Claudia
Spieker Azevedo, Mestra em Psicologia
Sabemos que
as crianças brincam desde os tempos mais remotos de nossa história. Brincam de
casinha, de professora, de cuidar de bebês, com os carrinhos, constroem torres
e tantas outras situações. Mas por que o brincar povoa tão intensamente o
cotidiano infantil? As crianças brincam para compreenderem o mundo que as
cerca. Verificamos, no contexto da educação infantil, que para compreenderem o
mundo adulto fazem uso de alguns objetos, transformando-os de acordo com suas
necessidades, para representar situações já vivenciadas ou pessoas de seu
convívio.
Segundo
Moyles (2002) o brincar também possibilita que o cérebro se mantenha ativo. Ao
brincar o participante sente-se desafiado a dominar o que já lhe é conhecido,
como também busca investigar o que de novo a situação lhe propõe. Em função
disso, o brincar, em todas as idades, é realizado por prazer possibilitando uma
atitude positiva diante da vida.
Mas qual o papel
do professor em relação brincar de seus alunos? Encontramos, no meio
educacional, uma forte tendência em valorizar a observação das brincadeiras
infantis, muitas vezes, como um fim em si mesmo. A observação é fundamental
para que os professores possam compreender as necessidades das crianças, o seu
nível de desenvolvimento e sua forma de organização e, assim para planejarem a
sua ação educativa, ou seja, é um importante meio para sustentar a intervenção
pedagógica e garantir uma aprendizagem significativa.
Dentro desta
perspectiva, o professor é um mediador entre a atividade de seus alunos e os
recursos disponíveis e deve garantir, através de suas ações, que a aprendizagem
de seu grupo seja contínua. Para tanto, precisa oferecer uma variedade de materiais
adequados às necessidades observadas, como também alternar situações de brincar
livre com situações de brincar dirigido.
Observamos
que as crianças pequenas, por exemplo, nas primeiras explorações do
"Legão" (jogo de encaixe com peças grandes) pegam esse material e
colocam na boca, atiram no chão, sentam em cima, enfim realizam diversas
explorações. Na medida que a professora senta junto e brinca, encaixando
algumas peças, construindo estradas e torres o grupo começa a buscar realizar
tais ações. Essas ações passam, então, a fazer parte do repertório desse grupo
gradativamente em situações posteriores. O mesmo acontece quando as crianças
começam a jogar memória. Inicialmente envolvem-se em olhar os desenhos,
constroem pilhas com as peças, fazem trilhas para os bonecos percorrerem e
outros. Porém ao se familiarizarem com a dinâmica do jogo passam a buscar uma
"forma" de jogar, mesmo que ainda nas primeiras tentativas não
respeitam as regras convencionais. Muitas vezes, o professor pode optar em
simplesmente achar as figuras iguais que estão viradas para cima.
De acordo com
a autora já citada, o planejamento de situações de brincar com a participação
do professor possibilita uma ampliação das possibilidades de interação de seus
alunos com o material utilizado e, desta forma, permite que nas situações de
brincar livre posteriores novas condutas sejam utilizadas pelas crianças de
forma espontânea, levando-as a um estágio mais avançado.
O processo do brincar é cíclico, sendo
representado através de uma espiral.
Longe de ser
uma atividade supérflua, para o "tempo livre...” o brincar, em certos
estágios iniciais, pode ser necessário para a ocorrência e o sucesso de toda a
atividade social posterior.
Bibliografia:
MOYLES, Janet R. Só brincar? O papel do brincar na educação infantil. Porto Alegre: Artmed Editora, 2002
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