(...)
Fizemos Cristo nascer na Bahia. Ou em Belém do Pará."
Caberia a Mário de Andrade,
com o romance Macunaíma, e a Raul Bopp, com o poema Cobra Norato,
a tentativa de levar para a criação literária as ideias do Manifesto.
Não esqueça: Nos anos
de 1967, Caetano Veloso e outros compositores populares – através do
Tropicalismo – voltam a acenar com os princípios antropofágicos para combater a
estreiteza da chamada M.P.B., que rejeitava a incorporação de elementos da
música pop internacional à música brasileira.
Verde-Amarelo (1924)
e Anta (1928):
Com a participação de
Cassiano Ricardo, Menotti del Picchia e Plínio Salgado, estas tendências
opõem-se ao primitivismo destruidor e debochado dos "antropófagos"
através do reforço do "sentido de brasilidade" e de uma tendência
conservadora e direitista no plano social.
Características da
literatura modernista
A)
Liberdade
de expressão:.
A importância maior
das vanguardas residiu no triunfo de uma concepção inteiramente libertária da
criação artística. Poética, de Manuel Bandeira, é um manifesto dessa
nova postura, com seu célebre verso final:
Não quero mais saber
de lirismo que não é libertação.
B)
Incorporação
do cotidiano:
O prosaico, o diário,
o grosseiro, o vulgar, o resíduo e o lixo tornam-se os motivos centrais da nova
estética. À grandiosidade da paisagem, Manuel Bandeira sobrepõe à humildade do
beco:
Que importa a
paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte?
- O que eu vejo é o
beco.
C)
Linguagem
coloquial
A linguagem torna-se
coloquial, espontânea, mesclando expressões da língua culta com termos
populares, o estilo elevado com o estilo vulgar. O artista volta-se para uma
forma prosaica de dizer, feita de palavras simples e que, inclusive, admite
erros gramaticais, conforme se vê neste poema de Oswald de Andrade:
Para dizerem milho
dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem
teiado
E vão fazendo
telhados.
D)
Inovações
técnicas:
· Verso livre.
· Destruição dos
nexos.
· Paronomásia (junção
de palavras de sonoridade muito parecida, mas de significado diferente).
· Enumeração caótica.
· Colagem e montagem
cinematográfica.
· Liberdade no uso
dos sinais de pontuação.
Os autores de 1922:
1.
Oswald
de Andrade (1890-1954).
Obras principais:
Poesia: Poesia do
pau-brasil (1922).
Teatro: O rei da
vela (1937).
Romances: Memórias
sentimentais de João Miramar (1924); Serafim Ponte Grande (1937).
Os romances da
destruição:
· Os dois romances
acima (ou anti-romances) desobedecem aos padrões tradicionais da narrativa,
diluindo a separação entre prosa e poesia.
· Apresentam
metáforas ousadas, neologismos e são totalmente fragmentários. Há uma grande
quantidade de "capítulos-relâmpagos".
No conjunto, os
romances de Oswald de Andrade são descontínuos e antidiscursivos, predominando
neles a ideia de montagem cinematográfica, isto é, da técnica do corte e da colagem
dos múltiplos fragmentos.
Como registrou uma
estudiosa, eles "apresentam várias modalidades de linguagem: a
cotidiana, a caipira, a bacharelesca, a de composições infantis, a dos diários
íntimos. Inclui ainda os clichês, as frases feitas, piadas, neologismos,
palavrões, etc..."
2 - Mário de Andrade
(1893-1945)
Obras principais:
Poesia: Paulicéia
desvairada (1922); Clã do jabuti (1927); Lira paulistana (1946).
A obra mais
importante é Paulicéia desvairada até por causa de seu prefácio,
denominado pelo autor Prefácio interessantíssimo. Nele, Mário teorizara
sobre sua própria poesia e sobre as tendências modernistas do novo lirismo:
"Não sou
futurista (de Marinetti). Disse e repito-o. Tenho pontos de contacto com o
futurismo. Oswald de Andrade chamando-me de futurista errou.(...). Escrever
arte moderna não significa jamais para mim representar a vida atual no que tem
de exterior: automóveis, cinema, asfalto. 'Si' estas palavras frequentam o
livro não é porque pense com elas escrever moderno, mas porque sendo meu livro
moderno, elas têm nele sua razão de ser."
Ficção: Amar,
verbo intransitivo (1927); Macunaíma (1928); Contos novos (1946).
Macunaíma: o herói
sem nenhum caráter.
Macunaíma representa a adesão
de Mário ao nacionalismo primitivista. Desde o início, o romance (ou a rapsódia,
como queria o autor) apela para o suporte mitológico: a lenda indígena de
Macunaíma é a base do texto. Há também no texto lendas sertanejas e caboclas,
misturadas com os aspectos mágicos da cultura afrobrasileira, etc.
O esforço de síntese
percorre toda a rapsódia: síntese cultural, lingüística, geográfica,
psicológica.
As andanças de
Macunaíma da selva à cidade, em busca da pedra mágica (o muiraquitã),
roubada pelo gigante Wenceslau, seus amores e aventuras servem para levantar os
traços definidores daquilo que seria o caráter do homem brasileiro.
O "herói de
nossa gente" tem como características a preguiça, a irreverência, o
deboche e uma sensualidade intensa. Em resumo, estamos frente á malandragem.
Mas, de certa forma, é uma malandragem derrotada, pois Macunaíma retorna à
selva, só lhe restando um destino mítico: subir aos céus e virar constelação.
