Sabemos que a construção do conhecimento sobre a língua escrita é
um processo ativo, porém quando se fala na criança como sujeito deste processo,
não se está querendo dizer que ela aprenderá a ler sozinha, sem ajuda alguma.
Mas, sim, que a maioria das crianças já entra na escola com algumas hipóteses
sobre a leitura/escrita; e, também, que não receberão e memorizarão informações
que automaticamente farão com que leiam e escrevam.
Há todo um processamento destas informações, a partir da própria atividade de
cada um, face ao novo objeto de conhecimento, além do que, essencialmente, a
criança procura sentido naquilo que lê.
Entendendo como são construídos os conhecimentos a respeito da língua escrita e
a própria natureza e complexidade que a mesma oferece, talvez seja mais fácil
para o alfabetizador organizar um trabalho sistemático para ajudar a criança a
se alfabetizar.
Não é interessante trabalhar baseando-se no espontaneísmo das descobertas ao
acaso. É preciso um trabalho planejado para levar o alfabetizando a realizar
tais descobertas, cabendo ao professor criar e estimular situações e que elas
possam vir a ocorrer.
Diferentes concepções do processo de alfabetização levam ao uso de variados
métodos.
Se a alfabetização for considerada como uma associação mecânica de sons e
letras, a ênfase destes métodos recairá no treino das percepções auditiva e
visual e das habilidades motoras.
Normalmente, as diferentes cartilhas tentam levar os alunos à descoberta da
estrutura da língua escrita, sem se preocupar com o conteúdo por ela veiculado.
Desta forma, a escrita é introduzida de modo artificial, com frases que não têm
sentido algum para quem as lê, servindo apenas como exercícios de adestramento.
Nem sempre se forma o leitor, mas meramente um decifrador de sinais impressos.
Se for considerada a atividade cognitiva da própria criança, procurar-se-á
levá-la a ter oportunidade de conviver e usar a escrita para chegar à
"compreensão" da sua estrutura, entendo-se a língua escrita não como
um mero código de transcrição dos sons da fala, mas como um sistema de
representação da linguagem, servindo para comunicar idéias e sentimentos, por
meio de símbolos.
A ênfase recairá na compreensão da leitura e não mais na decodificação de
sinais. A palavra escrita remete diretamente ao sentido.
Sob este ponto de vista, é preciso que a criança tenha experiências com textos
escritos, antes de observar, analisar e combinar letras e sílabas.
É importante que sejam proporcionadas oportunidades do uso da escrita de forma
significativa, de tal modo, que o alfabetizando possa explorar os vários usos
do material gráfico.
Quanto mais material de leitura for criado pelo professor e seu grupo de
alunos, mais sentido terá para quem dele se utilizar. Em vez dos textos
estereotipados das cartilhas, por que não aprender a ler usando textos de
revistas, poemas, cartazes, listas de coisas que interessem aos alunos,
histórias em quadrinhos, placas com nomes de ruas, avisos, manchetes de
jornais, livros de literatura infantil, cartões com os nomes dos alunos?
É importante que o alfabetizando perceba o uso social da escrita e não a veja
apenas como algo escolar, a partir de textos desligados da realidade, visando,
apenas, à decifração de sinais.
O leitor se formará a partir das próprias concepções que a criança tem a
respeito do que são e para que servem a leitura e a escrita, facilitadas ou não
pelo modo como a escola as insere no domínio deste novo conhecimento.
Referências bibliográficas:
- Ferreiro,
Emilia. Com todas as letras. SP, Cortez, 1992.
- Ferreiro
e Teberowsky. A psicogênese da língua escrita. Porto Alegre, Edit.Artes
Médicas, 1985.
- Ferreiro,
Emília. Reflexões sobre alfabetização. S.P. Cortez, 1988 / Ferreiro, e
Palácio. Os processos de leitura e escrita. Porto Alegre, Artes Médicas,
1987.
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