Não esqueça: Em sua
linguagem tão múltipla, o relato satiriza os padrões da escrita acadêmica. A
carta que Macunaíma envia às icamiabas (índias amazonas), por exemplo, é uma
paródia da retórica bacharelesca que sempre caracterizou os letrados
brasileiros.
Outros autores de
1922
Raul Bopp - Cobra
Norato (poesia).
· Vinculação à
antropofagia.
· Poema baseado numa
lenda amazônica. Antônio de Alcântara Machado - Brás, Bexiga e Barra Funda (contos).
· Realismo irônico e
sentimental.
· Valorização do
imigrante italiano.
· Estilo coloquial.
XI - A POESIA MODERNA
1.
Manuel
Bandeira (1886-1968)
Obras principais: Cinza
das horas (1917); Carnaval (1919); Ritmo dissoluto (1924); Libertinagem
(1930).
Estrela da manhã (1936); Lira dos
cinquent'anos (1948); Estrela da tarde (1963).
Características
gerais da poesia:
· Fusão entre a
confissão pessoal e a vida cotidiana.
· Um clima de desejo
insatisfeito e amargurado percorre a sua obra. A tuberculose impediu-o de viver
profundamente. Desta forma, a poesia representou para ele "toda a vida
que podia ter sido e que não foi."
· Os poemas Vou-me
embora pra Pasárgada ("Vou-me embora pra Pasárgada / Lá sou amigo do rei /
Lá tenho a mulher que eu quero / Na cama que escolherei"), Balada das três
mulheres do sabonete Araxá e Estrela da manhã se inserem nesta linha
do desejo insatisfeito.
· Outro tema
dominante em sua poesia é o da morte.
· Bandeira é também
um grande poeta do cotidiano: descobre o lirismo perdido nos becos, nos
arrabaldes, em pobres quartos de hotel e em tudo que é irrisório e banal.
· Sua expressão
poética é de absoluta simplicidade. Uma simplicidade que o levou a desconsiderar
(equivocadamente) a importância de sua própria poesia:
Criou-me, desde eu
menino
Para arquiteto meu
pai
Foi-se-me um dia a
saúde...
Fiz-me arquiteto? Não
pude!
Sou poeta menor,
perdoai!
Não esqueça: Manuel
Bandeira é o poeta que melhor realiza a síntese entre a grande tradição da
lírica ocidental e a radicalidade da poesia moderna. Da tradição, herda os
temas universais (morte, infância, desejo amoroso, questionamento da vida). Do
modernismo, o coloquial, o cotidiano e o verso livre.
2.
Cecília
Meireles (1901-1964)
Obras principais: Viagem
(1939); Vaga música (1942); Mar absoluto (1945); O
romanceiro da Inconfidência (1953).
Características
gerais:
· Uma poesia presa à
tradição lírica do passado.
· Há nela forte
herança simbolista: a maioria das obras expressa estados de ânimo, vagos e
quase incorpóreos.
Além disso, certas
imagens naturais como o mar, a areia, a espuma, a lua, o vento etc., por sua
repetição obsessiva, acabam também ganhando uma dimensão simbólica.
· Predominam os
sentimentos de perda amorosa e solidão. A atmosfera de dor existencial é
ampliada pela insistência no tema da passagem do tempo.
· Sua linguagem é
elevada, sublime, com pouca presença do coloquial.
O romanceiro da
Inconfidência:
É a sua experiência
poética mais significativa. Para escrevê-lo, pesquisou todos os elementos
históricos que compuseram o evento. Ao mesmo tempo, encontrou uma forma poética
específica do passado ibérico: o romanceiro.
Trata-se de um
conjunto de poemas narrativos, unidos por um tema central. Cada poema é um romance.
Composto por oitenta
e cinco romances, O romanceiro da Inconfidência oferece uma visão
dramática e lírica da sociedade mineira do século XVIII, de suas principais
figuras humanas e do levante republicano abortado pela denúncia de Joaquim
Silvério:
Melhor negócio que
Judas
fazes tu, Joaquim
Silvério:
que ele traiu Jesus
Cristo
tu trais um simples
Alferes...
Não esqueça: O
romanceiro da Inconfidência é um texto que parte de uma reflexão sobre a
história concreta do levante mineiro e alcança uma dimensão lírica superior,
tornando-se uma interrogação sobre o sentido das ações humanas.
3.
Mário
Quintana (1906- 1994)
Obras principais: Rua
dos cataventos (1940); Sapato florido (1948); Espelho mágico (1951);
O aprendiz de feiticeiro (1950); Do caderno H (1973); Apontamentos
de história sobrenatural (1976); Velório sem defunto (1990).
Características
principais:
· Herança simbolista.
· Temática da morte e
da tristeza das coisas.
· Linguagem de
absoluta simplicidade.
A melancolia dos
versos está determinada por um clima de derrocada pessoal. O indivíduo percebe
o fim de tudo e sente-se perdido numa realidade imprecisa, cheia de noites
silenciosas e de cenas surreais, indicando a herança simbolista. A ideia da
morte perpassa todo o discurso poético:
Da vez primeira em
que me assassinaram
Perdi um jeito de
sorrir que eu tinha...
Depois, de cada vez
que me mataram,
Foram levando
qualquer coisa minha...
Os poemas em prosa ·
Aparecem em Sapato florido e em Do caderno H.
· São poemas curtos
em prosa. Lembram epigramas, pois são curtos e geralmente irônicos. Uma ironia estabelecida
sobre o cotidiano. O poeta mergulha na vida prosaica, surpreendendo-lhe os
aspectos risíveis, insólitos ou até mesmo trágicos.
· Manuel Bandeira
denominou "quintanares" a esses poemas curtos.
Cartaz para uma Feira
do Livro:
Os verdadeiros
analfabetos são os que aprenderam a ler e não leem.
Indecência.
Na verdade, a coisa
mais pornográfica é a palavra 'pornografia'.
4.
Jorge
Lima (1893-1953)
Obras principais: A
túnica inconsútil (1938); Poemas negros (1947); Invensão de Orfeu
(1952).
· Sua carreira
poética iniciou-se sob o signo parnasiano.
· Apresenta uma fase
nordestina caracterizada pela registro poético da realidade existencial,
cultural e histórica da região. O popular aparece identificado com o mundo dos
engenhos decadentes.
· Captação (com uma
linguagem cheia de expressões populares) do saber, das crenças e dos aspectos pitorescos
desse universo rural nordestino.
· Valorização da
religiosidade de substrato católico.
· Teve ainda uma fase
de celebração da cultura negra, seus ritmos e costumes. Usou um linguajar afro-brasileiro
para conferir maior verdade antropológica e lingüística aos textos. Essa negra
Fulô louva o sensualismo das escravas e virou peça antológica:
Ora, se deu que
chegou
(isso já faz muito
tempo)
no bangüê dum meu avô
uma negra bonitinha
chamada Fulô (...)
Sinhô foi ver a negra
levar couro do feitor
A negra tirou a
roupa.
O Sinhô disse: Fulô!
(A vista se escureceu
que nem a negra
Fulô.)
5.
Murilo
Mendes (1901-1976)
Obras principais: Tempo
e eternidade (com Jorge de Lima, 1935); As Metamorfoses (1944); Contemplação
de Ouro Preto (1954).
· Começa com uma
poesia de inspiração modernista, em que predominava o humor.
· Depois, sua poesia
assume uma dimensão religiosa, requintada e quase hermética.
· Apresenta uma
linguagem próxima do surrealismo, definida por alucinações, uso de símbolos e
alegorias e acentuada abstração da vida cotidiana.
6.
Vinícius
de Moraes (1913-1980)
Obras principais: Novos
poemas (1938); Cinco elegias (1943); Poemas, sonetos e baladas (1946).
A obra de Vinícius de
Moraes divide-se em duas fases:
I - A primeira fase
insere-se na linha de um neo-simbolismo, de conotações místicas, em que há um
debate entre as solicitações da alma e as do corpo.
II - A segunda fase,
iniciada com Cinco elegias, assinala a explosão de uma poesia mais
viril. "Nela – segundo o próprio Vinícius - estão nitidamente marcados os
movimentos de aproximação do mundo material, com a difícil mas consciente
repulsa ao idealismo dos primeiros anos."
Características
principais:
· Sua tendência ao
verbalismo é contida pelo uso frequente do soneto.
· Seu grande tema é o
amor. O amor em suas múltiplas manifestações: saudade, carência, desejo,
paixão, espanto. Registra uma nova concepção sentimental, mais concreta, mais
livre de preconceitos, mais atenta às mulheres. Em seus poemas, destrói noções
como a da eternidade do amor - dogma do Brasil patriarcal – em versos célebres
como aquele "que seja eterno enquanto dure", extraído do Soneto
da fidelidade.
· A partir dos anos
de 1940 e 1950, o poeta se inclina por uma lírica comprometida com o cotidiano,
buscando inclusive os grandes dramas sociais do nosso tempo. (O operário em
construção e Rosa de Hiroshima, cujos versos iniciais transcrevemos,
são os exemplos mais conhecidos):
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Não esqueça: Além de
poeta, Vinícius de Moraes trilhou com êxito a carreira de compositor de música
popular, tornando-se o grande letrista da Bossa Nova, com clássicos como Garota
de Ipanema e Chega de saudade. A exemplo do soneto, a canção
obrigou-o a restringir seus excessos verbais.
7.
Carlos
Drummond de Andrade (1902-1989)
Obras principais: Alguma
poesia (1930); Brejo das almas (1934); Sentimento do mundo (1940);
A rosa do povo (1945); Claro enigma (1951); Fazendeiro do ar (1954);
Lição de coisas (1962); Boitempo (1968); As impurezas do branco
(1974); O corpo (1984); Amar se aprende amando (1985).
Obras em prosa: Fala,
amendoeira e Cadeira de balanço (crônicas); Contos de aprendiz.
Características
principais:
· A multiplicidade
quase infinita de assuntos. A rigor, podemos dizer que a sua obra estrutura-se
sobre sete temas básicos: a poesia social; a de reflexão existencial (o eu e o
mundo); a poesia sobre a própria poesia; a do passado; a do amor; a do
cotidiano; a da celebração dos amigos.
· A linguagem de
impressionante invenção e capacidade sugestiva, herdeira tanto da tradição
lírica ocidental (o tom sublime e elevado) quanto das experiências radicais dos
vanguardistas do século XX (a dicção coloquial e prosaica). Uma linguagem capaz
de explorar as infinitas faces das palavras, gerando uma expressão de notável riqueza
polissêmica e, portanto, de não menos notável possibilidade interpretativa.
· A presença do
gauche, visível no Poema de sete faces, que abre o primeiro livro, Alguma
poesia, e que prosseguiria como um dos elementos mais inusitados da
personalidade poética do escritor: "Quando nasci, um anjo torto
/ desses que vivem na sombra / disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida." O
gauche (esquerdo, em francês) é o anti-herói, o torto, o desajeitado, o
errado, o sujeito em desacerto com o mundo, para quem as coisas não dão certas.
· Um intenso "humour"
– um dos elementos-chave para a compreensão de sua obra – que é o humor
sutil, quase sempre corrosivo, uma espécie de olhar enviesado sobre a realidade
e que esconde, sob o seu manto, uma complexa reflexão a respeito do sentido das
coisas, conforme podemos observar em poemas célebres como Quadrilha e No
meio do caminho.
· O aspecto nuclear
da obra de Drummond é o da reflexão existencial. Sua poesia exprime, como
nenhuma outra no país, a angústia da alma humana frente às correntezas convulsas
do destino. A solidão, a incomunicabilidade, a lógica misteriosa da existência,
o fluir do tempo, a relação de perdas e ganhos na trajetória do homem, a luta
do ser contra a morte e a procura uma saída redentora para o indivíduo
constituem os principais motivos desta lírica filosófica. Um dos exemplos mais
conhecidos é José:
E agora, José?
A festa acabou
a luz apagou
o povo sumiu
a noite esfriou
e agora José?
e agora, você?
você que é sem nome
que zomba dos outros,
você que faz versos
que ama, protesta?
e agora, José?
XI - O ROMANCE DE
1930
(A vitória do
neo-realismo)
(Conjunto de
narrativas, escritas entre os anos de 1930 e 1960, por um mesma geração,
oriunda de famílias oligárquicas decadentes, com uma visão de mundo crítica, um
sentido missionário da literatura e padrões cartísticos bastante próximos do
realismo do século XIX).
Características:
· Ênfase nas questões
ideológicas e sociais. E não mais no projeto estético da geração de 1922.
· Rejeição ao
experimentalismo técnico e ao gosto pela paródia, substituídos por um realismo
mais ou menos trivial: retrato direto da realidade, busca da verossimilhança,
linearidade narrativa, etc.
· Tipificação social
explícita (indivíduos que representam as várias classes sociais).
· Construção de um
mundo ficcional que deve dar a idéia de abrangência e totalidade.
· Tomada de
consciência do subdesenvolvimento (atraso e miséria do país).
· Denúncia contínua
da situação opressiva vivida por camponeses e operários.
· Tentativa de
comunicação com as massas através de uma linguagem coloquial.
· Valorização da
realidade rural que levou os críticos a designarem o período como regionalista.
Os mundos narrados:
1)
Romances
de temática agrária:
A)
A
ascensão e queda dos coronéis: Banguê e Fogo morto, de José Lins
do Rego; Terras do sem fim e São Jorge dos Ilhéus, de Jorge
Amado; e O tempo e o vento, de Erico Verissimo. Estes relatos oscilam
entre a saga (exaltação com traços épicos) e a crítica mais
contundente, seja a ideológica (Jorge Amado), seja a ética (Érico
Veríssimo). No caso específico de José Lins do Rego, predomina um tom
nostálgico e melancólico diante das ruínas dos engenhos.
B)
Os
dramas dos trabalhadores rurais: Seara vermelha, de Jorge Amado; e Vidas
secas, de Graciliano Ramos. Ambos correspondem a uma impugnação da
realidade latifundiária nordestina.
C)
O
confronto entre o Brasil rural e o Brasil urbano, visível no choque entre Paulo
Honório e Madalena em São Bernardo, de Graciliano Ramos. A
obra sintetiza o descompasso entre a mentalidade patriarcal-latifundiária e a
urbana modernizada. Também de Graciliano Ramos, Angústia revela a
solidão e a destruição de Luís da Silva, descendente da oligarquia, na
teia complexa das relações citadinas.
Por outro lado, tanto
em A bagaceira, de José Américo de Almeida, romance inaugural do ciclo
de 1930, quanto em O quinze, de Rachel de Queiroz, os personagens
principais, Lúcio e Conceição – embora filhos das velhas elites
agrárias – foram modernizados pela escolarização na cidade. Por isso, acabam
questionando o horror da seca, da miséria e o atraso do latifúndio.
2)
Romances
de temática urbana:
A urbanização
ininterrupta do país levou os narradores a olhar para a nova realidade que se
constituía, fosse sob o prisma da denúncia (Jorge Amado, Amando Fontes), da
adesão crítica (Erico Verissimo) ou de uma tristeza impotente (Cyro dos Anjos).
Os núcleos temáticos abordados foram:
A)
As
camadas populares, trabalhadores e marginais: Jubiabá, Capitães de
Areia e Mar morto, de Jorge Amado;
Os Corumbas e Rua do Siriri,
de Amando Fontes.
B)
Os
setores médios (pequena burguesia): A tragédia burguesa, de Otávio de
Faria, Os ratos, de Dyonélio Machado e toda a primeira fase de Erico
Verissimo, o chamado ciclo de Clarissa.
Cronologia dos primeiros
romances de 30
1928 - A bagaceira,
de José Américo de Almeida.
1930 - O quinze,
de Rachel de Queiroz; O país do carnaval, de Jorge Amado.
1932 - Menino de
engenho, de José Lins do Rego; Cacau, de Jorge Amado; João Miguel,
de Rachel de Queiroz.
1933 – Doidinho,
de José Lins do Rego; Caetés, de Graciliano Ramos; Clarissa, de
Erico Verissimo; Os Corumbás, de Amando Fontes.
1934 - Banguê,
de José Lins do Rego; São Bernardo, de Graciliano Ramos; Suor, de
Jorge Amado.
1935 - Jubiabá,
de Jorge Amado; Música ao longe, de Erico Verissimo; Os ratos, de
Dyonélio Machado.
XIII - A Geração de
1945
Fortemente marcada
pelo fim da Segunda Guerra, pela derrubada da ditadura de Getúlio Vargas e pelo
clima de euforia daí decorrentes no país, a geração de 45 colocou em segundo plano
as preocupações políticas, ideológicas e culturais dos artistas da década de 30
e privilegiou a questão estética. Assim, a aventura da linguagem, a
preocupação com a forma e com o rigor do texto torna-se o objetivo básico desta
geração, que teve grandes expoentes tanto na poesia, quanto na prosa de ficção.
A)
POESIA
1. JOÃO CABRAL DE MELO
NETO (1920 - 1998)
Obras principais:
Pedra do sono (1942);
O engenheiro (1945); Psicologia da composição (1947); O cão sem plumas (1950); Morte
e vida severina (1956); A educação pela pedra (1966); Museu de tudo (1975).
- Sua obra se
articula como uma profunda reflexão sobre o fazer poético. A poesia é entendida
como esforço em busca da síntese, do despojamento total. Poesia é lenta e
sofrida pesquisa de expressão: "Não a forma encontrada / como
uma concha perdida (...) / mas a forma atingida / como a ponta do novelo / que
a atenção, lenta, / desenrola (...).
- Os primeiros textos
de João Cabral (Pedra do sono, O engenheiro, Psicologia da composição)
iniciam a aventura da expressão mínima e contida.
- Em O cão sem
pluma a perfeição de sua linguagem encontra uma temática: o rio Capibaribe,
com sua sujeira, seus detritos e com a população miserável que lhe habita as
margens, trágico espelho do subdesenvolvimento:
"Na paisagem do
rio / difícil é saber / onde começa o rio; / onde a lama / começa no rio / onde
a terra começa da lama; / onde o homem, / onde a pele / começa da lama; / onde
começa o homem / naquele homem."
MORTE E VIDA SEVERINA
A sua obra mais
conhecida (por causa da montagem teatral) traz como subtítulo: Auto de Natal
pernambucano.
Aqui a técnica
despojada do autor realça ainda o aspecto dramático do assunto: a trajetória de
um sertanejo que abandona o agreste, rumo ao litoral, encontrando nesta
migração apenas a morte. Severino continua seu roteiro até chegar ao Recife. Lá
percebe que a miséria continua e resolve se matar. Contudo, lhe chega a notícia
do nascimento de um menino, filho de José, mestre carpina. Severino vai
visitá-lo e descobre que aquela vida, mesmo franzina, é a prova da resistência
de todos os "severinos" do Nordeste.
E não há melhor
resposta
que o espetáculo da
vida:
vê-la desfiar seu
fio,
que também se chama
vida (...)
vê-la brotar como há
pouco
em nova vida
explodida;
mesmo quando é assim
pequena
a explosão, como a
ocorrida;
mesmo quando é uma
explosão
como a de há pouco,
franzina;
mesmo quando é a
explosão
de uma vida severina.
2.
A
POESIA CONCRETA
- A partir de 1952,
Décio Pignatari, Augusto de Campos e Haroldo de Campos iniciaram a articulação
da chamada poesia concreta, em São Paulo, numa revista chamada Noigandres.
- Reação contra a
lírica discursiva e frequentemente retórica da geração de 45, a poesia concreta
procura se filiar às experiências mais ousadas das vanguardas dos século XX.
Ela poderia ser sintetizada assim:
a)
linguagem
sintética, homóloga ao dinamismo da sociedade industrial.
b) valorização da
palavra solta (som, forma visual, carga semântica) que se fragmenta e recompões
na página.
c) o poema ganha o
espaço gráfico como agente estrutural, em função de que deverá ser lido/visto.
d) utilização de
recursos tipográficos, visuais, plásticos, etc.
ovo
novelo
novo no velho
o filho em folhos
na jaula dos joelhos
infante em fonte
feto feito
dentro do
centro
3.
FERREIRA
GULLAR
Obras principais: A
luta corporal (1954); Dentro da noite veloz (1975); Poema sujo (1976).
- Iniciou sua obra
sob os princípios da poesia concreta.
-Após romper com os
concretistas, aproximou-se da realidade popular e do pensamento progressista da
época, todo ele ligado ao populismo. Sua poesia torna-se social e, às vezes,
excessivamente politizada e prosaica.
- A publicação de Poema
sujo, em 1976, representou a superação de seus impasses temáticos e
formais.
Poema sujo é uma espécie de
síntese de Ferreira Gullar. Nele se encontram expressas todas as suas experiências
vitais em São Luís, sua aprendizagem da vida, sua visão de mundo, suas
angústias e esperanças, numa poesia ao mesmo tempo instintiva e reflexiva. Uma
poesia que incorpora as "impurezas" do mundo, ou seja, uma poesia
"suja" com os resíduos da realidade.
- Em Poema sujo,
as ideias, as sensações as lembranças e a coragem do escritor tipificam-se.
tornam-se a imagem do intelectual brasileiro que encontra a sua identidade, em
meio às primeiras crises da ditadura militar.
B)
PROSA
DE FICÇÃO
A FICÇÃO DE TEMÁTICA
RURAL:
1)
JOÃO
GUIMARÃES ROSA
Obras principais:
Sagarana (contos, 1946); Corpo
de baile (Manuelzão e Miguilim; No Urubuquaquá, do Pinhém; Noites
do sertão; novelas, 1956); Grande sertão: veredas (romance, 1956); Primeiras
estórias (contos, 1962); Tutaméia (contos, 1967); Estas estórias (contos,
1969).
Caraterísticas
básicas:
- A primeira grande
inovação do autor é da linguagem, cheia de arcaísmos, neologismos,
onomatopeias, inversões, novas construções sintáticas, etc., e que poderia ser
resumida assim:
Linguajar sertanejo +
Recriação estilística = Linguagem revolucionária.
Observe o início de Grande
sertão: veredas:
Nonada. Tiros que o
senhor ouviu foram de briga de homem, não, Deus, esteja. Alvejei mira em
árvore, no quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia isso faço;
gosto, desde mal em minha mocidade. Daí, vieram me chamar. Causa dum bezerro:
um bezerro branco, erroso, os olhos de nem ser-se viu e com máscara de cachorro.
- O mundo retratado
em suas ficções é o do sertão mineiro, um mundo imobilizado no tempo, sem
vínculos com o litoral modernizado do país e cuja principal traço é a
consciência mítica dos protagonistas. Esta consciência mágica explica o mundo
pelo sagrado e pelo fantástico. Assim, os fenômenos naturais indicam sinais de
potências misteriosas e inexplicáveis. À medida que a modernidade urbana
/capitalista avança, o mítico tende a ser dissolvido.
- A presença do
demônio em Grande sertão: veredas faz com que a narrativa se insira na
categoria do realismo mágico.
- Alguns contos de
Guimarães Rosa são célebres. Entre eles, figuram: A hora e a vez de Augusto
Matraga e O burrinho pedrês, de Sagarana; e A terceira
margem do rio, de Primeiras estórias.
Grande sertão veredas
- A temática da
"jagunçagem" e a prosa inovadora atingiriam o seu apogeu neste
romanace, que se estrutura no jogo dialético do presente e do passado.
Assim:
Plano presente:
O ex-jagunço e, hoje
fazendeiro, Riobaldo narra a história de sua vida para um "doutor" da
cidade. O "doutor" nada declara durante o discurso de Riobaldo, que
assim se converte em monólogo. Ao lado das reminiscências, Riobaldo formula uma
série de interrogações sobre o sentido da existência, a luta do Bem x Mal, a
presença real ou fictícia do demônio, etc.
Plano passado:
Focaliza as
experiências de Riobaldo como jagunço, quando realiza sua longa travessia pelo
sertão mineiro. Uma travessia exterior por um sertão objetivo, geográfica e
historicamente falando. Numa espécie de "banalidade do mal", os
bandos armados se exterminam a serviço dos grandes latifundiários. Mas como o "sertão
está em toda a parte, o sertão está dentro da gente", essa travessia torna-se
interior, levando Riobaldo ao autoconhecimento. A percepção de si mesmo surge
do contato com outros homens, em especial da dupla polarizada
Diadorim-Hermógenes. O primeiro, mulher camuflada de homem, deflagrará no
narrador o processo amoroso. O segundo – força demoníaca - representará o ódio,
o sangue e a perfídia.
Não esqueça: A obra
de João Guimarães Rosa – embora centrada no mundo sertanejo mineiro-ultrapassa pela
linguagem revolucionária e pela indagação a respeito das questões fundamentais
do homem (amor, sentido da vida e da morte, mito e razão, etc.) os parâmetros
do regionalismo, permanecendo como uma obra de valor universal.
2.
JOÃO
UBALDO RIBEIRO (1941- 2014)
Obras principais: Sargento
Getúlio (1971); Viva o povo brasileiro Sargento Getúlio.
Considerado sua
obra-prima, narra a história de Getúlio, um sargento da Polícia Militar
de um destacamento sediado em Aracaju, Sergipe. De família pobre, Getúlio
trabalha como feirante e engraxate para sobreviver, tornando-se depois soldado.
Tendo assassinado a mulher, que o traíra com outro, busca a proteção de um chefe
político de Aracaju, ao qual passa a servir como "cabo eleitoral". A
mando dele executa "vinte trabalhos" (mortes). Mesmo pretendendo
aposentar-se, aceita nova missão, a de prender, no interior, um adversário político
do chefe. Cumprida a tarefa, Getúlio começa a viagem de retorno a Aracaju,
momento em que se inicia a narração em primeira pessoa, que termina com a morte
do protagonista.
A FICÇÃO URBANA
1.
CLARICE
LISPECTOR (1926-1977)
Obras principais:
Perto do coração
selvagem (1943);
O lustre (1946); Laços de família (contos, 1960); A legião
estrangeira (contos, 1964); A paixão segundo G. H. (romance, 1964); A
hora da estrela (romance, 1977).
Características
básicas:
- É a intérprete mais
sofisticada da chamada ficção introspectiva.
- Essa literatura intimista
coloca, tanto de maneira metafórica quanto realista, as ondulações psicológicas
e estados interiores das personagens.
- No plano da
estrutura narrativa, Clarice vale-se do fluxo de consciência e do monólogo
interior.
- Sua linguagem é
excepcionalmente densa e inovadora.
A hora da estrela
Relativa exceção a
esta prosa introspectiva é a novela A hora da estrela, onde um narrador
(Rodrigo) acompanha a medíocre vida de uma jovem nordestina (Macabéia) que
vegeta em São Paulo. Feia, ignorante, humilhada pelas colegas, pelo namorado,
pela existência, ela terá o seu momento glorioso, a sua "hora de estrela",
conforme lhe profetiza uma cartomante, quando no fim do relato é atropelada e
morta por um automóvel.
2.
LYGIA
FAGUNDES TELLES (1923)
Obras principais: PCiranda
de pedra (1955); Verão no aquário (1963); Antes do baile verde (contos,1970);
As meninas (romance,1973); Seminário dos ratos (1977); As
horas nuas (1989).
- Descendente da
linha aberta por Clarice Lispector, mantém o interesse pelo movimento psicológico
das personagens. Contudo, em sua obra o mundo exterior configura-se com maior
objetividade.
- Além disso, suas
narrativas publicadas a partir da década de 1970, têm apresentado uma saudável
abertura para uma temática social e política, conforme podemos observar
especialmente em As meninas.
3.
ANTONIO
CALLADO (1917-1997)
Obras principais: Quarup
(1967), Reflexos do Baile (1975) Quarup.
- Através da trajetória
de um padre, Nando, que perde a vocação religiosa, adquirindo em troca uma
profunda consciência do atraso nacional, o autor nos mostra os fundamentos da
sociedade brasileira dos anos de 1950 e 1960.
- Ainda que a saída
ideológica de Nando pela luta guerrilheira seja equivocada, o romance apresenta
capítulos extraordinários, destacando-se a expedição que vai ao Xingu, demarcar
o ponto central do país. O contato com os índios e as conseqüentes doenças que
esses contraem são inesquecíveis e por si só legitimariam Quarup.
4.
DALTON
TREVISAN (1925)
Obras principais: Novelas
nada exemplares (1965); A guerra conjugal (1969); Cemitério de
elefantes (1970);
Os desastres do amor (1968); O vampiro
de Curitiba (1970); Faca no coração (1972); A polaquinha (novela,
1992).
- Sua obra é
basicamente composta por contos.
- Coloca Curitiba
como o cenário simultaneamente mágico e vulgar de seus relatos.
- Seus personagens
vivem em torno dos desastres do amor. Uma sucessão de desejos alucinados,
taras, compulsões, traições cruéis, crimes do coração, paixões proibidas e
infelizes compõem o seu mundo ficcional.
- Um personagem
símbolo desse mundo de paixões terríveis e solidão não menos assustadora é
Nelsinho, rapaz que vaga pela cidade em busca de sexo e afeto. Ele é o célebre
vampiro de Curitiba:
Ai, me dá vontade até
de morrer. Veja só a boquinha dela como está pedindo beijo – beijo de virgem é
mordida de taturana. Você grita vinte e quatro horas e desmaia feliz. É das que
molham os lábios com a ponta da língua para ficar mais excitante (...). Se eu
fosse me chegando perto, como quem não quer nada – ah, querida é apenas uma
folha seca ao vento – e me encostasse bem devagar na safadinha...
5.
RUBEM
FONSECA (1925)
Obras principais: Os prisioneiros
(contos - 1963); A coleira do cão (contos - 1965); Lúcia
McCartney (contos - 1970); Feliz ano novo (contos -1975); O cobrador
(contos -1980); A grande arte (romance - 1983); Buffo e Spalanzanni
(romace -1985); Vastas emoções e pensamentos imperfeitos (romance
-1988); Agosto (romance- 1990), Buraco na parede (contos –1993), Do
meio do mundo prostituto, só amores guardei ao meu charuto (novela - 1997).
- Sua carreira
iniciou-se pelo conto, gênero onde atinge o seu apogeu.
- Normalmente, suas
histórias (em especial, os romances) são apresentadas sob a estrutura da
narrativa policial. Há um crime ou um mistério a ser desvendado e vários dos personagem
principais ou são da polícia ou detetives particulares ou advogados
criminalistas.
- Um dos temas
dominantes de seus contos e romances é a violência que percorre as ruas
brasileiras, numa espécie de guerra civil não declarada.
- O outro alvo de sua
literatura é a solidão dos indivíduos nas grandes metrópoles. Quase todos os protagonistas
são opressos pela sensação de isolamento. O contato amoroso com outros seres
parece dar-se apenas no campo sexual.
- O que confere maior
verossimilhança ainda a seus relatos são a técnica e a linguagem. O escritor
sente-se à vontade nos textos em primeira pessoa, o narrador sendo ao mesmo
tempo o protagonista. Mas para cada tipo social existe uma linguagem distinta.
O assaltante tem seu código, o seu estilo, e assim o industrial, numa multiplicidade
linguística verdadeiramente assombrosa
A CRÔNICA
- Gênero literário
marcado por certa efemeridade, na medida em que registra a vida diária, os
acontecimentos que são marcantes no dia-a-dia.
- Fernando Sabino
definiu-a como a "busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada
um".
- Apresenta um
caráter jornalístico, desenvolvendo-se já no século XIX, com José de Alencar e
Machado de Assis, sob o nome de folhetim (o mesmo do romance romântico em
capítulos).
- Nas décadas de 1950
e 1960, a crônica atingiu sua culminância. Estes pequenos comentários a
respeito das coisas banais ora assumem uma tendência mais terna e lírica,
aproximando-se da poesia; ora centralizam-se na crítica humorística dos acontecimentos
e dos costumes.
A)
Crônica
lírica
1) RUBEM BRAGA
(1913-1990)
Obras principais: O
conde e o passarinho (1936); Um pé de milho (1948); O homem rouco
(1949); A borboleta amarela (1956); A cidade e a roça(1957); Ai
de ti, Copacabana(1960).
- Registro da poesia
oculta nos momentos mais triviais da vida diária.
- Evocação de amores
perdidos e do tempo que flui.
- Celebração da
beleza geográfica, humana e artística do Rio de Janeiro, ainda que com certa
dimensão melancólica.
B)
Crônica
de Humor
Tradicional dentro do
jornalismo brasileiro, a crônica de humor sempre teve larga aceitação. Poderia
ser dividida (um pouco arbitrariamente) em crônica de humor leve - visando
sobremodo o riso - e a crônica satírica, na qual o deboche atinge instituições
ou figuras públicas. No primeiro grupo poderíamos destacar o nome de Fernando
Sabino. No segundo, Lima Barreto foi um precursor genial e sarcástico,
fulminando as elites intelectuais e burocráticas do Rio, na República Velha,
através dos ferinos comentários de Bruzundangas (o Brasil).
1.
Fernando
Sabino (1923 - 2004)
Obras principais: O
homem nu (1960); A mulher do vizinho (1975).
- O humor jovial e
divertido é a marca do cronista. Muitas de suas crônicas são pequenas histórias
de final surpreendente, os que as aproxima do conto.
Não esqueça: Fernando
Sabino tornou-se o romancista de toda uma geração ao escrever O encontro
marcado (1956). Acompanhando a crise existencial, sexual e ideológica de
três jovens em Belo Horizonte do pós-guerra, construiu um quadro simultaneamente
inocente e dramático das esperanças, frustrações e vida cotidiana dos jovens
de classe média.
2.
Luís
Fernando Verissimo (1936 - 2011)
Obras principais: O
popular; Ed Mort; O analista de Bagé; O gigolô das
palavras (1986); Comédias da vida privada; Comédias para se ler
na escola (2001).
- Criador de tipos
risíveis que entram no anedotário brasileiro: o analista de Bagé, o fracassado
detetive Ed Mort e a Velhinha de Taubaté.
- A consolidação do
sucesso de público veio com a publicação das Comédias da vida privada.
São crônicas de humor retratando as contradições amorosas, sexuais,
espirituais, geracionais e econômicas das classes médias urbanas, com seus
pequenos dramas existenciais que se prestam mais ao humor do que à tragédia
humana.
XV O Teatro Contemporâneo
1)
Nelson
Rodrigues (1912-1981)
Principais peças:
O crítico Sábato
Magaldi estabeleceu uma divisão temática das peças:
Peças psicológicas (Vestido
de noiva - Viúva, porém honesta, etc).
Peças míticas (Álbum
de família - Senhora dos afogados).
Tragédias cariocas (A
falecida - Beijo no asfalto - Os sete gatinhos - Boca de
ouro - Toda a nudez será castigada, etc).
- Segundo Magaldi: "As
peças psicológicas abordam elementos míticos e da tragédia carioca. As peças
míticas não esquecem o psicológico e nelas aflora a tragédia carioca. Já a tragédia
carioca assimilou o mundo psicológico e mítico da obra rodrigueana."
Vestido de noiva
- Em 1943, a
encenação de Vestido de noiva renovou por completo as bases formais e
ideológicas do teatro brasileiro.
- Nesta obra, a
linguagem de Nelson Rodrigues revelava uma dimensão coloquial sem precedentes.
- O aspecto renovador reside conjuntamente no fato do autor tornar-se o
cronista dos traumas morais e sexuais da família
tradicional. Seus
personagens mantém uma conduta de aparente normalidade, mas, nos desvãos da
sociedade, cometem uma série de crimes, quase todos vinculados ao comportamento
sexual.
A história se passa
em três níveis:
a)
(realidade)
Atropelada, uma jovem senhora, Alaíde, é operada num hospital.
b)
(alucinação)
A moribunda divaga, encontrando, em seu delírio, Madame Clessi, famosa
prostituta do início do século, assassinada pelo amante adolescente, e de quem
Alaíde, no plano real, tinha um diário de confidências.
Nesta atração,
condensam-se todos os desejos reprimidos de Alaíde, entediada de seu marido, Pedro.
c) (memória) Revela-se, pouco a pouco,
que Alaíde roubara Pedro de sua própria irmã, Lúcia. A consciência culpada
leva-a imaginar cenas de traição entre Pedro e Lúcia. No final, Alaíde morre e
Lúcia, após período de hesitação, resolve casar-se com Pedro.ntes.
- O aspecto renovador reside conjuntamente no fato do autor tornar-se o
cronista dos traumas morais e sexuais da família
tradicional. Seus
personagens mantém uma conduta de aparente normalidade, mas, nos desvãos da
sociedade, cometem uma série de crimes, quase todos vinculados ao comportamento
sexual.
A história se passa
em três níveis:
a)
(realidade)
Atropelada, uma jovem senhora, Alaíde, é operada num hospital.
b)
(alucinação)
A moribunda divaga, encontrando, em seu delírio, Madame Clessi, famosa
prostituta do início do século, assassinada pelo amante adolescente, e de quem
Alaíde, no plano real, tinha um diário de confidências.
Nesta atração,
condensam-se todos os desejos reprimidos de Alaíde, entediada de seu marido, Pedro.
c) (memória) Revela-se, pouco a pouco,
que Alaíde roubara Pedro de sua própria irmã, Lúcia. A consciência culpada
leva-a imaginar cenas de traição entre Pedro e Lúcia. No final, Alaíde morre e
Lúcia, após período de hesitação, resolve casar-se com Pedro.
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